Antes de mais nada: para o torcedor que diz que não temos opções ofensivas e de criatividade no campo e que esse elenco é ruim, com o devido respeito, só posso dizer uma coisa: vocês estão redondamente enganados. Há todo um catálogo de evidências do poderio de jovens da base e até mesmo de Araos, ainda no tempo de Mancini, aonde até os zagueiros iam ao ataque... Ganharam do Santos e empataram com o mesmo São Paulo em 2 a 2. Podem ter certeza: se Adson, Gabriel Pereira, Mandaca e um dos centroavantes da base estivessem em campo no mesmo esquema tático de ontem, não teríamos perdido esse jogo.

Alguns exaltam a defesa do Corinthians dizendo que é a quarta melhor defesa do campeonato... Mas se esquecem que, essa é a 8ª rodada com muito equilíbrio entre os times, com os mesmos tendo sérios problemas financeiros e táticos. O Corinthians perdeu para o líder por 2 a 1 sendo um retranqueiro e previsível pra atacar. Uma retranca que mal busca ofensividade com inteligência tática é uma retranca burra. E desde o tempo do Carille eu criticava isso, minhas análises mais antigas possuem jogos com ele. Com olhos analíticos, vamos ver o jogo e os erros dos dois times. E aí entenderão que, se Sylvinho foi covarde, faltou leitura ao técnico do São Paulo em explorar a jogada certa.

PRIMEIRO TEMPO

O Corinthians veio num 4-1-4-1 tanto ofensiva quanto defensivamente. O São Paulo veio num 5-1-3-2 ofensivo-criativo, alternando para um 3-1-4-2 ou 3-4-3 em ataque, com o objetivo de pressionar e ganhar o meio-campo com superioridade numérica.

Os primeiros 5 minutos, como era de se imaginar pelas estratégicas, ficou preso no meio-campo. O Corinthians fazia marcação alta quando conseguia induzir o São Paulo a tocar atrás, e obedeciam ao princípio do Pep Guardiola: se não conseguisse roubar a bola em 6 segundos, recuavam para a marcação média. São Paulo tentava fazer a mesma, porém um pouco mais posicional.

É por isso que Vitinho ficava apagado: como ele é meio-campista, o São Paulo fazia um quadrado ou um pentágono pelo meio, automaticamente barrando qualquer passe pelo meio. Ao mesmo tempo, induzia o Corinthians a tocar pelos lados – e sabendo que atacariam mais com Gustavo Silva, eles tinham tempo pra marcar.

E diferente do jogo horroroso contra o Fluminense, o Corinthians marcava por zona ao invés de em linha. Era por isso que o Corinthians conseguia marcar com certa eficiência. Mas tinha vezes em que a linha defensiva quase falhava, como no bom lance do São Paulo aos 24 do primeiro tempo em que João Victor, mal posicionado, ainda conseguiu tirar de carrinho.

Outro motivo pela qual o Vitinho pegava pouco na bola para criar jogadas era o Jô: ele recuava muito para fazer mais o papel de falso 9 e de alguém que faz a parede do que um 9 em si. O Corinthians fazia muita ligação direta da defesa para o ataque mais na direção de Jô, e mal havia criação de jogadas.

E nem é preciso dizer que Cantillo era fortemente marcado pelos atacantes e por Daniel Alves. Marcando tanto ele quanto Vitinho, era certo o impedimento das criações do Corinthians.

Como podem ver, realmente o jogo ficou preso no meio-campo. O São Paulo conseguiu ser mais efetivo por barrar Cantillo e induzir o Corinthians a tocar pelos lados. Por outro lado, os alas eram barrados com facilidade.

Esse é um mapa de jogadas em construção que foram impedidas, o chamado tackle. Por aí vocês podem ver que o São Paulo (azul) barrou mais o Corinthians pelos lados, fazendo marcação média. Já o Corinthians (laranja) impediu com mais ênfase no lado direito – depois retomarei esse fato. Quem impediu mais foi Gabriel (3 vezes) e depois Vital e Cantillo (2 vezes) – para quem fala que Vital é ruim pra recuar, isso prova que não é verdade. Liziero impediria 4 lances do Timão.

