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Drogba, Sócrates e Corinthians
Lucas Faraldo

Editor e apresentador no canal do Meu Timão no YouTube

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Drogba, Sócrates e Corinthians

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Opinião de Lucas Faraldo

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Drogba, Sócrates e Corinthians

Drogba é mais que um ídolo futebolístico na Costa do Marfim

Possível contratação do Corinthians para a temporada de 2017, Didier Drogba é um daqueles casos raros de estrela do futebol cujo brilho vai além das quatro linhas. A exemplo do que Sócrates – talvez o maior ídolo da história corinthiana – fez em terras brasileiras no início da década de 80, o jogador marfinense de 38 anos teve papel de destaque no cenário sócio-político de seu país-natal.

A semelhança entre as histórias de Drogba e Sócrates não foi descoberta por este que aqui lhes escreve. Em 2012, o cineasta francês Gilles Rof produziu um documentário intitulado Les Rebelles du Foot (Os Rebeldes do Futebol) e dividido em cinco episódios – dois dos quais protagonizados justamente pelos ídolos de Costa do Marfim e Brasil.

A história de Sócrates chamou atenção de Rof mesmo tendo sido escrita havia 30 anos e a quase 10 mil quilômetros de sua Marseille. O eterno camisa 8 do Timão, como muitos já sabem, foi um dos pilares da Democracia Corinthiana, movimento que pregava decisões coletivas e incitava discussões e ações democráticas entre jogadores e torcedores em meio à Ditadura Militar do Brasil.

Por motivos óbvios, a história de Drogba é bem menos conhecida entre a Fiel (mas não menos importante) do que a de Sócrates. E é por isso que será contada aqui.

Ídolo máximo do futebol marfinense, o já renomado atacante foi o principal responsável pela inédita classificação de sua seleção, em 2005, a uma Copa do Mundo. Naquela ocasião, se tornou uma espécie de ícone para sua nação – crianças, jovens, adultos, idosos, homens, mulheres... Todos, em todos os cantos da Costa do Marfim, se orgulhavam de Drogba. Dois anos após o épico feito futebolístico, contudo, é que o atacante marcaria seu gol mais importante pelo país-natal.

Enquanto vivia a realização de sonhos atrás de sonhos com a camisa do Chelsea, na Inglaterra, e da Costa do Marfim, onde quer que a seleção jogasse, Drogba via sua nação dividida. Não como Blues ou Reds nas já tão familiares arquibancadas inglesas. Mas sim por conta de uma guerra civil marcada por inúmeros crimes contra a humanidade, como assassinatos, estupros e outras barbáries.

Grupos rebeldes, tentando tomar à força o Governo da Costa do Marfim, ocuparam Bouaké (segunda maior cidade do país) em 2002 e por lá permaneceram até 2007; o exército local, por sua vez, tinha em Abidjan (maior cidade do país e local onde Drogba nasceu) seu principal foco de resistência.

Ao receber sua primeira Bola de Ouro da África (prêmio de melhor jogador do continente), Drogba tomou uma decisão que viria a ser considerada o símbolo do fim da Primeira Guerra Civil da Costa do Marfim: discursou em Abidjan avisando que embarcaria num avião rumo a Bouaké, para onde levaria seu troféu recém-conquistado. Na "cidade inimiga", parou a guerra e foi acolhido como uma divindade por uma multidão de fiéis – de rebeldes armados até os dentes a crianças desdentadas vítimas da guerra.

Poucas semanas depois, um acordo de paz assinado por rebeldes e a alta cúpula do Governo selou a reunificação do país. Drogba foi considerado pela população local o principal responsável pelo fim da guerra que já se arrastava por longos cinco anos.

E agora, passada uma década, este mesmo cidadão pode pintar no Parque São Jorge. Mais do que o campeão da Champions League ou o tetracampeão da Premier League pelo Chelsea. Mais do que o maior artilheiro da história da seleção marfinense de futebol. Trata-se de algo que, se for concretizado, transcenderá o reforço técnico ao elenco ou o retorno financeiro ao marketing do clube.

Assim como Sócrates, Drogba é mais que um craque. E parece querer o destino que o Corinthians, mais uma vez, abrigue um rebelde do futebol.

Veja mais em: Mercado da bola e Drogba.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Lucas Faraldo Knopf

Por Lucas Faraldo Knopf

Jornalista pela ECA-USP e ex-Esporte Interativo, Jovem Pan e Lance!. Hoje trabalha no Meu Timão. Autor do livro 'Impedimento - Machismo, racismo, homofobia e elitização como opressões no futebol'.

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