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Post de Félix no fórum "Análise dos jogos" do Meu Timão

Analisar um jogo requer várias coisas...mas talvez a principal delas é perceber a diferença entre posição e função. Posição é o lugar aonde o jogador se encaixa. Função é a capacidade técnica e tática dele no time. Por exemplo, a posição do Cantillo é volante, que se posiciona do lado esquerdo...e a função dele é de ser um pivô, também chamado de regista: ele é o responsável por criar jogadas a partir da defesa. Pirlo é a referência mais conhecida, por isso é que se ouve muitas comparações entre ele e Cantillo. E uma das falhas do Sylvinho é justamente isso: não perceber que certos jogadores rendem mais de determinadas formas.

Apesar de termos ganho o jogo, fiquei com a péssima impressão de que Sylvinho queria provar de alguma maneira que Mateus Vital não rende tanto ofensivamente quanto Gustavo Silva, e que por isso o técnico prefere atacar com Gustavo. Por que eu tive essa impressão? Todos sabemos que os ataques são explorados pelo Gustavo Silva desde quando Sylvinho chegou... E no último jogo, Vital tinha jogado tão bem que muitos pediram para que ele fosse mais acionado. “É mais uma opção de ataque”, a mídia endossou. E no jogo contra a Chape, o Corinthians fazia um certo “bolo” no lado esquerdo...mas pouco resultava em ataque por parte de Vital. Já bastou para a torcida xingar: “Vital é uma m****!”. Mas o analista tático não é passional, mas sim racional – e quando vê algo aparentemente ruim, o analista busca as evidências para ver se procede ou não.

“Mas você tem provas?”. Quero crer que sim. Afinal, não há consenso dos analistas sobre Vital. Eu posso pensar de um jeito, o Jow pode pensar de outro, o faraldo pode pensar de outro, o Zé Perneira Corneto (vulgo Neto!) pode pensar de outro, e o camarada do chimarrão pode pensar de outro mais diferente ainda! (:D) Vocês não têm a noção de como é difícil para um entendedor não ser esnobe a partir do momento em que ele tem a percepção do que é realmente ser esnobe. É muito difícil não ter preconceitos. Quem me acompanha sabe que consegui perceber – e provar – muita coisa ruim que existia, e ainda existe, no nosso time; mas tem vezes que nem sempre estava correto.

Houve outras coisas que me fizeram perceber que a panelinha está mais enfática do que eu supunha. E isso pode ser realmente preocupante. Vamos analisar o jogo.

O JOGO (RESUMIDO)

No primeiro tempo, a Chapecoense entrou em campo extremamente defensivo, explorando algum contra-ataque. Mas ainda assim o Corinthians, apesar de ter um poderio maior em termos de passes, pouco assustava o adversário. Tanto que mal houve finalizações e poucos lances individuais. O Corinthians era extremamente previsível em seus passes, Vitinho mal era acionado, Vital muito menos e Gustavo Silva, era facilmente marcado. Tanto que os melhores lances do Corinthians foram com Vitinho no início do jogo; ele de novo aos 47 minutos em articulação com Vital, Fábio Santos e por fim Vitinho – e essa foi uma das duas finalizações certas do primeiro tempo – e o do minuto seguinte com Gustavo Silva, que chutou rasteiro num lance individual.

No segundo tempo, me chamou a atenção que Vital começou a trocar de posição com Gustavo Silva. Isso é uma coisa que ele sabe fazer sim, porém sem apoio ele não consegue fazer nada. Machucado, Cantillo saiu para entrar Xavier, diminuindo o poder de passe porém ganhando em aproximação pelo meio – se houvesse algum, já que explorar o meio não é característica do Sylvinho – e infiltração na área.

Só aos 14 minutos, João Victor dá um excelente passe longo para Gustavo Silva, que cruza forte. Vitinho não conseguiu dominar a bola, mas Jô conseguiu girar e marcar o gol. O que chamou a atenção nesse gol é que, até há poucos meses, nunca que Jô conseguiria fazer esse gol – ele tinha dificuldades nesse tipo de finalização antes por não ter a mobilidade necessária. Aparentemente, aos poucos Jô está voltando, e isso é bom.