Esses são as interceptações. Notem, novamente, que a marcação média foi a necessidade – e o de São Paulo em marcar pelo lado do Gustavo Silva. Novamente Gabriel lidera com 3 interceptações.

Esse mapa mostra a perda de posse de bola. Notem que o São Paulo perdeu mais bolas pelo lado de Fagner, enquanto o Corinthians perdeu bolas com mais frequência pelo lado do Gustavo Silva.

Esse mapa de passes mostra em definitivo o quanto o jogo das duas equipes foi presa no meio-campo. E mostra o quanto o ataque pelos lados foi uma preferência das duas equipes – embora o meio fosse um pouco mais explorado em termos de passes pelo Corinthians, apenas por causa do Jô.

SEGUNDO TEMPO

O jogo começou um pouco mais intenso dos dois lados, mas com os mesmos princípios de marcação. Num lance de ataque, Vital conseguiu sair de dois marcadores do São Paulo e fez o que ele sabe fazer de melhor, que é sair da marcação correndo para o meio e tocando. Nesse caso, ele inverteu para Fagner e aconteceu todo um lance em que o lateral meteu uma bomba e Volpi defendeu de manchete. Esse lance serviu para mostrar quem é realmente Mateus Vital e qual é a real função dele, que não é a de um ponta.

Em dado momento, Marquinhos entrou no lugar do Gustavo Silva. Ele é ponta-esquerda, mas colocaram ele na direita – embora ele tenha jogado como ponta-direita esse ano no Sport. Bem depois, Gabriel sai e entra Roni. Depois, Xavier entra. A ideia era velocidade pelos lados, explorando Vital e Roni junto com Fagner. E o melhor lance foi no final, aos 40 minutos, quando Marquinhos cruzou para Vitinho muito bem posicionado, mas ele não conseguiu fazer o gol.

OUTROS DETALHES

Posicionamento médio dos jogadores

Notem que, se ambos os times tivessem criado mais pelo meio do que pelos lados, os perigos seriam maiores. É por isso que eu queria Adson na equipe no lugar de Vital, com Vitinho pelo lado esquerdo e mais tarde entrando Varanda na esquerda, porque assim os perigos pelo meio seriam bem mais enfáticos.

Direções de ataque

Esse mapa prova definitivamente que o Corinthians ataca bem mais pelos lados do que no meio, coisa que venho falando há tempos. No segundo tempo, o Paulo atacou mais pelo lado do Fábio Santos e criou mais perigos, porém Liziero era pouco acionado, e aí vocês tem a noção do que Daniel Alves sofreu. E Vital nem foi o mais acionado pelo lado esquerdo, mas sim Fábio Santos.

Finalizações

Notem que o Corinthians finalizou mais do que o São Paulo, e muitos desses lances foram de média distância. Ambos deram 3 chutes a gols, mas o Corinthians chutou 5 pra fora e o São Paulo 4. Uma bola do Corinthians foi na trave e 2 chutes foram bloqueados, enquanto o São Paulo teve 1 bloqueado. Ambos deram 6 chutes na área do pênalti, mas 4 chutes do Timão foram de fora da área, e o tricolor daria 2 dessa distância. 5 dessas finalizações de ambas as equipes fora de bola rolando, mas 5 finalizações do Corinthians foram de alguma bola parada e o São Paulo teria 3 finalizações assim. 3 passes-chave foram pelo lado direito, do Gustavo Silva, e apenas 1 do lado esquerdo, e isso prova que houve desonestidade coletiva com Mateus Vital.

E falando em Mateus Vital...

O Footstats diz que Vital não errou nenhum passe, enquanto o SofaScore diz que ele errou 1. Ainda assim, ele criou 3 lances-chave, finalizou uma vez a gol e um bloqueado, interceptou 1 passe e desarmou 2 vezes. Quem diz que Vital jogou mal, certamente não sabe analisar taticamente um jogo – inclusive alguns ditos comentaristas.

