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Arquivamento de caso de ato machista de conselheiro vai de encontro com o 'Respeita as Minas'
Ana Paula Araújo

Engenheira de formação, mas corinthiana de alma. Deixei a profissão para fazer parte dessa família desde 2013.

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Arquivamento de caso de ato machista de conselheiro vai de encontro com o 'Respeita as Minas'

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Arquivamento de caso de ato machista de conselheiro vai de encontro com o Respeita as Minas

Campanha 'Respeita as Minas' estampou camisas e bandeiras no estádio

Foto: Divulgação/Corinthians

Em novembro de 2021, veio a público uma conversa de WhatsApp em que o conselheiro do Corinthians, Manoel Ramos Evangelista, o Mané da Carne, praticou um ato machista contra a também conselheira Analu Tomé. Na última quarta-feira, o Corinthians, através de uma comissão de ética, resolveu arquivar o caso.

Para mim, isso é uma enorme hipocrisia vinda do clube que alavancou a campanha "Respeita as Minas". Ora, onde mesmo as minas são respeitadas? No Corinthians não são.

A própria ofendida já desistiu da causa.

"Não vou recorrer porque é um desgaste muito grande pra mim, né? Me desgastar com esse tipo de coisa. Eu fiz o que deveria ser feito e eu não vou recorrer porque eu sei que não vai dar em nada" É totalmente incoerente a decisão, é incoerente e é hipocrisia. Porque o Corinthians tem a hashtag respeita as minas, mas de fato não leva isso ao pé da letra. Na verdade é um jogo de marketing ligado ao futebol feminino, apenas. Mas dentro do Corinthians, com as conselheiras, com as mulheres corintianas ainda tem o desrespeito", disse Analu.

É comum isso, infelizmente. As mulheres buscam seus direitos e são freadas pelo sistema. Não é só no futebol. É também nos lares, no trabalhos e na sociedade como um todo.

O Corinthians tinha e tem todas as armas para ser precursor de um movimento nunca visto antes em prol da igualdade de gênero, mas, obviamente, prioriza apenas engajamento em redes sociais. Só o fato de apenas se importar com o marketing é uma forma de conivência com o machismo já que usa de causas sérias para autopromoção. "Passar pano" para atitudes, então, evidencia o quanto os dirigentes do Corinthians se importam com isso de fato.

Uma vergonha para o clube que carrega o futebol feminino mais forte do país e da América.

Para quem não sabe, o Corinthians segue sendo líder do Ranking Nacional de Futebol Feminino, segundo a CBF. Veja:

1 – Corinthians (11.360)
2 - Ferroviária (8.952)
3 - Avaí/Kindermann (8.632)
4 - Santos (8.568)
5 – Flamengo (8.112)
6 - São José (7.624)
7 - Internacional (7.128)
8 - Minas Brasília (6.696)
9 - Grêmio (6.632)
10 - São Paulo (6.600)

De se orgulhar, não? Melhor ainda se a postura interna fosse digna de orgulho. Se os atos fossem condizentes com os discursos.

O Corinthians não é apenas um time de futebol, sempre foi e sempre será agente modificador. Sócrates reconhecia isso.

“O Corinthians é muito mais que um clube de futebol. O Corinthians é uma religião, é uma grande nação, mas muito mais do que isso, o Corinthians é uma voz, o Corinthians é uma força, é uma forma de expressão que a sua população tem. Num país em que os mais fracos social, política e economicamente não têm voz nunca, neste caso têm. Através do Corinthians, eles conseguem se manifestar, quer dizer, a torcida corinthiana utiliza o seu clube, o seu time, a sua expressão física, como forma de contestação de tudo aquilo que não lhe é dado de direito”, disse o ex-jogador.

A fala do ex-diretor de marketing do Timão, Luis Paulo Rosenberg, ainda em 2019 vai de encontro com as atitudes tomadas recentemente pelo clube:

"O Corinthians assumiu a causa da defesa das mulheres com toda a intensidade e vocês vão ver o que vamos aprontar em março (Dia Internacional da Mulheres)", afirmou na época.

Oi? Tudo bem que isso foi em outra temporada, com outros dirigentes, mas se o clube não tinha intenção de dar continuidade séria à campanha, que abdicasse de usar a hashtag e, consequentemente, de colher os frutos que ela gera.

Está na mais do que na hora do Corinthians assumir seu papel na sociedade, mas fazer isso de verdade, não apenas buscando likes, cliques e engajamento.

Veja mais em: Corinthians Feminino.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Ana Paula Araújo

Engenheira de formação, mas corinthiana de alma. Deixei a profissão para fazer parte dessa família desde 2013.

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