Meu Timão

^°^ Apesar das minhas habilidades investigativas e detetivescas, devo confessar que este misterioso ser, curvilineo e insinuante nas formas, ideias e intenções, a mulher, sempre me intriga e me desarma.

Se nem um físico teórico renomado como o Doutor Brown tem a resposta, quanto menos eu. ^°^

^°^ Peço a opinião dos nobres colegas. ^°^

^°^ Sou casado, aos 40 (embora muitos me deem 30) e estou muito bem resolvido com a minha esposa, já por mais de dez anos. ^°^

^°^ Recentemente, no meu local de trabalho, mudou-se uma moça, estagiária, vinte anos mais jovem. Universitária, de família simples, ela mesma é de um bairro pobre; menina educadíssima, familiar, correta, esforçada e dedicada, honesta e muito trabalhadora. ^°^

^°^ Essas qualidades saltam aos olhos, junto com a beleza de que ela está bem ciente que tem. ^°^

^°^ Desde o 1° dia em que ela chegou, eu notei que ela me deu um tratamento diferente. Um pouco constrangido, alguns 'ois' tímidos, com um sorriso no canto da boca (quase uma expressão de ironia) e um minimalismo na comunicação. As nossas conversas mais longas costumam ser só profissionais, pra transmissão de instruções. ^°^

^°^ Essa postura estranha me pareceu um flerte indireto, se é que isso existe - o termo, não a técnica, que existe. A pessoa faz sem fazer, exatamente pra não ser acusada de nada. E a busca pela inocência nesse caso hipotético é necessária pelo fato dela saber que eu sou casado e porque ela é noiva de um rapaz, ao que eu percebi, muito cheio de qualidades também.^°^

^°^ Assim que percebi esse clima, de imediato relatei pra minha esposa que, tranquila e segura que é, apenas me recomendou cuidado, o que venho fazendo. ^°^

^°^ Acontece que essa maneira indireta de flertar foi evoluindo e, eis o ponto do meu questionamento aqui. ^°^

^°^ Não só as mulheres são um mistério, as mulheres da geração Z, 2000, são um mistério - continuam sendo, ainda mais pros meninos da mesma geração. Mesmo com tinders, whatsapps e tantos meios pra se paquerar, as mulheres endureceram o jogo ou simplesmente adotaram um ponto de vista materialista sobre a vida, assumido e confesso. Por isso, acredito que a única coisa previsível é a imprevisibilidade no comportamento das meninas nos 20. Pobres de vocês, solteiros, diga-se. ^°^

^°^ Peguei ela olhando pra mim DIVERSAS vezes e pela minha visão periférica, percebi outras tantas. No espaço em que trabalhamos, há uma certa circulação entre mesas e oras quando ela levanta, oras quando eu levanto, percebi ela me acompanhando. Também quando converso com alguém. Pegando algo na impressora comum. Vi, peguei, percebi. E quase sempre a reação era a mesma: uma tirada rápida do olhar, em visível constrangimento. ^°^

^°^ Acontece que essa maneira indireta de flertar foi evoluindo e, eis o ponto do meu questionamento aqui. Estava intolerável. Eram muitos olhares cruzados, muitas vezes que eu peguei e percebi essa mesma rotina de olhar, encontrar e tirar o olhar. Confesso que me perturbou. Não porque eu queria algo com ela ou estava me sentindo tentado a isso. É porque é desagradável e fim. ^°^

^°^ Nessa fase mais intolerável, mais intensa dessa troca de olhares, aconteceu uma coisa. A gente vinha por um corredor e inevitavelmente se veria. Eu a cumprimentei sem palavras, erguendo as sobrancelhas. Ela me olhou de volta com uma cara irônica como que dizendo “Ah, você fica me paquerando e agora dá esse ‘oizinho’?’ ou ‘Você acha que tem alguma chance comigo?’ Não foi um olhar normal. No ambiente de trabalho, a gente passa um pelo outro, homem ou mulher, se cumprimenta de forma igual e amigável. Aqui não foi o caso. E foi aí que eu buguei. Aí passou o recibo: não é uma relação normal que ela tem comigo. ^°^

^°^ E aí chega aquele ponto em que você começa a olhar pra ver se está olhando. E sempre acontecia. Então, resolvi tomar uma atitude: minimizei o contato visual, até os movimentos do pescoço – juro – pra que nada na minha linguagem corporal desse a entender que eu pretendia sequer olhar pra ela. Minimizei apenas ao ponto do inevitável, das conversas profissionais que tivemos que ter ou a contatos acidentais que, claro, são inevitáveis. ^°^

^°^ Aliás, pra esses momentos, um amigo meu deu a dica: se a mulher está interessada, olhe direto nos olhos dela, ela vai ficar constrangida no ato. Fiz isso uma vez, deu certo. Ela ficou. Na segunda conversa, fiz de novo. Ela devolveu! E eu olhei direto nos olhos de novo. Ela abaixou a cabeça rapidamente enquanto a gente se falava. Então, todas as provas apontavam pra um interesse ou algum flerte dela e isso foi dando razão às minhas suspeitas e a minha reação e atitude. ^°^

^°^ O resultado dessa estratégia foi que ela ficou triste, claramente, no começo. Agora, passadas duas semanas, ela “entendeu” o que eu fiz ou melhor, o que eu parei de fazer, e também começou a evitar o contato como eu faço. Mas, curioso, quando estes contatos acidentais acontecem, ela remove o olhar mais rápido ainda. Daqui a pouco vai dar um derrame nos olhos dela, de tão rápido que ela faz isso. Seria até engraçado, se não fosse embaraçoso e triste até certo ponto. Pra falar a verdade, eu noto até um certo tom de rispidez nela, até pras informações profissionais que a gente troca. ^°^

^°^ O meu objetivo em trazer isso pra vocês é o seguinte: ^°^

^°^ SOB HIPÓTESE ALGUMA eu quis ou quero tirar proveito de um suposto interesse dela. Não estou aqui buscando conselho ou validação pra ir atrás da moça. Atualizo a minha esposa sobre essa situação constantemente. Acho isso uma proteção pra que alguém sequer cogite cair em uma tentação ou armadilha. ^°^

^°^ No entanto, eu gosto muito de ter relacionamentos no mínimo amigáveis com as pessoas. E eu tenho medo de ter sido, até aqui, se não presunçoso, pelo menos um MERO BABACA. O estágio dela está pra terminar em poucas semanas e eu não sei se eu devo tentar remendar a situação, sendo mais amistoso e apenas isso, caso eu tenha interpretado tudo erroneamente. ^°^

^°^ O caso também é que a minha interpretação da situação talvez foi errada porque, sinceramente, não conheço as dinâmicas sociais das pessoas hoje, embora muita coisa permanece a mesma, apenas algumas nuances próprias de cada geração. Mas o Diabo está nos detalhes, ou seja, nas nuances. Eu gostaria apenas de trata-la de forma justa e não deixar uma impressão ruim, afinal, a gente pode sempre se encontrar de novo na vida ou no mercado de trabalho e é sempre bom cultivar a boa vizinhança. ^°^

^°^ E, por favor, me perdoe o machismo se assim você encarar, não é o caso, mas o fato é que infelizmente, nos dias nada pacíficos de hoje, qualquer coisa dita a mais ou a menos pode te comprometer no mundo feminino - seja como um porco abusivo, seja como um simples idiota. ^°^