Lauro D'ávila Apoiador
Dirigia pela via Dutra na manhã do dia 5 de dezembro de 1976 rumo ao Rio de Janeiro. Eu estava ao volante e no carro estavam meus grandes amigos Uriel Fernandes e Luiz Trochillo. Com os ingressos comprados e tempo de sobra para chegar ao Maracanã, queríamos pegar uma praia antes da partida. À tarde jogariam Fluminense X Corinthians, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro.
Um pouco depois de São José dos Campos, vimos andando à beira da estrada uma velha senhora. Encostamos o carro e lhe oferecemos um copo d’água e uma carona. Ela agradeceu, bebeu o copo d’água, mas recusou a carona. Disse que estava a caminho de Aparecida e faria todo o percurso a pé, em louvor à Padroeira.
Nós, devotos de São Jorge, compreendemos a fé da senhora e seguimos o nosso caminho.
Deu para ficar umas três horas na praia de Copacabana. Os cariocas olhavam surpresos as bandeiras e camisas do Corinthians que invadiam a cidade maravilhosa.
Na partida, meio Maracanã apoiou o Timão, que conquistou nos pênaltis uma vaga na final.
Celebramos a vitória noite adentro nos bares do Rio de Janeiro, falando sobre o jogo daquele domingo e sobre as expectativas para a final. Era grande a euforia e a esperança de que após mais de duas décadas o Corinthians conquistaria, enfim, mais um título.
Por fim, tiramos um cochilo no carro para pegar a estrada na manhã seguinte.
Voltando pela via Dutra, um pouco depois de Aparecida, vimos andando na beira da estrada a velha senhora que encontramos na ida; ela tinha mudado de lado na estrada e caminhava no sentido contrário ao dos veículos.
Paramos novamente e lhe oferecemos mais um copo d’água. Ela estava visivelmente exausta, mas ainda assim ouviu com interesse a história que lhe contamos sobre a invasão do Maracanã pela Fiel torcida corinthiana.
Antes de nos despedirmos, o Uriel tirou do pescoço uma corrente com um pingente de São Jorge e a deu para a senhora. Ela pegou a corrente nas mãos e a olhou por alguns segundos. Depois, com um ar misterioso, nos disse:
“Está sendo um longo e sofrido caminho, mas está perto do fim. Foi um caminho necessário. Mas em menos de um ano estará terminado”. Disse isso, virou as costas e retomou a sua caminhada.
Após entrarmos no carro, o Luiz indagou: “Por que ela disse que o caminho termina em menos de um ano? Ela está a só dez quilômetros de Aparecida”.
Ao que eu respondi: “Também não entendi o que ela quis dizer”.
* Esta é uma história de ficção escrita em homenagem a um dos grandes momentos da história do Corinthians.