Após o gol, as substituições que Jair Ventura fez visaram rapidez pelos lados e pelo meio, principalmente pelo Foguinho, que entraria depois, gerando os perigos que tivemos; como foi após uma boa construção de jogadas, o cruzamento pela esquerda e quase uma finalização de letra. Explorando a defesa compactada, os pontas aceleravam, e Anselmo Ramon tinha a proposta de ser um falso 9 de fato para brigar entre os zagueiros. Daí os perigos que eles nos deram.

Vital saiu para entrar Marquinhos – e a proposta era clara: ter velocidade também pela esquerda. À propósito, Marquinhos é ponta-esquerda e não direita, como muita gente acha. E Marquinhos, no seu primeiro lance pela esquerda, deu um passe-chave para que Gustavo Silva quase fizesse um golaço, aos 29 minutos.

Mas a Chapecoense intensificou ainda mais os perigos. Aos 42 minutos, faltou precisão a Chape para uma finalização devida com 3 jogadores em boas condições de finalização. E só aos 44 minutos, Sylvinho resolve colocar o meia-de-criação Adson em campo, que ainda por cima me é escalado como meia-esquerda! E a Chapecoense pressionou perigosamente até o fim.

QUAIS SÃO AS PREMISSAS QUE PODEMOS PEGAR COMO PONTO DE PARTIDA PARA INVESTIGAR?

Uma das coisas é procurar ver até que ponto o time foi ofensivo. O time finalizou muito? Se finalizou, quantos foram a gol? No primeiro tempo, 2 foram a gol, 5 fora e 2 bloqueados... mas foram em intervalos longos: um aos 9, outro aos 17, outro aos 26, outro aos 30, outro aos 38 e o resto nos acréscimos. Ou seja, na maior parte do tempo o Corinthians apenas trocou passes sem objetividade, como o mapa de calor revela. E no segundo tempo piorou.

Outra coisa que se percebe logo de cara é a atitude do Corinthians após o gol. Gente, pensem comigo: é verdade que Sylvinho está preocupado em não tomar gols... mas contra a Chapecoense?! A Chape jogou recuado, em casa, explorando o contra-ataque, o Corinthians mal finalizou, e depois de ter tomado gol Sylvinho recua o time para não tomar gols?! Podem me chamar de exagerado, mas Jair Ventura quase deu um nó tático, porque as substituições dele foram muito corretas e isso quase nos custou a vitória.

Terceiro, as atitudes do Cássio perante jogadores muito específicos me chamaram muito a atenção. Gustavo Silva e Mateus Vital eram alvos de fortes broncas do goleiro, enquanto que para Gil, Fábio Santos e Fagner o tom era leve. E houve torcedores que também perceberam isso no Fórum do Meu Timão, com desaprovação de muitos ao verem isso.

Quarto, o fato de Vital ter falado em entrevista no intervalo que Sylvinho pediu para “errar o menos possível” (passes) mostra a mentalidade

Com isso, as premissas básicas são:

- O time finalizou, mas em intervalos muito longos – o que significa que, ou o adversário marcou muito bem, ou o Corinthians foi pouco efetivo.

- O recuo do Corinthians diante de um adversário que jogou o tempo todo na defensiva tomar o gol mostra que, por algum motivo que não é tático, Sylvinho desacredita no poder criativo/ofensivo do time – tanto é assim que o meia-de-criação Adson só entrou nos acréscimos, e na posição errada.

- Broncas do Cássio aparentemente são parciais. Diante de um adversário que só se impôs após o gol, é de surpreender que isso tenha acontecido.

Com esses dados em mente, podemos pegar os dados com um raciocínio mais apurado.

COLETANDO EVIDÊNCIAS E RACIOCINANDO

Quem olha esse mapa do primeiro tempo, à primeira vista, pode pensar: “nossa, o Mateus Vital foi mais acionado do que o Gustavo Silva...mas ele mal participou do jogo! Então o Vital é uma porcaria!”. Será mesmo que essa interpretação procede?

