Serge Roizman
Fui com meu pai, corianthianissimo como eu e meu tio palmeirense de quatro costados. Morumbi gelado. E no intervalo, enquanto meu tio se deslumbrava e cobrava apostas e coisa e tal, o sentimento era de enterro para o meu velho e pra mim. O desespero era tanto que até um garoto da base, um tal de Adãozinho, foi para o jogo. Mas aí saiu aquele primeiro gol nosso logo de cara no segundo tempo. Ai já dava pra sentir que o empate viria de um jeito ou de outro. E vejo nos pés do Adãozinho. Ai foi festa geral, eu abraçando meu velho….E aí eles dão a saída e desempatam de novo. Ai foi a vez do meu tio pular e vibrar como nunca. Enquanto que nós quase chorávamos de desespero… Mas ai eu comecei a sentir que algo diferente e maluco estava pra acontecer. E quando o Tião me empata o jogo, sinceramente chorei como nunca nos braços do meu velho. Só que tinha mais jogo. E aí acho que pela primeira e única vez na minha vida eu vi pânico, terror nos rostos de todo mundo que estava naquele canto do estádio. Corianthianos e palmeirenses. Ninguém tinha a menor ideia do que ia acontecer. Mas eles tinham mais time, e aos poucos foram chegando mais perto do nosso gol. Estava difícil de resistir. Até que aquele mesmo moleque predestinado, o Adãozinho, pega uma bola no lado direito do campo, no meio de campo mesmo e vislumbra um passe genial para o Mirandinha. E na corrida, no embalo, arranca pra fazer o nosso quarto gol. Mais choro, abraços, berros e muita emoção. E quando o jogo acabou, me lembrei do meu tio palmeirense. Virei pra ele. E ele então sorriu pra mim e sem tristeza e rancor, disse…”que jogo, hein? Outros tempos. Quando o futebol era só futebol. Graças a Deus… Acho que toda geração tem um derby pra se lembrar. Nesse sentido, sou realmente um privilegiado. Acho que vi o maior deles….
em História > 1971 - Corinthians 4x3 Palmeiras
