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Em pedido constrangedor a Cuca, Duilio desafia torcida e até patrocinadores do Timão
Lucas Faraldo

Editor e apresentador no canal do Meu Timão no YouTube

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Em pedido de socorro a Cuca, Duilio desafia torcidas, artistas e até patrocinadores do Corinthians

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Em pedido de socorro a Cuca, Duilio desafia torcidas, artistas e até patrocinadores do Corinthians

Após Mancini, Sylvinho, Vítor Pereira e Fernando Lázaro, Duilio vai para quinta aposta de técnico em 2 anos e meio

Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

A escolha do Corinthians por Cuca é um desrespeito muito grande com parte da torcida sobre um tema muito delicado que machuca muita gente. Não cabe ao clube julgar ninguém, mas também não deveria jamais dar palanque de técnico de futebol do Corinthians a alguém condenado por estupro coletivo contra uma menina de 13 anos. Técnicos e jogadores são figuras de idolatria no futebol, servem de exemplo pra torcedores e crianças.

O Corinthians especificamente também se coloca nesse papel exemplar frente à sociedade da qual faz parte. Desde suas origens, é um clube que abraça os excluídos e luta por justiça social dentro e fora de campo, com jogadores e torcedores. E Duilio Monteiro Alves, filho e neto de quem é, sabe disso tudo.

Diferente de muitos que não conhecem ou escolhem não dar importância à história do clube, Duilio não só está ciente do que significa socialmente o Corinthians como cansou de usar desse papel social do clube em campanhas de marketing como o Respeita as Minas e a Democracia Corinthiana. Hoje tudo isso soa hipócrita.

O presidente do Corinthians, desesperado em ano eleitoral à frente de um mandato ainda fracassado esportivamente, mudou de ideia: optou por deixar a bandeira de "Time do Povo" de lado em troca de um constrangedor pedido de socorro a Cuca na tentativa final de ser campeão. Dentro das quatro linhas, é sabido que o técnico em questão tem mais competência que seus antecessores no time alvinegro. Mas...

"Não podemos abrir mão da nossa história por pensar somente em títulos", resumiu a Pavilhão Nove em uma das revoltadas notas de repúdio de torcidas organizadas publicadas nas redes sociais. Todas, com exceção da Gaviões da Fiel, se posicionaram nessa quinta-feira contra a contratação de Cuca.

Quem também não concordou com a escolha são os principais artistas corinthianos que hoje representam o clube na cena muitas vezes em eventos promovidos pelo próprio Corinthians. Foram os casos de MC Hariel, Alessandra Negrini e Lucas Inutilismo, por exemplo, que criticaram publicamente a escolha de Duilio por Cuca em publicações feitas pelo clube nas redes sociais.

Aliás pra quem acha que a reação negativa a Cuca no Corinthians é "coisa de rede social", imagine o que os patrocinadores do clube estão achando da repercussão entre os mais de 30 milhões de seguidores que o time tem nas principais plataformas digitais. Devem estar ansiosos pra ver suas marcas estampadas na apresentação do técnico...

Apresentação, aliás, que será marcada por protesto de um grupo de torcedoras na porta do CT a poucos metros da sala onde Cuca falará pela primeira vez como técnico do Corinthians.

A sensação é de um grande atestado de incompetência de Duilio como gestor de futebol, que em outras oportunidades refutou essa possibilidade de treinador pelo histórico criminal e agora viu em Cuca, talvez o nome mais impopular possível para uma parcela significativa de torcedores, sua única aposta de técnico pra essa nova correção de rota. Dá as costas para seu maior patrimônio, a torcida. Enquanto corre desesperado tentando corrigir erros da própria gestão de futebol.

A condenação de Cuca

Não quero me aprofundar no mérito da condenação porque, assim como falei sobre o Corinthians, não cabe a mim julgar. Pelo contrário: a partir de domingo, quando o time comandado pelo novo técnico entrar em campo, será também parte do meu trabalho analisar o desempenho esportivo de Cuca.

Mas a título de informação, já que muitas teses "passando pano" para o crime em questão vêm sendo espalhadas por torcedores na internet, fica o registro de uma reportagem de 1989 do jornal Der Bund, da Suíça, onde o então jogador foi condenado por estupro contra vulnerável:

"(...) Os quatro jogadores de futebol foram presos e interrogados na mesma noite. Durante o primeiro interrogatório, eles negaram ter tocado na garota.

No segundo interrogatório, ocorrido alguns dias depois, no entanto, eles confessaram a relação sexual, com exceção de Fernando.

No entanto, eles afirmaram que nada havia acontecido contra a vontade da menina. A garota se divertira com tudo, segundo afirmaram. O que os levou a comentar que a garota "provavelmente não era normal".

Nesse segundo depoimento, eles confessaram novamente a relação sexual, novamente com exceção de Fernando.

O relatório forense mais tarde mostrou vestígios de esperma dos dois jogadores, Alexi (Cuca) e Eduardo, no corpo da menina (...) De acordo com o médico que a trata, a menina sofre de graves transtornos mentais desde aquele incidente e, entre outras coisas, tentou suicídio na primavera passada."

A justificativa de Cuca, relatada em reportagens da época, foi de que a menina de 13 anos aparentava ter 18 anos. O advogado dele e dos outros jogadores do Grêmio envolvidos no crime admitiu na época que, entre os jogadores, um cometeu o ato sexual completo, outro sexo oral, um terceiro fez carícias na vítima e um quarto assistiu à cena de forma conivente.

A justiça suíça condenou os jogadores, entre eles Cuca, a 15 meses de prisão, pena nunca cumprida uma vez que eles nunca voltaram à Suíça e nossa legislação não permite a extradição de brasileiros.

Em entrevista concedida à jornalista Marília Ruiz 34 anos após o crime, Cuca deu sua versão atual sobre o estupro coletivo. Ele negou participação e alegou que a menina estuprada não o reconheceu.

Veja mais em: Duílio Monteiro Alves, Diretoria do Corinthians, Cuca, Técnicos do Corinthians e Fernando Lázaro.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Lucas Faraldo Knopf

Jornalista pela ECA-USP e ex-Esporte Interativo, Jovem Pan e Lance!. Hoje trabalha no Meu Timão. Autor do livro 'Impedimento - Machismo, racismo, homofobia e elitização como opressões no futebol'.

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