Diego Mendes Apoiador
Excelente. Isto posto acho que o paulista deveria ser utilizado como espaço de investigação para essas dinâmicas. Ou seja, elaborar e executar repertórios considerando os jogadores disponíveis, suas virtudes e deficiências, e o funcionamento dessas relações.
Obviamente, esse laboratório não exime o Corinthians de vencer jogos contra times muito mais modestos e limitados.
em Bate-Papo da Torcida > Formação tática significa algo em campo?
Em resposta ao tópico:
Vejo muito torcedores, comentaristas, e até técnicos, debaterem muito sobre formações táticas, seja 4141,433,442,352,343, entre várias outras. Mas essas formações realmente dizem algo em campo?
Pegando como exemplo o 4141. O 4141 do Tite era diferente do 4141 do Sylvinho. Com Sylvinho, os extremos da segunda linha de 4 jogavam majoritariamente abertos, seja com Róger Guedes, Willian, Gabriel Pereira, Mantuan ou Adson, esses jogadores tinham por função jogar em amplotude e alargar o campo. Já com Tite, os extremos tinham mais liberdade. Em 2015, Malcom entrava mais na área, podia trocar de lado, enquanto Jadson mal ficava na ponta, sempre caia para o meio para armar o time junto com Renato Augusto.
Outro exemplo é o 442 losango que o Lázaro usou contra o Bragantino, que é diferente do 442 losango aplicado pelo Dorival no Flamengo. No Flamengo os laterais tinham bastante liberdade de atacar, e os meias jogavam por dentro. Filipe Luis jogava mais por dentro quando entrava, mas Rodinei e Ayrton Lucas jogavam em amplitude, atacando muito. O 442 usado pelo Lázaro no domingo os laterais jogavam mais recuados, e quem fazia o papel de abrir em campo era os meias, ou as vezes um atacante. O que se viu muito foi Du Queiroz, Giuliano e Róger Guedes abrindo em campo no lado que a bola estivesse.
Uma diferença clara que um mesmo sistema apresenta, que é observado no futebol europeu, é entre o 433 do City e do Liverpool. O time do Klopp tem como marca os laterais atacando muito e os pontas centralizando, com os meias fazendo a saída de jogo e armando mais de trás. Já no 433 do Guardiola os laterais jogam por dentro, e são eles que armam por trás, enquanto os pontas jogam abertos e os meias que se aproximam do 9. E mesmo esse sistema varia muito em ambas as equipes. Tem jogos que o cancelo joga atacando mais aberto, enquanto em outros ele joga por dentro. Tem jogos que observamos o time fazer uma saída de 3. E vale o mesmo para o Klopp, que está usando até o Arnold por dentro em certos jogos. O principio de atacar de ambas as equipes é diferente também. Enquanto o Liverpool procura um jogo mais vertical, e com mais mobilidade, o City procura um jogo mais curto, construido, e com uma equipe mais posicional, com os setores bem preenchidos por seus jogadores.
Dito isto, para que serve esse debate incansável sobre sistemas táticos? Se o time está no 433,442,343, que diferença faz? Se o que realmente importa são as dinâmicas ofensivas da equipe, coisa que não dá pra por no papel devido à grande complexidade. Já vi muito torcedor nesse fórum apontar que o time deveria jogar em tal formação, mas é um debate extremamente superficial, pois, apntar uma formação não quer dizer nada em campo, já que os jogadores não ficam parados naquele desenho tático, pois fazer isso tornaria o time estático e extremamente previsivel e fácil de anular. Dizer que o time deve jogar no 442,4141, não nos diz praticamente nada sobre como a equipe irá jogar em campo.
Creio que é mais produtivo debatermos como devem ser os movimentos que a equipe deve fazer no jogo. Se o Fagner deve atacar mais por fora, ou por dentro, ou se deve ficar mais recuado, ajudando a construir de trás; se o time deve fazer uma saída a 3 ou a 2; se o Renato Augusto deve jogar entre linhas ou mais recuado, baixando para receber a bola dos zagueiros; se o Róger Guedes deve jogar mais aberto ou mais centralizado, recuando mais ou atacando mais o espaço em profundidade; se a equipe deve apostar em um jogo mais vertical ou construído; se os jogadores devem jogar com mais aproximações, ou se devem esperar a bola em seus setores. Entre tantas outras nuances que o jogo apresenta.
Isso sim é um debate pautado na realidade e não uma discussão de números que não reflete naquilo que ocorre no jogo, que sempre será muito mais complexo que alguns algarismos.