Naming rights.
Antes restrito ao mundo do marketing e da publicidade, esse termo em inglês também passou a fazer parte do vocabulário dos torcedores de futebol de uns anos para cá. Principalmente dos fanáticos pelo Corinthians.
A possibilidade de o Corinthians vender os tais naming rights de sua arena, em Itaquera, reacendeu nos últimos dias o interesse pelo assunto. O gráfico abaixo mostra o volume de buscas sobre o termo no Google no último ano.
Volume de buscas sobre naming rights disparou na última semana.
Mas, afinal, o que são naming rights? Quanto valem? Qual empresa pode fechar esse acordo milionário com o Timão? E por que confiar e desconfiar que a negociação dará certo dessa vez?
Abaixo, o ge conta o que sabe sobre o assunto em 10 perguntas e respostas.
1. O que são naming rights?
Numa livre tradução do inglês, é o direito de dar nome a algo. Neste caso, à arena do Corinthians.
Bastante popular nos Estados Unidos, a venda de nome tem se tornado comum também no Brasil nos últimos anos. Além de arenas de futebol, como a do Palmeiras, empresas pagam cifras milionárias para batizar casas de shows, teatros, eventos e festas.
– O 'naming rights' é uma iniciativa que dá um impacto muito grande para o nome da marca. Ele não transmite valor simplesmente porque está nomeando um lugar, mas o nome da marca fica muito mais falado. Acaba ajudando tanto na lembrança inicial de uma marca pouco conhecida, como também para ressaltar as lembranças e atributos da marca na cabeça do público. Você associa a marca ao esporte, a determinado evento, algum momento legal na vida das pessoas – explicou Marcos Bedendo, sócio-consultor da Brandwagon e professor da FIA.
2. Por que o assunto voltou à tona?
O Corinthians tenta vender os naming rights da Arena antes mesmo de ela ser construída. Essa propriedade sempre foi vista como fundamental no modelo de negócios do clube para pagar a obra.
O tema voltou às manchetes e aos 'trending topics' das redes sociais na última semana, quando Neto, ex-jogador e hoje comentarista da TV Bandeirantes, afirmou que o Corinthians havia vendido a propriedade.
Pessoas influentes na diretoria do clube passaram a dizer nos bastidores que há negociações avançadas e que o comprador dos
3. Qual o valor?
Esse é um dos pontos de maior mistério. Ao longo dos últimos anos, o Corinthians trabalhou com diferentes números, entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões.
Também já foram especulados diferentes prazos de contrato, variando entre 10 e 30 anos.
Para efeito de comparação, a seguradora Allianz fechou um contrato de R$ 300 milhões para explorar o nome da arena do Palmeiras por 20 anos.
&Amp;Ndash; Em qualquer propriedade de mídia, do comercial de TV ao anúncio no elevador, o ponto de partida para definir o preço é ver o custo por mil pessoas impactadas. Ou também comparar com outras propriedades daquela mídia. No começo, no Brasil, olhávamos quanto custaram os nomes das arenas nos Estados Unidos ou na Alemanha e comparávamos. Quase sempre os 'naming rights' são caros quando você calcula o custo por mil pessoas impactadas.
– Mas o que o justifica sua compra é o investimento de longo prazo. Um anúncio de TV é mais barato. Mas você não tem o impacto de estar com seu filho, numa final de campeonato, tirando a foto mostrando que esteve lá naquele ano em que o tabu foi quebrado, por exemplo – comentou Marcos Machado, sócio da TopBrands e professor de gestão de marcas e 'branding' na ESPM, na FIA e na FDC.
4. Daria para pagar a Arena?
A venda dos naming rights daria uma ajuda enorme para o Corinthians pagar a dívida pela construção do seu estádio, mas ainda assim não quitaria todo o financiamento da obra.
A reportagem do ge ouviu diferentes estimativas de valores nos últimos dias, quase todas abaixo de R$ 400 milhões. Nem nas mais otimistas projeções o Corinthians estimou um valor suficiente para os naming rights pagarem todo o custo da Arena.
Atualmente, a Caixa Econômica Federal cobra R$ 536 milhões do Timão.
Rights da Arena será anuncia
O clube também tem uma dívida com a Odebrecht, companhia que está em processo de recuperação judicial. No ano passado, em reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians, o presidente Andrés Sanchez afirmou que o montante a ser pago para a construtora seria de, no máximo, R$ 160 milhões. Porém, depois ele já alegou que a dívida seria perdoada e o clube não teria mais nada a acertar com a empresa.
