Foi, foi, foi, mas acabou não 'fondo'
Opinião de Walter Falceta
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Aconteceu com você também? Ontem à noite, confesso que deitei decidido a dormir logo. Afinal, tinha trampo pela manhã. Mas demorei pacas até dormir, envenenado com a derrota lá no Antônio Accioly.
Aí, nessas horas, sem autorização, liga-se o computador da memória de historiador. Era para a gente conseguir o tetra paulista em 1925. Foi, foi, foi, e acabou não "fondo" com a derrota para o Paulistano.
Esse "fondo", invenção gramatical divertida, vem do folclore futebolístico, em frases atribuídas a diversos craques do passado. Recordo dessa máxima popular sempre que me abalo com um fracasso.
Bem, falamos de 1925. Mas, em 1943, aconteceu de novo, um pontinho do São Paulo. Em 1946, mais uma frustração, um pontinho. E foi assim também em 1955, atrás do Santos. Sofremos uma derrota inexplicável, no Paca, para o Guarani. E esses pontos nos tiraram o título.
Fizemos timaços em 1967 e 1969. Parecia que ia, ia, ia, mas acabava não indo. De novo, em 1972, no Brasileirão, naquete terrível jogo contra o Botafogo, no Maracanã. E no Paulista de 1974, contra os palestrinos.
Em 1987, não ia, não ia, não ia; até que foi, foi, foi, mas acabou não fondo. Em diversas competições, aconteceu o mesmo, em 1993, 1994, 1999, 2000, 2001, 2010...
É evidente que há casos semelhantes em outros clubes. Ninguém eterniza favoritismo e boa fase não dura para sempre. Mas é notável nossa quantidade de malogros em fases decisivas. Meu pai sofreu tremendamente por 1967 e 1969, por exemplo. Arrancou os bigodes diante do rádio. Como era destro, pelava só o lado direito. Mais de uma vez, minha mãe precisou igualar na tesourinha.
Com a "modernidade", a partir do início da segunda década do novo milênio, a promessa era estabelecer hegemonia. E não era arrogância. Era o inevitável.
Afinal, o clube mais poderoso, com mais torcedores no estado mais rico da federação, precisa ter uma esquadra que sempre dispute o título. As regras de ciclos não devem servir para agremiações ricas e de multidão, como o nosso Coringão, dono de ativos tangíveis e intangíveis fabulosos.
Infelizmente, não é o que se tem visto por aqui, com oscilações injustificáveis, especialmente após 2017. Há anos, por exemplo, que vivemos de uma cultura tática de espera, reativa, sem marcar a saída do adversário. Ou não?
Entra técnico e sai técnico, e parece que esse costume está enraizado no departamento de futebol do clube, passando de uma leva a outra de jogadores.
Assim como é triste ver essa folclorização conformista das derrotas para clubes pequenos. Como ocorreu depois de se perder para um time que vinha de cinco derrotas seguidas. "Ah, o Corinthians é assim mesmo", como se fosse uma sina irremediável, da qual não pudéssemos fugir.
Também incomoda essa naturalização das derrotas para clubes inexpressivos nas fases de mata-mata da Libertadores, especialmente em casa. É o pensamento fatalista: "é desse jeito mesmo, não há o que se fazer". Como se a gestão eficiente e eficaz não pudesse lutar contra as tais forças sobrenaturais anticorinthianas.
Talvez seja preciso desfolclorizar e desnaturalizar os rituais de fracasso e analisá-los do ponto de vista da gestão. O que deu certo em 1914? Em 1916? Em 1930? Em 1954? Em 1983? Em 2012?
E rever erros organizacionais, estratégicos e de governança que nos meteram nos 9 anos de jejum (década de 1940), nos 22 anos de jejum (1974 a 1977) e nos tempos atuais, de oscilações, eliminações inacreditáveis, dívidas imensas, contratações erradas e descontinuação de protagonismo.
Muito vai da cabeça de certo torcedor médio, que é a mesma dos velhos cartolas. "Ah, perdemos, f..a-se, vamos tentar ganhar no próximo campeonato". É, pois, uma transição feita sem que se reflita sobre o fracasso.
O que nos leva a ter tantos resultados negativos recentes contra o Atlético Goianiense, por exemplo? É coisa do outro mundo? É a intervenção do além?
Uma opção de conduta é negar a ciência dos números, da administração, da psicologia, da medicina esportiva... A alternativa é pensar em como lidar estruturalmente com tudo isso, de forma profissional, e vencer esse nosso falso e mais frequente adversário: o acaso.
Vai, Corinthians!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.