Passo a passo: os bastidores da invasão de torcedores ao CT do Corinthians
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Por Rodrigo Vessoni, Tomás Rosolino e Luis Fabiani
A sexta-feira foi um dia de bastante tensão no CT Joaquim Grava. Durante o treinamento do elenco profissional no período da manhã, um grupo de cerca de 40 torcedores organizados do Corinthians invadiu o centro de treinamento do Timão para realizar cobranças ao elenco e à diretoria após a equipe ser eliminada pelo Ituano no Campeonato Paulista.
O Meu Timão ouviu relatos de torcedores e pessoas ligadas aos jogadores para entender tudo que se deu nos cerca de 30 minutos da presença dos organizados no local. Confira abaixo!
O primeiro contato
O treino chegava ao seu fim quando os jogadores notaram a presença de pessoas diferentes no CT. Os primeiros torcedores a chegar ao gramado abriram um buraco em um alambrado e, em número muito maior que o de seguranças, partiram em direção aos atletas.
Sem poder conter o ímpeto dos invasores, os seguranças foram ao campo para reunir todos os atletas - a ideia era que se formasse um grupo maior e ninguém fosse "cobrado" em minoria. O treino obviamente foi encerrado e, já no primeiro momento desse encontro com os torcedores, o goleiro Cássio foi quem tomou a frente para mediar as conversas.
A performance recente de Cássio, bem como de outros jogadores mais experientes do elenco, foi algo elogiado por parte dos organizados ali presentes. Uma pessoa ouvida pelo Meu Timão, aliás, reportou que são sempre esses jogadores que tomam a iniciativa de dialogar e ouvir os torcedores.
Enquanto se dava essa conversa, quatro torcedores se deslocaram para a parte lateral do campo. Foram eles os responsáveis por erguer as faixas chamando o elenco de "incompetente" e pedindo a saída do diretor de futebol Roberto de Andrade.
O que foi pedido aos jogadores?
A principal cobrança por parte dos organizados foi por mais vontade e dedicação por parte do elenco do Corinthians. Ao longo da conversa, os torcedores citaram situações complicadas que já viveram para acompanhar o clube, inclusive foram dados exemplos de viagens internacionais com enorme dificuldade de deslocamento. Na percepção deles, isso deveria, ao menos, ser recompensado com maior entrega por parte dos atletas.
Alguns jogadores específicos foram citados como exemplo de dedicação ao Corinthians, mas nem assim passaram batidos pela cobrança. Pessoas próximas aos atletas, porém, relataram que o desconforto foi geral e, em alguns casos, houve expressão de revolta pela situação vivida no local de trabalho.
Mais de uma das pessoas ouvidas também se incomodou com a facilidade encontrada pelos invasores para entrar no CT. O fato de o buraco no alambrado ser logo ao lado da principal guarita de segurança também foi lembrado.
Quem estava no campo?
A maior parte do elenco ainda estava no gramado no momento do ocorrido, mas a atividade no campo 2 já havia sido dividida em alguns grupos específicos - por isso a iniciativa dos seguranças em reunir os jogadores em campo.
As ausências ficaram pelos atletas que realizavam tratamento médico, como o meia Renato Augusto, ou os jovens Guilherme Biro e Pedrinho, que haviam atuado pelo Sub-20 na quinta-feira e realizavam um trabalho regenerativo.
Quem representou a diretoria?
A cúpula do futebol corinthiano foi representada única e exclusivamente pelo gerente Alessandro Nunes. O presidente Duilio Monteiro Alves não estava no CT, enquanto o diretor Roberto de Andrade ficou em sua sala particular localizada dentro do centro de treinamento. Apesar de ser o principal foco da cobrança, não houve menção de qualquer torcedor se direcionando à parte interna do CT para confrontar Roberto de Andrade pessoalmente.
Procurado pela reportagem, Alessandro preferiu deixar a nota de repúdio do clube como uma resposta ao ocorrido. Roberto, por sua vez, disse ao ge.globo que só sai do Corinthians se o presidente quiser.
Lázaro "tímido" e Carlos Miguel elogiado
Fernando Lázaro ficou alheio à maior parte das cobranças dos torcedores do Corinthians. Seu nome foi citado em poucos momentos. Em um deles, aliás, recebeu uma espécie de "respaldo" da torcida para cobrar seus jogadores quando for necessário.
Surpreendentemente, quem esteve bastante envolvido no diálogo foi o goleiro reserva Carlos Miguel. O arqueiro foi um dos jogadores que tomou à frente no momento da cobrança, o que rendeu vários elogios até por parte dos torcedores presentes no CT. O goleiro, inclusive, tratou com naturalidade a insatisfação da torcida em entrevista exclusiva ao Meu Timão, logo após deixar o local.
A repercussão interna
Fontes ouvidas pela reportagem do Meu Timão afirmaram que o ocorrido foi suficiente até mesmo para repensar o envolvimento profissional com o futebol.
Integrantes mais antigos do clube disseram que a primeira impressão lembrou a invasão de torcedores ao CT na temporada 2014, quando houve agressão a atletas e um contingente de centenas de torcedores.
Um medo inicial chegou a existir, mas a situação não escalou a partir dali - todos concordaram que a quantidade de torcedores presente era muito menor e a abordagem, talvez por consequência disso, foi bem menos agressiva. Nos diversos relatos colhidos, porém, os presentes fizeram questão de ressaltar que a invasão em si já era inaceitável, independentemente de a conversa ter tom ameno ou não.