Sabemos que o estilo do Corinthians é atacar pelos lados (amplitude) e cruzar na área. Então, como saber se Vital foi corretamente acionado para atender a essa característica do Sylvinho? A resposta é simples: filtrar todos os cruzamentos que ele deu e os passes-chave, além de saber quais jogadores passaram a bola para ele e a quantidade total desses passes. Afinal, ofensividade e poder de cruzar é a característica do meia-externo.

Ao olhar os passes que Vital recebeu, percebemos que ele recebeu 20 do Fábio Santos, 2 de Gabriel, Gil, Gustavo Silva e Cantillo, 1 do Cássio e 3 do Jô. Percebam que o Vital recebeu a maior parte dos passes do lateral-esquerdo do que dos meias – e isso é péssimo pra um meia-esquerda que também joga como meia-atacante.

E Vitinho? Esse então é pior ainda: recebeu 9 do Fábio Santos, 5 de Vital, 4 do Cantillo e 1 de Gabriel, Gil, Jô e João Victor.

Para um meia ou ponta ser mais participativo, os volantes devem passar pra ele tanto quanto os laterais. Nem Gustavo Silva nesse jogo teve esse tratamento. Os perigos do Corinthians só saíram em sua maioria quando Vital interagiu com Vitinho. E quando Vital saiu, o Corinthians desapareceu ofensivamente.

Esse mapa de passes do Vital foram filtradas em cruzamentos e passes-chave. Ele deu 6 cruzamentos e 2 passes chave; e desses, 2 foram pra frente e o resto atrás, porém foram passes curtos para um lateral ou volante. Houve cruzamentos no lado direito com uma ligeira frequência maior do que Vital - e o resto do jogo, como vocês podem imaginar, foram compostos de passes. Quem foi mais acionado na esquerda foi Fábio Santos.

Esse é o mapa de jogadas que foram barradas pela Chapecoense (não confundir com desarme). Sabendo que Fábio Santos foi o mais acionado pela esquerda, e aí vocês entendem o quanto foi fácil eles nos marcarem. Mas notem que Gustavo Silva mal conseguiu avançar até a linha de fundo ou cortar pelo meio como ele gosta de fazer. Anderson Leite foi quem barrou mais as jogadas: 8 vezes.

Esse é o mapa de perda de posse de bola pelo Corinthians. Gustavo Silva perdeu 5 vezes e Vitinho perdeu 8 – a maioria entre o miolo do meio-campo. Vital só perdeu uma vez.

Portanto, quem diz que Vital jogou mal está equivocado. O que aconteceu é que ele teve pouco apoio dos volantes e até mesmo de Vitinho. Aliás, até Vitinho sofreu ontem, já que ele teve que buscar bolas lá atrás.

CONCLUSÃO

Se após o gol Sylvinho recuou o time diante de um adversário frágil como a Chapecoense e demorou pra substituir, só colocando um meia-de-criação aos 42 minutos do segundo tempo e ainda escalando na posição errada, Jair Ventura leu muito bem o jogo e fez as substituições corretas como foi descrito, não sendo feliz no gol. Isso aconteceu porque Jair Ventura percebeu que o problema era velocidade no ataque e reter mais a bola pelos lados e pelo meio, por isso colocou Anselmo Ramon pra ser quase um falso 9, jogando entre os zagueiros, e colocou Foguinho e outros para dar velocidade.

A única coisa que tiro de positivo no jogo é a volta do Jô. Ele anda melhorando a mobilidade, está mais participativo, melhorou o giro e o combate. Se ele melhorar um pouco a velocidade, pode ser mais útil – e o time melhorar os cruzamentos, claro.

Domingo teremos um jogo contra o Fortaleza. Definitivamente eles não serão um time fácil de vencer. Imagino que se eles fizerem um gol, será aproveitando alguma brecha pelo meio em velocidade, uma vez que eles atacam pelo meio e possuem passes precisos, principalmente as bolas longas. Não gosto de ser nenhum arauto da desgraça, mas não gosto do que anda acontecendo ultimamente no Corinthians. Mesmo assim, vamos esperar pelo melhor, até porque eu estava desacreditando no Jô, e ele vem mostrando um bom futebol ultimamente.

VAI CORINTHIANS!

em Análise dos jogos > Análise tática do jogo Chapecoense x Corinthians – a essência da...

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