A demissão de António Oliveira não pode ser o ponto final
Opinião de Beatriz Maineti
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Dizem que, na vida, a nossa única certeza é a morte. Para o corinthiano, porém, existiam duas certezas: a morte e a demissão de António Oliveira. Desde a derrota por 1 a 0 para o Internacional, ou até mesmo antes disso, o convite para deixar o Parque São Jorge estava escrito, faltava apenas entender quando ele seria enviado.
Ele foi. Na manhã desta terça-feira, chegou ao fim o trabalho de António Oliveira no Corinthians. Em cinco meses, o treinador sofreu com as próprias limitações e com o elenco que foi colocado à sua disposição. Sem "passapanismo", o trabalho do treinador, que começou promissor, terminou frustrante com apenas uma vitória contra equipes de Série A e em 19º colocado no Campeonato Brasileiro. O treinador tinha que cair.
Pior que se frustrar com o trabalho do português é cair na armadilha de que demiti-lo consertaria magicamente todos os erros do Corinthians. O futebol brasileiro criou no torcedor a falsa noção de que a resolução universal para os problemas de todo e qualquer time está na demissão de seu treinador, como se um anúncio de saída configurasse uma mudança magistral e uma inversão total de todas as situações ruins. A verdade, porém, passa muito longe disso. O caminho do Corinthians ainda é longo.
Em novembro, logo após ser eleito, Augusto Melo prometeu ao torcedor uma reformulação completa. Dispensou jogadores mais velhos em fim de contrato, fez 11 contratações para o elenco e manteve Mano Menezes no cargo. Já em fevereiro, quando as coisas não andaram, demitiu Mano Menezes e contratou António Oliveira. O elenco, porém, continuou a pesar. A falta de peças de composição foi ficando escancarada, a qualidade dos atletas foi sendo posta a prova e, quando Augusto Melo se tocou, tinha tudo virado uma bola de neve.
Para exemplificar, vamos pegar o time que entrou em campo na estreia de António Oliveira diante da Portuguesa, ainda pelo campeonato Paulista. Na época, o treinador escalou: Cássio; Fagner, Félix Torres, Raul Gustavo, Caetano; Raniele, Maycon, Rodrigo Garro; Wesley, Yuri Alberto, Pedro Raul. No banco, ele tinha Carlos Miguel, Fausto Vera, Matías Rojas, Gustavo Henrique, Gustavo Mosquito, Breno Bidon, Artur Souza, Matheus Araújo, Kayke, Léo Maná, Ryan e Hugo.
Ao longo do tempo, António perdeu cinco titulares desse primeiro jogo, seja por saídas definitivas ou temporárias. Cássio e Raul Gustavo foram embora, Fagner está temporariamente no departamento médico, Maycon rompeu o ligamento cruzado anterior (LCA) e está fora da temporada e Félix Torres está com a seleção equatoriana. Do banco, saíram Carlos Miguel, Matías Rojas e Fausto Vera, todos eles de forma cabal.
Entre jogadores bem aproveitados e estratégias mal executadas, António Oliveira lidou com mais perdas do que chegadas e viu a perspectiva de reposição de peças do seu elenco se esvair aos poucos. Disse claramente em entrevista coletiva que o que lhe foi prometido em termos de reforços não seria cumprido e pediu para que a torcida adaptasse suas expectativas.
Por outro lado, Augusto Melo parece acreditar que montou um elenco semelhante aos Galácticos, daquele saudoso Real Madrid. Ou pelo menos é isso que ele dá a entender em suas entrevistas. Mas não é preciso ser um profundo entendedor de futebol para perceber que ter apenas um volante disponível não é saudável para nenhuma equipe e que ter única e exclusivamente Gustavo Mosquito como opção de ponta direita passa longe de ser um alento.
O desempenho do elenco e a escassez de peças demonstram aquilo que muitos já alertavam em janeiro: a reformulação de Augusto Melo falhou. Não pelas dispensas, não pelas contratações, não pelas demissões de treinadores. A estratégia foi por água abaixo por falta de planejamento. Afinal, ninguém muda a essência de um ambiente do dia para a noite, sem eleger um líder de confiança para segurar a bomba quando ela estourar e o choque de realidade (ou de gestão?) realmente acontecer.
Não houve choque; houve precipitação. Não houve reformulação; houve desmonte. O elenco do Corinthians é raso, não oferece opções viáveis ao treinador, independentemente de quem ele seja. Por isso, essa decisão de Augusto não pode ser final.
António Oliveira precisava ser demitido, mas não será sua saída a resolver todos os problemas do Corinthians. O clube precisa ir ao mercado com cautela e inteligência, tendo boa leitura dos reforços e aproveitando as verdadeiras oportunidades que surgirem. Não é hora de trazer aquele que custa R$ 2 milhões por mês pela mídia, e sim de trazer aquele que mais renderá. É hora de continuar a reformulação e não mascarar os problemas com mais um técnico destituído.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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