Não questiono a competência do técnico Vitor Pereira. Afinal, ele já venceu em ao menos três clubes de países completamente diferentes. Mas quero aqui nesse post apresentar um ponto que vem passando despercebido.

Até agora, não vi ninguém falar sobre o que vou escrever aqui. As análises do trabalho do VP têm focado na relação dele com os jogadores (possível boicote), ou com fragilidade técnica etc. Penso que isso até pode estar acontecendo, mas não sei se é o principal motivo da falta de encaixe do nosso time.

Pois bem. Eu fui analisar a carreira do VP e cheguei à seguinte conclusão: ele é um excelente técnico. Mas é um excelente técnico de continuidade de bons trabalhos.

Explico. É muito simples analisar a carreira de um técnico. Os números estão aí. São públicos. E os melhores trabalhos de VP foram em Porto (11-12), Olympiacos (14-15) e Shanghai (18-19). Os títulos nesses três clubes foram extensos:

E o que esses três trabalhos têm em comum? Em dois deles (Porto e Shanghai), VP deu continuidade ao trabalho de André Villas-Boas. Inclusive, VP era treinador adjunto (auxiliar) de Villas-Boas no Porto. São amigos de longa data. E Villas-Boas fez um trabalho muito bom no Porto, antes de entregar o time nas mãos de Vitor Pereira. Aqui, enumero os títulos vencidos durante o período em que Villas-Boas esteve no comando do Porto (VP era auxiliar dele no período):

No Shanghai, a passagem de Villas-Boas não foi tão boa como no Porto. No entanto, entregou nas mãos de VP um time vice-campeão do Campeonato Nacional e vice-campeão da Copa da China. VP deu sequência ao bom trabalho desenvolvido e conquistou dois títulos.

Fui analisar o terceiro trabalho em que VP teve sucesso: Olympiacos (14-15). Nesse período, VP conduziu o time em pouco mais de 20 jogos e conquistou 2 títulos em 6 meses. Ao final, saiu do clube para treinar o Fenerbahce (15-16). O treinador anterior do Olympiacos era um espanhol, conhecido como Míchel. Reparem nas conquistas:

Ou seja, VP recebeu um time também organizado e campeão. E fez um bom trabalho de continuidade.

Já conseguiram perceber o padrão? Nos três melhores trabalhos de VP, os clubes que ele recebeu se encontravam minimamente organizados, com elenco já fechado. E o treinador português foi muito bem e executou (com méritos) um bom trabalho de continuidade.

O problema é que o Corinthians de hoje foge desse padrão. O nosso time precisa ser construído. Diversos jogadores estão chegando. Não temos uma ideia clara de jogo. Precisamos de um técnico que saiba montar times. Então, fui analisar os outros trabalhos de VP.

Num deles, Fenerbahce (15/16), VP foi contratado para fazer exatamente o trabalho que tem feito hoje no nosso clube. E qual foi o resultado? Zero títulos e uma saída conturbada com direito a rixa junto à direção do clube e acusações mútuas de ambos os lados. Deixo aqui a versão do clube:

No Al Ahli (13-14), ficou cerca de um ano no clube. Conseguiu alcançar o terceiro lugar no campeonato local (20 pontos atrás do líder). Ao final, alegou questões familiares e optou por não continuar:

No 1860 München (17), VP fez de longe o pior trabalho da sua carreira. Sob seu comando, o clube caiu da segunda para a terceira divisão do futebol alemão. E ao final, saiu do clube de forma conturbada. Até hoje, VP critica os jogadores que estavam no clube naquela época:

O que esses trabalhos têm em comum? Todos exigiam que um time fosse construído do zero, durante uma temporada (1860 München) ou antes dela (Fenerbahce e Al Ahli). Times cujo treinador teria que dar um DNA próprio. Organizar um time do zero. Quando isso precisou ser feito, o português não conseguiu executar bons trabalhos.

Penso que o Corinthians de hoje exige um técnico que saiba construir equipes e empreender um DNA próprio. Na minha opinião, VP teria sido um excelente técnico para o Corinthians de 2010 e de 2016. Mas talvez não seja o técnico ideal para o Corinthians de hoje.