Meu Timão

Aconteceu muitos erros hoje. O Bragantino estava desfalcado com jogadores importantes, mas é um time com forte poder de passes no meio-campo e infiltrações na área, portanto, não enfrentávamos nem de longe um time bobo. O que aconteceu hoje foi que o Corinthians foi jantado em campo devido a sermos extremamente previsíveis. Vamos analisar a partida para que vocês entendam o nível das falhas.

PRIMEIRO TEMPO

O Corinthians jogou num 4-3-3 alternando para um 4-2-4 com Roni sendo o homem-surpresa; e defensivamente era um 4-4-2 ou 5-4-1 com Gustavo Silva ajudando a cobrir Fagner. Determinado a mostrar evolução, o Corinthians marcava pressão constantemente, e nos ataques fazia inversão de bola. Tanto que no lance do gol, em toda uma construção de jogadas, Fábio Santos inverteu de 3 dedos para Gustavo Silva, que cruzou para Roni fazer o gol. Parte desse gol aconteceu porque os passes circulavam por todo o campo e a marcação alta era efetiva.

MAS depois do gol o Corinthians diminuiu o ritmo. O Bragantino descia bem ao ataque e nas bolas paradas era perigoso, como no lance de escanteio em que o Fábio Santos não soube fazer a leitura e o Cássio teve que fazer milagre. – lembrou Roberto Carlos parado na Copa de 2006. Aliás, bolas alçadas e passes em profundidade pelo lado do Fábio Santos eram frequentes, com Artur por aquele lado e tendo Aderlan para cobri-lo.

Além disso, neutralizar Cantillo e qualquer jogador próximo a ele era a estratégia primordial do Bragantino, com um bolo bem considerável em cima. Mas quando deixavam ele pegar na bola, os lances saíam. Luan também era muito neutralizado pelo zagueiro que se adiantava ao ataque – o que era um risco pra eles, porque a principal função do falso 9 é ficar nas costas do zagueiro e puxar a zaga para liberar os pontas, alguns lances perigosos no jogo aconteceram assim. Mas Luan claramente estava mal em campo.

A pressão do Bragantino era devido as bolas alçadas e passes de profundidade, neutralizando Cantillo.

O Bragantino (azul) finalizou mais do que o Corinthians (laranja), mas acertou apenas 1 chute a gol e errou 5. Já o Corinthians finalizou 2 a gol e 2 bloqueados, com 2 do Roni (os dois lances do gol) e os dois bloqueados foram de Vital e Luan.

Notem por esse mapa de passes a neutralização do Bragantino em cima do Corinthians. Como eu disse antes, neutralizar Cantillo e quem estiver próximo a ele era o segredo que eles acharam pra nos neutralizar. Tanto que o Corinthians tocou 64 vezes na defesa e 110 no meio campo, e apenas 34 foram ao ataque. Mas notem que 104 passes do Bragantino foram exclusivamente no ataque, e 171 foram na defesa. Tudo isso no primeiro tempo.

Notem os passes interceptados pelo Corinthians, revelando que o Bragantino procurava marcar pelo meio para neutralizar Cantillo. E as perdas de posse de bola revelam que ficou evidente para eles que o Corinthians voltaria a atacar exclusivamente pelos lados.

SEGUNDO TEMPO

Certamente sabendo desses números, o Bragantino jogou totalmente pra cima adiantando a marcação, jogando num 3-4-3. Numa bola alçada, o Pedrinho conseguiu se posicionar nas costas do João Victor mas finalizou mal. Noutro lance, quase que Fábio Santos e Gil batem cabeça em outro cruzamento. E num lance de escanteio, Aderlan cabeceou no gol em falha de acompanhamento do Fábio Santos, como no primeiro tempo.

E quase que Fábio Santos perde corrida no lance seguinte para Artur, mas se não me engano Luan conseguiu cobrir. Num lance de contra-ataque aos 16 minutos, Fábio Santos novamente interpreta mal o lance e deixa um jogador livre, mas Cássio defendeu.

Luan, que definitivamente jogou mal, saiu para entrar Léo Natel – e gostei da substituição pela velocidade e presença de área dele, jogando como ele gosta. Mas não foi nem 5 minutos em campo e ele teve uma luxação no ombro, forçando Sylvinho a colocar Ramiro no lugar dele. Antes dele, Araos entrou no jogo, mas não adiantou nada porque o time não adiantava como deveria.

Acontece que, além da função de defender, Ramiro era outro que faria a função de homem-surpresa...e ele teve algumas participações em ataque nesse sentido. Ainda assim faltava adiantamento das linhas do Corinthians justamente para esse fator. Exploravam tanto o lado esquerdo deles que era totalmente previsível.

E o Bragantino viraria no jogo num lance em que tenho sérias dúvidas sobre se houve falta em cima do João Víctor. Ainda assim, a falha foi dele por não ser rápido em tirar a bola – e do Cássio. E João Victor jogou bem o jogo inteiro, falhando só no gol.

