Coisas que poucos sabem do primeiro treino aberto da Neo Química Arena
Opinião de Danilo Augusto
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Neste sábado, um lembrete do Instagram me marcou numa memória de seis anos atrás. Se tratava do primeiro treino aberto da Arena Corinthians, que viria a se chamar Neo Química Arena. Pelo incrível que pareça, não foi o Corinthians quem fez a estreia (não ao menos o Paulista). Foi outro Corinthian-Casuals, nosso irmão inglês, quem fez.
Dias antes do amistoso de 2015, havia a vontade dos jogadores da equipe inglesa de fazer o reconhecimento de gramado, e em meio a uma noite de ensaio de carnaval da Gaviões da Fiel em que os atletas do clube londrino festejavam na quadra da torcida, veio a ideia de um treino aberto no novo estádio do Timão.
Na mesma noite ainda, o departamento social dos Gaviões, sugeriu a doação de um quilo de alimento não perecível como entrada. Isso era uma terça-feira, dia 20 de janeiro de 2015. O Corinthians Paulista aceitou a ideia e o treino aberto, com 1kg de alimento de entrada ficou marcado para a próxima sexta-feira, três dias depois (23 de janeiro de 2015).
Durante essa semana, alguns membros da equipe estavam hospedados na minha casa, então pude participar de tudo. Desde a chegada deles, até a festa depois da partida. Então, no dia do treino, fui no ônibus deles para a Arena, junto com o time.
Os atletas sabiam que teriam torcedores lá, mas ninguém sabia se iriam somente uns dez corinthianos fanáticos ou algumas centenas de torcedores. Os ingleses, que estavam acostumados a jogar para um público de 80 pagantes, não imaginavam como seria a recepção no Brasil.
O clima era de festa durante o trajeto do Centro a Itaquera, até entrar no estacionamento E3 da Neo Química Arena. Chegando lá, por algum motivo o motorista do ônibus teve certa dificuldade em estacionar, enquanto a ansiedade e a curiosidade aumentava pela questão de se haveria público ou não.
A dúvida acabou quando, já dentro do estádio, dava para ouvir torcedores cantando. Estávamos ainda dentro do ônibus, mas dava para ouvir. Haviam torcedores, bastante, só não sabíamos quanto.
Assim, o silêncio foi geral, ninguém falava um "a", na expectativa de ouvir melhor o som e tentar imaginar quantas pessoas estavam lá.
Enquanto isso o motorista seguia manobrando insistentemente tentando parar perfeitamente ao invés de simplesmente abrir a porta do ônibus.
Todos já estavam de pé, perto da porta, até que finalmente fomos liberados.
Com a roupa do corpo, sem chuteira, sem nada, todos desceram do veículo, passaram direto do vestiário e foram direto para o gramado. Direto mesmo. Enquanto subíamos a rampa que dá acesso ao campo, a torcida viu o movimento do time chegando e começou a cantar mais alto.
Os atletas sentiram a recepção e começaram a correr de encontro à torcida. Havia cerca de três mil torcedores lá. Muito mais do que qualquer um de nós imaginava, se tratando de um treino de uma equipe da oitava divisão da Inglaterra (agora sétima) numa sexta-feira a tarde.
Muitos se emocionaram enquanto atravessavam o gramado, seguramente eu fui um deles. Os atletas fizeram questão de fazer uma espécie de "volta olímpica" cumprimentando e tirando fotos com os torcedores. Só depois treinaram.
Os torcedores que presenciaram o treino trouxeram cerca de cinco toneladas de alimentos não perecíveis. Depois do treino nós ajudamos a carregar o caminhão que faria a entrega das doações. Em meio à chuva, fiz esse registro abaixo onde dá para ver um pessoal do Corinthian-Casuals, dos Gaviões da Fiel, alguns torcedores e até um rapaz com o braço quebrado que ajudou a carregar tudo, em frente ao caminhão com os alimentos.
Relembro com tantos detalhes pois acredito que esse foi o melhor momento que vivi como corinthiano. É sério! Não foi um gol, ou uma conquista de um título, foi ver a torcida comemorando a entrada do time enquanto o próprio time, emocionado, comemorava a presença da torcida. Um relação única, inexplicável, de amor mútuo.
O Corinthians é foda...
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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