Todo mundo tem culpa pela contusão do Paulinho
Opinião de Juliano Barreto
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O joelho do Paulinho estourou não apenas por causa da entrada desproporcionalmente forte do jogador do Fortaleza. Todas as condições precárias que envolvem o futebol “profissional” no Brasil foram tão culpadas pela contusão quanto a pancada e subsequente tombo que rompeu os ligamentos do volante.
Paulinho foi vítima do calendário bizarro do futebol brasileiro, onde se faz força para desvalorizar o espetáculo. Jogando mais e mais vezes, priorizando sempre a quantidade e não a qualidade.
Apesar da repetitiva discussão todo ano, os Estaduais continuam longos, as pré-temporadas continuam curtas, e os times que se classificam para a Libertadores tem que se virar para acomodar viagens e partidas em locais sem nenhuma estrutura. Que outro campeonato do mundo anuncia a tabela semanas antes do início dos jogos?
Como sabemos, culpar o calendário, essa entidade invisível, não resolve nada. Quem concorda com o calendário são os dirigentes do Corinthians. Os mesmos que não se importam em esconder os jogos da torcida no pay-per-view, em cobrar cada vez mais caro pelos ingressos, em concordar com horários aleatórios e em fazer qualquer negociata para pegar mais alguns centavos das quotas de patrocínio.
Paulinho se machucou na Arena, mas, antes disso, teve que ralar a bunda em campos de várzea na Bolívia ou no interior de São Paulo quase toda semana. Decisão tomada pelos mesmos dirigentes que topam jogar em estádios com gramados péssimos e disputar uma primeira fase da Libertadores sem VAR.
Se bem que no Brasileirão, com VAR e tudo, esses mesmos dirigentes não tem moral para cobrar a profissionalização da arbitragem. Não tem moral sequer para impedir que equipes de arbitragem amadoras apitam jogos do Corinthians. Willian apanha em todo jogo e nada muda. Nem tudo está na conta dos cartolas, porém.
A torcida também tem sua parcela de culpa, por jamais entender que às vezes é necessário dar dois passos para trás, antes de dar um passo para frente. Um jogador como Paulinho, que ficou inativo por vários meses, não tinha condições de começar a jogar tão rápido.
Mas que torcedor prefere uma transição gradual e segura ao campo ao invés de ter um reforço de grife toda quarta e domingo, de preferência entregando resultados imediatos, como se tivesse 23 anos e não 33?
Que torcedor vai evitar criticar o treinador quando ele escalar jogadores em formação como Roni e Xavier, em vez de Paulinho para começar um jogo?
Com certeza não será o mesmo torcedor impaciente que considera uma derrota em clássico na primeira fase do Paulistão um apocalipse. Com certeza não é o torcedor que espera que o Corinthians com seu mais de 1 bilhão em dívidas seja capaz de montar um elenco para jogar um futebol moderno, ofensivo e veloz, nos moldes de um Liverpool ou de um Manchester City.
Óbvio que contusões como a do Paulinho podem acontecer mesmo em um futebol gerido com impecável profissionalismo. Todo final de semana, atletas se machucam na Premier League, NFL, na NBA ou em qualquer outra liga que tem mecanismos melhores para proteger a integridade física das suas estrelas.
O ponto aqui não é apenas ver a contusão do Paulinho como um acidente, e sim como uma tragédia anunciada. Uma tragédia que não vai demorar para se repetir. Não é preciso nem de azar para que a cultura do futebol brasileiro continue a matar o próprio futebol brasileiro. É peso demais para colocar no joelho do Paulinho.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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