Até o momento, a Odebrecht confirmou apenas a quitação de uma parte da dívida e um memorando de entendimento com os termos para soluci
5. Quem vai comprar?
Infelizmente, ainda não temos essa resposta.
A rede de lojas Magazine Luiza foi apontada como uma das companhias que negocia com o Corinthians pelo colunista Lauro Jardim, do jornal 'O Globo'. Porém, a informação foi negada pela empresa por meio de nota oficial:
– Apesar da parceria entre Netshoes e Corinthians, no ShopTimão, loja oficial do clube, e da simpatia do Magalu pelo futebol, esporte que é paixão nacional, a empresa nega estar em negociações pelo direito ao nome da Arena Corinthians.
Outro nome especulado, a farmacêutica Hypera Pharma respondeu à reportagem que não iria comentar o assunto.
A norte-americana Amazon também foi ventilada, juntando-se a uma enorme lista de potenciais compradoras que conta com Banco BMG, Emirates, Zurich Seguros, Hyundai, Qatar Airways, Visa, Caixa Econômica, Jeep, entre outras.
Segundo Andrés Sanchez, a empresa que está próxima de fechar com o Corinthians nunca esteve na camisa do clube como patrocinadora.
6. Por que acreditar dessa vez?
A confiança em um acordo próximo é grande entre dirigentes corintianos. Pessoas ouvidas pelo ge trataram o negócio como fechado, embora o Corinthians negue.
A euforia ficou ainda maior após uma postagem no Twitter do presidente Andrés Sanchez no último domingo, no qual ele dizia que o acerto está 'bem perto'.
Pessoas ligadas ao presidente afirmam que ele dará uma 'cartada final' de olho na eleição de novembro. Andrés não pode tentar a reeleição, mas deve apoiar a candidatura de Duílio Monteiro Alves, atual diretor de futebol.
Antes de se eleger para o terceiro mandato no Corinthians, Andrés tinha como uma das principais promessas equacionar a dívida da Arena.
Sob algumas perspectivas, a crise econômica atual pode não ser um problema, mas sim uma oportunidade:
– Em termos de investimento em mídia, a gente tem um conjunto de empresas que foram pouco afetadas pela pandemia e outras que tiveram até situações propícias para crescer negócios, como empresas de tecnologia e e-commerce. Depende da empresa que está tentando fazer esse tipo de investimento. E também tem a questão de oportunidade. Em função do momento que vivem os clubes de futebol, é possível fazer alguma negociação mais vantajosa (do ponto de vista da empresa), talvez reduzindo valor e pagando à vista – ponderou Marcos Bedendo.
7. Por que desconfiar?
Seria surpreendente o Corinthians conseguir fechar este acordo que busca há tanto tempo justamente num momento de crise econômica global, provocada pela pandemia do novo coronavírus.
– Uma empresa quando compra os naming rights busca se associar com a experiência que o espaço oferece, seja cultural, esportiva ou de entretenimento. Além disso, o que acontece em qualquer crise econômica? Ela tende a reduzir o apetite das empresas em marketing e propaganda no geral, porque o recurso sai no curto prazo e o retorno vem a longo prazo.
– Essa crise é ainda mais prejudicial para a venda de naming rights, porque é um investimento de longuíssimo prazo e que o retorno está relacionado com a experiência das pessoas presentes no lugar. Ninguém sabe como a indústria do entretenimento vai ressurgir. Falo de cinemas, de shows, jogos de futebol. A presença do público é importante para essa experiência. Uma coisa é o jogo, a outra o jogo com torcida – argumentou o professor Marcos Machado.
Por conta das medidas de distanciamento social, que podem persistir até que haja uma vacina para a Covid-19, uma empresa que venha a comprar os naming rights da Arena não poderá fazer tão cedo um evento de lançamento da parceria com grande público ou levar clientes e parceiros a seu camarote em Itaquera.
Outro motivo para desconfiança é o fato de o presidente Andrés Sanchez já ter prometido a venda dos naming rights em diversas outras oportunidades, sobretudo em épocas eleitorais. A primeira delas foi em fevereiro de 2012, quando afirmou, em sabatina da 'Folha de S. Paulo', que 'depois que o novo presidente ganhar (a eleição) em 30,40 dias sai o naming rights.'
