Em foi ali, no ano de 1910, sob a fraca luz de uma lamparina localizada no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, que nascia um dos movimentos mais populares da história do país, formado por imigrantes, que em sua maioria se amontoavam em cortiços e trabalhavam arduamente dia e noite. Os pobres, os oprimidos da época. Não havia ali a bandeira do Brasil, bandeira de partido, bandeira comunista, muito menos um sentimento nacionalista. Havia Corinthians.

De suas raízes humildes, cresceu um troco forte, com muitos galhos, que, assim como a mais alta árvore que existia no que logo seria chamado Parque São Jorge, alcançavam o que ninguém havia alcançado antes. A inclusão dos jogadores negros, a veia solidária, a luta pela igualdade e depois, não menos importante, pela democracia.

Me desculpem os mais jovens, mas foi isso que fez o time dos maloqueiros sofredores ser o que é hoje, os títulos, que tanto nos colocaram sob os holofotes do mundo, são meras consequências daquele movimento iniciado sob a luz da lamparina.

Agora uma onda de pessoas que simpatizam com o clube, enchem os fóruns com mensagens pedindo – e até ordenando - que o Corinthians não se vincule à política. Vi gente até falando que a Democracia Corinthiana foi uma “palhaçada” de um time que não ganhou nada. Triste.

Se você chegou até essa parte do texto, essa é a hora que eu conto que sempre fui contra todo o emparelhamento do Estado, da corrupção em governos anteriores e de extremismos em geral. Tenho vergonha do relacionamento do atual presidente do Corinthians, com o lula, por exemplo. Nem mesmo nunca votei em um partido de esquerda - e também não carrego a culpa de ter votado no atual representante.

Tenho muitas ressalvas à Gaviões e já falei aqui em outros tópicos. Não são Santos, nem de longe. No último domingo caíram na pilha errada ou provocaram primeiro (não sei) e o que era pra ser um ato de união das torcidas pela democracia, virou uma batalha. Fora o mau exemplo das aglomerações em tempos de COVID. Um prato cheio para os nossos “nacionalistas da família de bem”. Isso é mais uma mancha num currículo memorável deles.

Mas eu realmente acho muito engraçado quando dizem, “manifestantes protestavam pela democracia e o outro grupo manifestava em apoio ao presidente”. Tente um exercício agora, repita a frase em voz alta: “manifestantes protestavam pela democracia e o outro grupo manifestava em apoio ao presidente”. Sacou né?

Não se trata de comunismo. Se trata de liberdade. A imprensa livre que achincalhava os inimigos antes, virou inimiga, o poder judiciário, que prendeu (muitas vezes de maneira, digamos, suspeita) vários políticos “comunistas” virou inimigo. Se você é contra o governo, você é inimigo. O tal do “Brasil acima de tudo” é uma afronta aos antepassados imigrantes que FUNDARAM o clube. Hoje talvez não conseguissem, assim como muitas entidades representantes das minorias, não conseguem.

Não podemos nos tornar um Real Madrid, um PSG, ou qualquer grande europeu que tem uma torcida mundial só pelo que eles representam em termos de títulos e craques. Ninguém sabe a história deles. Mas nós sabemos a nossa.

Corinthians, futebol e política sempre andaram juntos. Temos a obrigação moral de cobrar o presidente do clube pela atual situação financeira e não podemos deixar de cobrar as autoridades pela nossa liberdade.

Enquanto o Corinthians for pela liberdade e pela democracia e pelo povo, eu sou Corinthians.