As voltas do mundo em 40 anos
Opinião de Wladimir
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Primeiramente, gostaria de agradecer os gestores do portal Meu Timão pelo convite. É uma honra colaborar com um trabalho sério, que reflete o melhor do espírito corinthianista.
Quero também cumprimentar você, leitor, que compõe a mais incrível e apaixonada torcida de futebol do mundo. Você foi a razão do meu trabalho no futebol, desenvolvido, sobretudo, em 806 jogos com a camisa do alvinegro do Parque São Jorge.
Nestes artigos, quero, com você, analisar e compreender esse doce mistério chamado Corinthians.
Fico feliz em poder começar tratando da decisão de outubro de 1977, quando quebramos um jejum de títulos que já durava 22 anos, oito meses e sete dias.
Esta epopeia ocorreu há 40 anos e agora será repetida justamente na decisão do Campeonato Paulista. Que feliz coincidência!
Passei a jogar no time principal do Corinthians em 1972. E eu já sentia a ansiedade da torcida, que havia conquistado seu último título importante em 1954, ano do meu nascimento, com aquele time fantástico de Idário, Cláudio, Baltazar e Luizinho Pequeno Polegar.
Era um clube muito grande, gigante, para ficar tantos anos na fila.
Em 1974, parecia que daríamos essa grande alegria à Fiel, mas o Palmeiras nos superou na final. Foi um trauma para todos.
Depois, em 1976, invadimos o Maracanã, superamos o Fluminense e nos classificamos para a decisão do Brasileiro. Em uma final de um jogo só, caímos diante do Internacional, em Porto Alegre.
Em 1977, sabíamos da ansiedade de todos os corinthianos. Não podíamos deixar passar mais uma oportunidade. Fizemos jogos difíceis e, com garra, avançamos à final, contra a Ponte Preta, que tinha um ótimo time.
Como atletas, sabíamos da nossa responsabilidade. O título nos colocaria em um lugar muito especial na história do clube. Afinal, naquela época, o campeonato mais valorizado era justamente o Paulista.
Agradeço e levanto as mãos para o céu por ter atuado naquele time e por ter auxiliado naquela conquista que recolocou o Timão no caminho das glórias.
Nunca consegui dissociar minha vida profissional da minha vida como cidadão. Naquela época, ainda vivíamos um regime de exceção, sem liberdades democráticas e com parte considerável da população muito excluída e empobrecida.
O que eu mais queria, confesso, era dar alguma alegria para aquelas pessoas, muitas delas humildes, que frequentavam a arquibancada, que gastavam o restinho do salário com o Corinthians e para as quais o futebol era o remédio contra as dores do mundo.
Eu entrava em campo e pensava naquela gente simples, naqueles pais de família, naqueles jovens, no que sentiam, e em como sofriam com o time do coração. Então, 1977 foi uma oportunidade de gerar essa satisfação para a torcida.
Francamente, a gente não suportaria mais uma derrota. E isso eu senti perfeitamente naquela noite de 13 de Outubro de 1977, quando entramos em campo no Morumbi, para o terceiro jogo da final.
Havíamos vencido a primeira partida com aquele gol de cara de Palhinha. E tínhamos sido derrotados no domingo, por 2 a 1.
Portanto, no tira-teima, estávamos muito focados e obstinados. Senti que, naquela noite, a gente ganharia até de uma hipotética seleção do mundo. Eu olhava para meus companheiros no vestiário e via o “sangue no zóio” de cada um.
Você, leitor, pode rever o jogo e vai comprovar que estávamos atuando com garra e organização antes da expulsão do pontepretano Rui Rei.
O futebol é uma modalidade coletiva. Então, para ter sucesso, é preciso que todos estejam sintonizados, com um mesmo grau de comprometimento. Se um está pensando no jogo e outro está planejando as férias, o bom resultado não vem.
Naquela final, havia essa atmosfera de união por um objetivo. Podíamos jogar, repito, contra uma seleção dos melhores do planeta e tenho certeza de que seríamos bem-sucedidos. Era vencer ou vencer.
Como eu disse, em termos de conjunto e coletividade, a Ponte Preta tinha um time considerado superior ao nosso, com atletas muito qualificados, como o goleiro Carlos, o zagueiro Oscar e os meias Marco Aurélio e Dicá.
Além da tática estabelecida pelo nosso técnico, o grande Oswaldo Brandão, contávamos somente com nosso esforço, foco e empenho. E foi assim que conseguimos o 16º título.
Nesta decisão de 2017, considero que os times se equivalem. Talvez a Ponte tenha uma mínima vantagem. A jovem equipe de Carille ainda tem muito que se aprimorar. Ainda falhamos muito nos passes e lançamentos, com um índice de erros muito alto.
Talvez o time esteja um pouco inseguro ainda. Pois não consegue realizar no campo as jogadas articuladas nos treinos.
Temos uma vantagem, que é fazer o último jogo em casa, com apoio de nossa fantástica torcida. Nossos atletas vão jogar pressionados, mas respaldados, o que pode lhes dar mais confiança.
Penso que podemos vencer se formos Corinthians. Se tivermos a garra e a união daquele maravilhoso grupo de 1977.
Naquele jogo final, o Vaguinho teve a chance de marcar, e mandou na trave. Depois, tive eu a oportunidade. Cabeceei o mais forte que pude (fique uma semana com dor no pescoço) e a defesa da Ponte salvou. Aí, veio Basílio e sacramentou o gol.
Lógico, todos nós queríamos ter mandado a bola para as redes, mas todos contribuímos para aquele triunfo. O mais importante foi o espírito de união de toda a equipe. Todos por uma causa.
O mundo deu muitas voltas nestes 40 anos, mas se os jogadores de 2017 pensarem assim, de forma coletiva, com a velha garra corinthiana, tenho certeza de que vamos conquistar o 28º caneco.
Obrigado a todos os fiéis e: vai, Corinthians!
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.