Zona de jogo

O jogo foi muito equilibrado porque foi ruim. Por uma diferença de 5%, o nosso campo reteve mais a bola. 55% foi no meio-campo, mostrando o quanto o jogo foi pegado neste espaço, como dito no início.

QUAIS FORAM AS FALHAS DOS TIMES?

O São Paulo falhou em não explorar Daniel Alves com Liziero pelo meio para que os atacantes fossem mais beneficiados . Outra falha mais berrante foi não ter atacado pelo lado do Fábio Santos, pois ele tem fortes dificuldades de recomposição defensiva: os maiores perigos do São Paulo foram daquele lado. Me surpreendeu o fato do São Paulo não ter explorado esse ponto, já que esse é um fato conhecido.

Sobre o Corinthians, no jogo de ontem, realmente era pra explorar os lados como Sylvinho gosta, por causa dos ataques dos dois lados. A falha do Corinthians foi em não explorar os passes pelo meio de forma rápida com Vitinho. Preferiram explorar Jô pra que ele ganhasse no corpo e tocasse para alguém perto, o que não é nem de longe a opção ideal. Outra falha do Corinthians foi em pedir para o Jô fazer a parede com mais frequência, porque quando ele conseguia fazer isso, cadê ele na área? Jô não tem mais velocidade pra isso.

Outra falha berrante do Sylvinho foi fazer apenas 2 substituições, provando que realmente ele é ignorante com as peças que tem em campo. Gabriel Pereira ou Adson poderiam ter entrado no lugar do Mateus Vital para dar poder de passe e alternar de posição com Vitinho. Seria muito melhor esta opção do que o Roni – até o Mandaca poderia ter entrado. Além disso, Felipe Augusto ou Cauê poderiam entrar no lugar de Cantillo para serem mais uma opção na área.

CONCLUSÃO

Não lembro em qual jogo eu disse, após criticar duramente Sylvinho pela previsibilidade, que um dos poucos times que essa estratégia daria certo, talvez era o São Paulo. E esse jogo provou que eu estava certo. Até porque esse jogo realmente era para o Jô. Se o Jô tivesse na área com mais frequência, daria certo. Mas faltou inteligência ao Sylvinho em colocar as peças certas

Esse jogo provou três coisas: primeiro, que o Sylvinho gosta de jogar só com pontas e volantes, sem meia-de-criação e somente com Cantilo como pivô/regista, e atacar só pelos lados e cruzar na área. Isso é o que ele fez desde o início, e o time não tem poder criativo exclusivamente entre os meias porque Sylvinho não quer isso. Segundo, que o técnico não conhece o poder do elenco que tem, o poder da base e em quais posições os jogadores rendem mais. Vitinho, apesar de ser um bom meia-de-criação, rende mais como meia-esquerda, isso pra começo de conversa. E terceiro, Sylvinho tem medo de arriscar e tem medo de perder. Mancini não tinha esse medo: ele colocava os jovens, queria um time ofensivo, tinha forte poder criativo quando os jovens estavam – e quando Gil e Fábio Santos jogavam, arruinavam todo o esquema, o primeiro jogo contra o Huancayo que o diga.

O próximo jogo será contra o Internacional, um time que também está em má fase. Se eles criam bons lances individuais e são bons em roubar bolas, eles são péssimos em impedir chances perigosas, são péssimos defensores, perdem o mano-a-mano, não conseguem impedir passes longos e são péssimos em defender bolas paradas. Acredito que eles serão mais fáceis de marcar, já que atacam muito pela esquerda. Mas será que Sylvinho será, pela primeira vez, ofensivo? Vocês só podem dizer que o Corinthians não tem condições de ficar em 5º no Brasileirão quando o Corinthians colocar por mais tempo os jovens, respeitar as características deles e jogar mais pelo meio . Até lá, achar que o time é fraco não passará de mero achismo.

VAI CORINTHIANS!