Thiago Medeiros
Vem muita coisa à cabeça depois de uma derrota como a desta quarta-feira, contra o Flamengo. Passamos por técnico, jogadores, diretoria. Não conseguiria organizar tudo em um texto corrido, tamanha a quantidade de motivos de insatisfação. Diante disso, vou soltar em tópicos:
1) O Sylvinho é mais conservador do que pensávamos. E, não adianta: ser conservador no futebol (e na vida) cobra seu preço mesmo se você persiste no acerto. E não é o caso.
2) Ele não mentiu quando se disse especialista em linhas de 4. Só não avisou que apenas cuidaria da primeira linha, a defensiva. Ela é boa, de fato. Mas não suporta a falta de eficiência dos demais setores (falo de esquema, não de jogadores).
3) O buraco entre os setores do Corinthians é o retrato do que parece acontecer com o Sylvinho e os técnicos da mesma geração: existe o mesmo buraco, abismo, entre a teoria e a competência, que acredito que tenham, e a aplicação prática nas partidas. Nesse ponto os técnicos da 'velha guarda' levam vantagem. Talvez seja a forma de convencer o grupo a 'comprar' as ideias.
4) Em geral, não devemos julgar os treinadores somente pelas coletivas. Porém, nesse sentido o Sylvinho deixa a desejar. É normal e até aceitável que ele passe por cima dos erros. Passar por cima é uma coisa. Faltar com empatia em relação ao torcedor é outra.
5) As derrotas têm doído pela forma com que acontecem. Já fizemos campeonatos de 'trocação', ou seja, perder uma, ganhar duas, empatar, perder... Estamos acostumados (e não satisfeitos) com um Corinthians lutador, de dias difíceis. Para efeitos de comparação, já tivemos 'derrotas' no Maracanã para o mesmo rival em condições parecidas. Mas como a gente saiu daquela eliminação da Copa do Brasil em 2019, com um balaço do Ralf no travessão? Muito mais orgulhosos do que ontem, e isso não é comparar o treinador (Jair Ventura) com o atual. Não tínhamos argumentos para ser mais ofensivos do que aquilo. Hoje temos.
6) Um treinador por semestre é a média recente do Corinthians. Me recuso a acreditar que todo treinador que passa não presta. Algo vai mal no clube para esse eterno rodízio acontecer.
7) Nós, torcedores, repetimos as sugestões de soluções e queremos resultados novos: estamos viciados nesse universo 'Mano - Tite - Carille'. Temos nossa razão, pois fomos vitoriosos. Mas, até que ponto nossas escolhas e cobranças não estão presas a isso? Nos desgastamos com o futebol dos três. Pedimos a saída dos três, pois nos sufocamos com o estilo de jogo dos três, em determinado nível (Tite na penúltima passagem, não na última). Estamos pedindo a saída de mais um. E não entro, agora, no mérito de que isso seja necessário ou não.
8) Estamos evoluindo na parte administrativa. Isso é notório e precisa ser ressaltado. Mas na diretoria de futebol, aparentemente falta modernidade. E não é modernidade pela modernidade. Falo de visão de futebol, de uma identidade que se adeque a 2021, e não a 2008,2012,2015 ou 2017.
9) Sou da filosofia de que o técnico precisa trabalhar antes de ser julgado pelas primeiras derrotas. Sylvinho tem seus méritos no Campeonato Brasileiro, mas se abraçar a eles, de forma tão conservadora, vai acabar sendo o principal inimigo dele próprio: não evoluir.
10) O contexto Corinthians (nós, o técnico, a diretoria e os jogadores) não pode cair na zona de conforto que é lamentar não ter treinador no mercado, lamentar que o adversário foi melhor e por isso perdemos, lamentar que o Tite está na seleção e não no Corinthians, lamentar que a imprensa falou que iríamos ser rebaixados no BR21. É preciso mais. De todos.
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