Ex-lateral do Corinthians relembra saída após insulto racista e culpa 'imediatismo' do clube
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Por Meu Timão
Danilo Avelar deixou o Corinthians em 2021 após fazer um insulto racista nas redes sociais
Danilo Fernandes / Meu Timão
O dia 23 de junho de 2021 ficou marcado na vida de Danilo Avelar. Enquanto tratava um rompimento do LCA no joelho direito, o lateral jogava uma partida de Counter Strike: Global Offensive (CS:GO) e naquele dia chamou um dos gamers de "fih de rapariga preta". O caso logo repercutiu nas redes sociais e o clube afastou o atleta.
Atualmente no América-MG, Avelar concedeu entrevista ao UOL Esporte e relembrou o caso, aceitando os erros e o que fez para contornar a situação. Por outro lado, apontou as falhas que o Corinthians teve no decorrer do processo e as diferenças para o clube mineiro.
"Infelizmente, acabei cometendo um ato durante um jogo que mudou bastante coisa no meu destino com o Corinthians. Mas não fico me lamentando, buscando coisas negativas. Entendi a dimensão daquilo. Sabia que ia se tornar uma coisa muito grande, porque eu era do Corinthians, clube do povo. Ainda mais com uma pauta tão importante como é o racismo", iniciou o jogador.
"Era uma oportunidade para levantar uma bandeira. O tema é racismo, vamos mostrar como se faz. Não só jogar fora. Se você não resolve o problema com ensinamento, com educação, não adianta, é só jogar sujeira debaixo do tapete. Eu também, talvez, poderia ter feito de forma diferente (no caso, Avelar publicou um comunicado pedindo desculpa), não uma simples nota. Poderia ter articulado melhor, ter dado a cara. Assim como eu não estava preparado, o Corinthians também não estava", completou.
Erros do Corinthians no processo na visão de Avelar
Logo após a denúncia, a torcida exigiu que o lateral deixasse o clube e assim o Corinthians o fez. Inicialmente o Timão disse que encerraria o contrato de Danilo Avelar, porém, o atleta seguiu treinando no CT Joaquim Grava até janeiro de 2022, mesmo que não tivesse sendo utilizado.
Depois, acertou seu empréstimo ao América-MG, onde segue até hoje. Fez sua primeira temporada emprestado e, quando seu contrato com o Corinthians chegou ao fim, assinou um vínculo definitivo com o clube mineiro. Avelar criticou a postura "imediatista" do Time do Povo no decorrer da situação.
"Simplesmente excluir não resolve o problema, tem que encarar. Acho que ali, diante das circunstâncias que o clube encontrou, da pressão de torcida, de patrocinadores, tomou uma atitude imediatista. Falaram em rescisão, mas viram que não é tão simples assim. Às vezes toma uma atitude, fala alguma coisa no calor do momento, depois vê que é difícil contornar. Analisando hoje dava sim —e eles sabem que dava— para ter um outro rumo. Não digo nem de ficar no Corinthians, mas mostrar para as pessoas como se faz diante de uma situação tão delicada", apontou.
"Eu tenho um lado que entende a postura do Corinthians. Assim como eu não estava preparado para entender sobre o tema, acho que o clube também não estava. Se estivesse preparado, daria para ter conduzido de outra forma", concluiu Avelar.
Na sequência, o ex-lateral corinthiano apontou como o Timão poderia ter lidado com a situação. No seu ponto de vista, o clube tinha condições de tomar atitudes mais bem pensadas.
"É fazer uma reciclagem. Não vou nem falar em um atleta do Corinthians, mas no ser humano. O clube tem totais recursos para ter as melhores instruções possíveis em uma situação de crise, ver como realmente é a pessoa, mostra como fazer. Fala para o mundo inteiro: tivemos um problema interno, mas fizemos isso", explicou.
"Acho que essa seria a maior resposta. Poderia até me mandar embora depois, não ficar comigo. Lógico, eu que cometi o erro e preciso correr atrás das situações. Só que, como eu estava atrelado ao Corinthians, então, o pensamento poderia ser: 'pera aí, vamos dar a mão e tentar resolver a situação'. Ou cada um por si. Foi mais ou menos isso que aconteceu", complementou.
Diferença no América-MG
Já em solo mineiro, o jogador aponta que seu novo clube lidou com a situação de forma mais satisfatória. Ainda, disse que o América-MG é mais atento a questões da sociedade.
"O clube me abriu as portas. Seja pelo lado pessoal por mostrar aos torcedores como se faz, dar oportunidade de fazer uma reciclagem, ensino. E como atleta profissional. Aqui, encontrei um ambiente acolhedor, super engajado nas questões da sociedade. seja racial, homofóbica, a desigualdade. Estão sempre atentos aos temas. Sinto que estou em um lugar acolhido, preparado, protegido e pronto para fazer um bom trabalho. Por isso que permaneci, mesmo contra as propostas. Sei que aqui, eu posso evoluir cada vez mais como profissional e ser humano", explicou.
Após o caso, Avelar afirma ter se informado mais sobre as pautas raciais, além de fazer cursos e ter se engajado mais na causa. Recentemente, o jogador participou da ação "Wakanda é Nois", que levou mais de 400 pessoas de comunidades carentes para assistir Pantera Negra 2 no cinema.
Pelo Corinthians, Avelar entrou em campo 110 vezes, sendo 43 vitórias, 35 empates e 32 derrotas. Além disso, marcou 12 gols. Pelo América-MG já são 30 jogos, um gol e duas assistências.