Andrés Sanchez promete venda de naming rights da Arena há oito anos — Foto: Marcos Ribolli
8. Por que não vendeu até hoje?
São muitas as justificativas apontadas pelos cartolas do Corinthians nos bastidores.
Uma das mais recorrentes é a de que é difícil mensurar os ganhos para uma empresa com a compra dos naming rights. Diferentemente do que acontece com uma publicidade na internet, por exemplo, as companhias não conseguem avaliar com precisão a quantidade de pessoas impactadas, nem escolher um público-alvo específico.
Além disso, trata-se de um investimento de centenas de milhões de reais e de longo prazo, que oferece risco às empresas – e aos executivos das companhias que negociam estes contratos.
Os especialistas também apontam que o Corinthians joga contra o relógio. O ideal era ter inaugurado o estádio com essa propriedade já vendida. Quanto mais tempo passa, mais difícil fica vender os naming rights.
– A marca vai ter que ir contra um costume. Já existe uma maneira que as pessoas se referem àquele espaço, seja Arena Corinthians, Itaquerão, Fielzão, e você precisa substituir. Isso leva um tempo. Não é botar uma placa, anunciar e pronto – afirmou Marcos Bedendo.
Por fim, vale lembrar que a Arena Corinthians foi alvo de investigações na 26ª fase da Operação Lava Jato, com o então vice-presidente do clube, André Luiz Oliveira, sendo levado coercitivamente para depor à Polícia Federal. A Odebrecht, responsável pela obra, também é parte central de um dos maiores escândalos de corrupção da história. Mesmo não havendo condenação relacionada a pagamento de propina para a construção do estádio, a imagem dele foi arranhada, segundo especialistas.
– Esse foi um dos aspectos mais delicados. Teve a construtora, operação que envolveu crime, acordo de leniência, a questão da dívida, Caixa executou na Justiça... Ninguém quer estar no noticiário associado a uma questão negativa. E o futebol envolve rivalidades, memes, brincadeiras. Essas dúvidas que pairam são um problema maior do que a questão do tempo que se passou com outro nome – declarou Marcos Machado, que faz uma analogia:
&Amp;Ndash; É como quando você olha para o Oriente Médio. Se não tem ligação mais próxima com pessoas da região, você fala: que confusão, aquela briga, todo mundo brigando. De longe, a coisa não é boa. Quem está envolvido, fica chateado, porque às vezes as coisas não é tão feia quanto parece.
– O preconceito é conveniente porque às vezes as pessoas têm preguiça de entender a situação real. Como estamos num país com histórias frequentes de corrupção é muito difícil, na hipótese de o clube não ter feito nada de errado, conseguir a atenção das pessoas para essa explicação e fazê-las acreditar. E o futebol está longe de ser um exemplo de governança.
André Luiz Oliveira, ex-vice-presidente do Corinthians, foi levado a depor na PF — Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo
9. O que diz o Corinthians?
Na semana passada, o Timão emitiu a seguinte nota oficial:
– O Sport Club Corinthians Paulista comunica que não concluiu as negociações da cessão dos naming rights da Arena Corinthians. O clube continua empenhado e caso conclua quaisquer das negociações virá a público informar sua torcida.
No mesmo dia, o presidente Andrés Sanchez escreveu no Twitter que negocia 'com diversos interessados e espera ter, em breve, excelentes notícias para toda a torcida e os sócios'.
10. O que vem pela frente?
A venda dos naming rights deve estar no centro do debate da eleição presidencial do Corinthians, marcada para o dia 28 de novembro. Andrés Sanchez corre para fechar um acordo até lá, o que daria força ao grupo político dele.
Até membros da oposição acham possível que Andrés tire esse coelho da cartola às vésperas da eleição.
Nos bastidores do clube também há a expectativa para que haja algum anúncio em setembro, mês em que o Timão completa 110 anos.
Vale lembrar que esta negociação envolve não apenas o nome da Arena, mas um pacote maior de benefícios, tais como: exploração de camarotes e espaços comerciais do estádio, uso de redes sociais do clube, além de outras 'regalias', como fornecimento de camisas e acesso a áreas exclusivas do estádio. A complexidade e os valores envolvidos exigem tempo para a elaboração do contrato.
Acompanhe no ge as cenas dos próximos episódios dessa novela que já dura anos.
Onar outra parte.do em breve.