Rafael Chiarella - Rafael: um triste adeus

Rafael: um triste adeus
Publicado em 6 de abril de 2012 por Wanderley Nogueira.

* Publicado na Gazeta Esportiva de 28/10/1980

*REPORTAGEM DE: JOÃO BOSCO COM WANDERLEY NOGUEIRA

Tem gente que é capaz de apostar como no futebol brasileiro jamais existiu um outro jogador que tivesse tanto medo de avião como Rafael Chiarella. Chegou a assinar um contrato com o Corinthians acrescentando uma cláusula; desobrigado a participar de viagens aéreas.

Chegou como técnico do Corinthians, Paulo Amaral. Exigiu que Rafael participasse das viagens e como o jogador não concordou, principalmente pelo acordo feito com o presidente Wadih Hellu, foi colocado à margem do time. Rafael Chiarella já estava há 11 anos no Corinthians e afirmou que jogaria até sem nada receber, mas jamais viajaria do avião.

Rafael Chiarella resolveu pedir rescisão contratual e foi trabalhar nas indústrias da família, onde chegou a diretor presidente. Quando foi obrigado a ir à Europa com o Corinthians, chegou a emagrecer além de rezar muito nos aeroportos: “Não sei não! Acho que vou desistir. Quem gosta de voar é passarinho”, dizia ele sorrindo.

Nasceu no bairro do Brás, e foi lançado pelo técnico Osvaldo Brandão em 1954 numa partida contra o Palmeiras.

Gilmar, Homero e Olavo; Idário, Goiano e Roberto; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Rafael e Nono. Este o time, o primeiro, com a presença de Rafael Chiarella. O Corinthians ganhou do Palmeiras por três a dois. Ele ficou no Parque São Jorge até 1964, quando atritou com Paulo Amaral. Jogou seis meses pelo Juventus.

Pelo Corinthians foi campeão de 1954, campeão da Taça Charles Miller, campeão da Taça dos Invictos, além de outros torneios.

Rafael, sorrindo dizia: “Se não fosse o Pelé, eu seria, no mínimo, campeão por mais sete vezes. Mas o crioulo sempre estragava a festa…”.

Domingo último, com pouco mais de 42 anos, Rafael Chiarella faleceu no hospital Albert Einstein. Morria o ídolo corinthiano da década de 50. Rafael atuava como meio campista na esquerda. Alto, elegante, passos largos em campo e toques de primeira, fizeram de Rafael um dos jogadores mais elegantes da época, recebendo o apelido de “cisne”. Rafael Chiarella havia perdido um irmão, em seguida o pai e depois a mãe. Muito cedo ainda foi obrigado a transformar-se em industrial, assumindo funções nas Indústrias Chiarella.

Há pouco mais de uma semana, sabendo de suas condições precárias, Rafael transferiu seus negócios para os três filhos, ainda jovens.

Curiosamente, Rafael Chiarella faleceu de um mal, cirrose, sem jamais ter colocado álcool na boca ou fumado. Dizem seus companheiros, que com 17 anos sofreu hepatite. Não se recuperou totalmente e a partir daí houve uma complicação. Recentemente, com problemas na vesícula, foi internado para uma cirurgia. Ele mesmo admitia que dificilmente iria se salvar. A hepatite mal curada, havia causado consideráveis danos, e não houve possibilidade dos médicos salvarem sua vida.

No domingo após o jogo, Osvaldo Brandão e Vicente Matheus foram até o hospital, ficando junto até seu último instante.

Este golpe foi duro demais para Osvaldo Brandão suportar.

Rafael Chiarella era para Brandão, um filho tão querido quanto o foi Márcio, que faleceu há dois anos.

Embora sendo forte demais para confortar os filhos e a esposa de Rafael, desta vez Brandão não foi forte demais para confortar a si próprio.

Após o último suspiro de Rafael, ele não suportou. Não foi o velho mestre confortador. Debruçou seu corpo sobre o de Rafael, abraçou o corpo inerte daquele a quem considerava como filho, e seus olhos deixaram escapar algumas lágrimas. Baixinho, balbuciou algumas palavras, como se quisesse encomendar a alma daquele que jamais sairá da lembrança.

Poucos dias antes de Rafael ser internado, Brandão ainda recordava algumas passagens. Os dois jamais deixaram de se ver, de fazerem visitas.

Rafael foi o primeiro, como bom corinthiano, a esperar pela chegada de Osvaldo Brandão, quando voltou a ser contratado por Matheus. Esteve com ele em muitos momentos e quase todos os sábados pela manhã lá estava ele com o filho Geancarlo esperando pelo mestre, que muito cedo substituiu seu pai.

“Este menino valia ouro. Vivia em minha casa, era o grande companheiro do Márcio, embora um pouco mais velho. Quando foi para o exército, eu o retirava da caserna e ele se encontrava em minha casa. A Luiza e eu tomávamos conta dele”.

“Muito cedo ainda, com 26 anos, ficou sem o pai. Passei a dar-lhe mais ajuda ainda, quando ele teve que assumir a indústria da família. Mas tinha juízo para isso. Tanto tinha, que a firma só progrediu”.

“Moço exemplar em todos os sentidos. Como homem, bem criado, educado, trabalhador, como filho, como irmão, amigo, pai e esposo”.

“Disse isso a vocês antes de qualquer coisa, quando ele foi me receber no clube. Ele era perfeito. Para mim mais um duro golpe”.

No adeus a Rafael Chiarella Neto, perto de mil pessoas presentes ao velório e ao sepultamento, ocorrido ontem às 15:30 horas no Cemitério do Araçá. Vicente Matheus, Wadih Hellu, Roberto Roth, Gambinha, Gilmar, Marcos, Idário, Goiano, Alan, Olavo, Higino, Guimarães, Colombo, Carbone, Nardo, Julião, Paulo, Valdir, Geraldo José e outros antigos companheiros. Nenhum jogador da atual geração se fez presente, lamentavelmente

Não faz muito tempo, Rafael apareceu no Corinthians com um filho de 17 anos, Geancarlo Chiarella. Levou-o para treinar no juvenil. Bastaram só dois treinos, para que o garoto mostrasse suas qualidades como meia esquerda. Tão elegante como o pai, Geancarlo logo ganhou um contrato no time juvenil. O garoto pode seguir as passadas do pai, atuando no Corinthians.

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