Carta ao meu futuro filho: eu vi o Corinthians ser campeão no Japão em 2012
Opinião de Vitor Chicarolli
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Querido filho,
O ano era 2012. Você pode não acreditar, mas foi a primeira vez que conquistamos a Copa Libertadores. Foi um período difícil para a torcida do Corinthians, sofríamos todo tipo de brincadeira possível. Não era fácil ser corinthiano.
Pois bem. Minha ida ao Japão começou uns meses antes, em julho de 2012. Eu tinha 15 anos e sempre ia aos jogos no Pacaembu com meu pai. Porém, não conseguimos ingresso para a grande decisão continental contra o poderoso Boca Juniors.
Foi um baque, mas ali já veio uma promessa de que não mediríamos esforços para atravessar o mundo se o troféu mais cobiçado da América viesse. E veio! Assim, o visto logo foi tirado e as passagens compradas. A mala, claro, só com roupas do Timão. Enfim, estávamos prontos para ir ao Mundial de Clubes da Fifa.
Eu e meu pai embarcamos no dia 8 de dezembro, um sábado, e chegamos em Tóquio quase 40 horas depois, considerando escalas e o voo extremamente desgastante.
Logo de cara, já deu pra ver que o Japão era muito diferente do Brasil, mas uma situação me fez sentir em casa: a quantidade de corinthianos. Filho, era impressionante... Em todo lugar tinha ao menos um grupo de torcedores, que só precisavam se encontrar para começar a ter "Vai, Corinthians" para todos os lados de Tóquio.
O japoneses não entendiam o motivo da farra, mas se divertiam com a Fiel. Eram gravações de músicas entoadas em shoppings, praças, no metrô e uma curiosidade em entender o motivo que levou cerca de 30 mil torcedores até o Japão para acompanhar apenas dois jogos.
Um certo dia encontrei um policial japonês que conseguia arranhar um bom português. Quando expliquei o fanatismo da torcida do Corinthians, ele não se segurou e começou a chorar na nossa frente. Sem dúvidas foi um dos momentos mais marcantes da trip.
A viagem, é claro, teve muita situação memorável na parte do turismo. Andei de trem-bala, conheci o imponente Monte Fuji, vi como era estranho a direção do carro ser do lado direito e também guardei comigo a beleza daquele país, tanto das paisagens quanto da educada e respeitosa população.
No entanto, a melhor parte foi de fato a invasão. A festa proporcionada na fria cidade de Toyota na semifinal contra o Al Ahly foi só um esquenta do que estava por vir. Como você já sabe, vencemos os egípcios de forma sofrida e carimbamos vaga na grande decisão.
A ansiedade tomou conta nos últimos quatro dias que antecederam o jogo contra o milionário Chelsea, campeão da Liga dos Campeões da Uefa. Estava hospedado no Okura Hotel, em Tóquio, e, na tarde do domingo, enfrentamos uma viagem de duas horas de ônibus até Yokohama, que naquele dia 16 de dezembro poderia ser Itaquera.
Corinthianos chegavam de todos os lados. De verdade, eu me senti na Praça Charles Miller, no Pacaembu. Os ônibus que se aproximavam do estádio estavam tomados por bandeiras e torcedores para fora das janelas, entoando músicas de arquibancadas.
A aglomeração em frente ao Yokohama Stadium jamais será esquecida. Gritos como "Fuck you Chelsea" e "Vamos Corinthians, esta noite teremos que ganhar" me marcam até hoje. Não tem como esquecer!
Um bando de loucos estava ali, reunido do outro lado do mundo para representar 30 milhões de torcedores. Sabíamos que não seria fácil, até porque nunca foi. Mas todo mundo que estava ali, naquele momento, sabia que precisava cantar alto, durante os 90 minutos, para empurrar o maduro time de Tite. Os jogadores dependiam da força da arquibancadas e não podíamos decepcioná-los, não depois do que eles fizeram no primeiro semestre de 2012.
O hino da Fifa tocou, a bola rolou e a história do jogo você já deve estar cansado de ouvir. Vencemos por 1 a 0 com gol do peruano Paolo Guerrero, um dos meus grandes ídolos e responsável pela maior emoção da minha vida até você nascer. E sim, fomos melhores. Cássio brilhou, assim como toda a equipe.
Acredito que muito amigo seu já subestimou a invasão, mas não dê ouvidos para isso. Eu vi. Ao todo, 68.275 pessoas estavam no estádio. Chutando baixo, ao menos 30 mil eram definitivamente corinthianos.
E esses torcedores sofreram, cantaram e se emocionaram, assim como todos que ficaram no Brasil. O apito final foi uma consagração, uma realidade que parecia não existir. Foi a primeira vez que vi meu pai chorar, mas ali não tinha como. Todo mundo se ajoelhou e agradeceu, pois todos sabiam da importância da torcida. Não tinha como perder com toda aquela festa.
O Japão estremeceu!
Até hoje eu não acredito. Não tinha dimensão do quanto esse título foi histórico na época. Ver um estádio no Japão - com mais de 30 mil corinthianos - cantando o hino do Corinthians não tem preço. Tá aí um vídeo que vou precisar mostrar pra filho, neto e todo mundo. #MeuTimao pic.twitter.com/qgQyRWQyDP
— Vitor Chicarolli (@VitorChicarolli) May 17, 2020
Te deixo um conselho: não tente explicar o seu sentimento para algum torcedor rival. Não quero ser muito "romântico" e clichê, mas o Corinthians é diferente. A união da torcida é diferente. Basta você encontrar uma pessoa na rua com a camisa do Corinthians que já há uma ligação, já há uma irmandade.
O time do povo conquistou o mundo e, pelo menos naquele momento, tocou o céu. Vai ser difícil uma viagem superar o Japão, assim como vai ser difícil algum jogo superar a final do Mundial de Clubes de 2012 para mim.
Quando escrevi essa carta, nem sequer planejava sua existência, mas tenho certeza que guardará todas essas palavras com muito carinho. Afinal, você ficará enjoado de ouvir eu falando sobre isso. De qualquer forma, saiba que você pode ter tudo aquilo que deseja, basta acreditar.
Falar do Japão sempre vai ser diferente, é emocionante. Eu amo o Corinthians!
Atenciosamente, Vitor Chicarolli Domingues, seu pai.
16 de dezembro de 2020.
Registros da minha ida ao Japão
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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