OUTROS DETALHES

Olhem só a diferença gritante das finalizações do Bragantino para com o do Corinthians no segundo tempo. Nem Coelho em seus piores tempos foi tão massacrado assim. Tirando Cuello, Ortiz e naturalmente o goleiro, TODOS finalizara. Só Artur – atacando pelo lado do Fábio Santos – finalizaria 4 vezes. 4 chutes foram a gol, 5 pra fora e 5 bloqueados. 6 dessas finalizações foram na marca do pênalti e 8 fora da área. 6 dessas finalizações foram com bola rolando, 1 em contra-ataque e 7 de bola parada. Isso é aterrador demais, mesmo para um time com propostas defensivas;

O mapa de passes dos dois times mostra como o Corinthians foi jantado em campo. E em conjunto com o mapa de calor dos jogadores acima, percebemos que Raul foi quem mais articulou as jogadas junto com Artur e os zagueiros.

Olhem só a diferença de passes absurdas entre os dois times. Nem Carille tinha números tão baixos assim entre o time todo. Nunca vi nada assim antes.

Fábio Santos interagindo mais com Cantillo, Gil interagindo mais com Fábio Santos e João Victor interagindo mais com Gil é a prova cabal de tudo o que eu disse antes sobre neutralizar Cantillo e atacar pelo lado do Fábio Santos.

Esses é um mapa de lançamentos no segundo tempo filtrados exclusivamente em direção ao ataque. A grande maioria desses passes foram direcionadas no lado direito – o do Fábio Santos – e alguns foram exatos. O zagueiro Leo Ortiz acertou 2 vezes, Raul 1 vez lá e 2 vezes no lado oposto, e Pedrinho foi uma vez – na área, na qual seria passado para Artur finalizar. Ou seja, ficou clara a intenção em explorar Fábio Santos.

CONCLUSÃO

O Corinthians perdeu porque não adiantou as linhas ao ataque como deveria, além de ser previsível em atacar só pelo lado do Gustavo Silva, voltando a cometer os mesmos erros que cometia antes do jogo contra o Palmeiras. Luan jogou mal, mas mesmo que tivesse corrido como um Gustavo Silva, de pouco adiantaria, porque a estratégia de não adiantar as linhas permitiu a fácil neutralização do Cantillo. Não foi do mesmo jeito que jogaram contra o Palmeiras, e o que está acontecendo é um demérito com a qualidade dos jogadores que temos – e que já provaram que tem qualidades ofensivas. Pois o Corinthians é um time previsível, sem passes acelerados, apelas bolas alçadas a partir da defesa para o Gustavo Silva e passes do Cantillo quando saía. Mateus Vital foi facilmente neutralizado por conta desse fator, uma vez que ele não conseguiu fazer a transição pelo meio como gostaria. E Fábio Santos foi péssimo hoje: falhou no gol e os lances mais perigosos passaram por ele. Teve péssimas falhas de leitura de jogo.

Tenho sérias dúvidas se o Sylvinho estudou o Bragantino. Até o torcedor com pouca informação sabe que eles são bons passadores e atacam muito bem. Lucas Evangelista teve muita liberdade, Aderlan e Artur nem se fala. Vir com um 4-3-3 com 3 volantes, sabendo que o meio-campo sob uma linha de 4 deles é rápido e preciso nos passes em lateral, é suicídio.

Mesmo Luan não tendo jogado bem, entendam que o problema do Corinthians é TÁTICO. Luan possui suas características sendo sacrificadas em prol de um time defensivo – e muito mal defensivo. Tenho a impressão que o Syvinho quer imitar o 4-3-3 do Liverpool, mas os volantes e meias deles adiantam para passar rápido e no campo adversário, e os zagueiros adiantam as linhas de defesa. Roni, Cantillo e Gabriel podem facilmente chegar ao ataque e jogar algo parecido, mas querer manter o ideal defensivo do Corinthians ao mesmo tempo é simplesmente uma péssima ideia. Coelho tentou isso, e não deu certo nem um pouco.

Curiosidade: ouvi na transmissão do jogo que Gustavo Silva corre mais de 11 km por jogo, acima da média de muito jogador profissional por aí. Robben em alta forma física corria 9 a quase 10 km – e rapidez sempre foi a característica dele.

O Corinthians jogará contra o Bahia, um time preciso pra atacar. Nem preciso dizer que se jogar do mesmo jeito como jogou hoje, perde. Me entristece ao não ver Adson, Vitinho, Varanda, Gabriel Pereira, Cauê ou Felipe Augusto não entrarem nesse jogo – o jogo era pra eles jogarem, pois eles iriam jogar pra cima e acelerar os passes. Será que estão neutralizando propositalmente os rapazes, levando em conta o quanto eles estavam vindo em uma crescente? Vocês realmente acham um absurdo ou exagero da minha parte fazer essa pergunta? Entendo quem não concorda, mas um time que ganhou do Santos e do São Paulo, além de ter números muito expressivos e um estilo de jogo bem marcante, não é algo a se descartar. Os números e fatos são a favor deles – e de uma forma impactante. Alguma coisa está acontecendo internamente para tanto demérito. As cobranças do torcedor sobre os jovens, Gil, Fábio Santos são mais do que justas – será que desmerecerão o que é plausível em prol de conveniência própria, que é o que dá a entender que está acontecendo?

VAI, CORINTHIANS!