Meu Timão

Diferentes espécies de camisa 8 coexistem na mesma plataforma:

O modelo clássico do 4-3-3 muito difundido na década de 70 (auge da melhor seleção brasileira de todos os tempos), tinha uma composição diferente de hoje em dia: O triângulo do meio campo era de cabeça pra baixo, no qual ao invés de termos 1° volante, 2° volante e meia-atacante, eram respectivamente 'cabeça-de-área' (como era chamado o 5, em Portugal chama-se Trinco', na gringa medifield defensive e na várzea o cachorro louco), o meia de armação (o clássico camisa 8, como Didi, Gérson canhotinha de ouro e o nosso Sócrates) e o ponta de lança (o clássico camisa 10, Pelé, Zico, na Argentina chamado de 'Enganche', como Maradona e Riquelme, que evoluiu para posição de meia-atacante como conhecemos hoje).

Depois que esse triângulo foi invertido, surgiu uma posição que não era nem o camisa 8 clássico, nem o camisa 5 clássico. E sim, o 'meio termo' entre os dois. Uma espécie de jogador que tanto na parte defensiva ajudava muito pela imposição física, quanto na parte ofensiva também chegava muito na área, anotando seus gols. Por esse motivo chama-se 'médio área-a-área'. Essa espécie diferente de volante começou a se espalhar pelo mundo principalmente na década de 90, quem lembra do nosso Rincón? Monstro sagrado! Um todo-campista!

No esquema que o Corinthians campeão mundial utilizava em 2012, essa figura do 8 foi o Paulinho. O Pitbull da fiel, 5, o Ralf. E o (Zi)Danilo, tão bom tecnicamente que era o dobro da 10, a camisa 20.

Mas e o Renato Augusto, 10 ou 8? O Renato Augusto faz uma função muito comum na década de 70, ele é meia a moda antiga. O que é chamado atualmente de 'Médio Construtor de Jogo Recuado', um nome bonito para o 8 clássico – como o nosso maior ídolo, Sócrates.

Evidentemente a diferença para o 10 é que ele não joga atrás do centroavante, como 10 clássicos atuavam. Renato Augusto atua em toda faixa central, livre pra organizar o jogo e também pode subir ao corredor lateral para construir desde o lado para o centro. Rei nato, tem que estar livre para fatiar!

Um meia que não joga exatamente atrás dos atacantes, mas sim um pouco mais recuado e no caso específico dele, aberto pela esquerda. No esquema do Milan de Ancelotti, esse meia aberto pela esquerda era o Seedorf.

E o 8 moderno como 'box-to-box' (médio área-a-área), como fica?

O Ancelotti inovou o futebol mundial colocando dois camisas 8 com funções diferentes no mesmo esquema! O 4-3-1-2 ou 4-4-2 losango, como queiram chamar.

Gattuso e Seedorf atuavam na mesma faixa do campo, jogavam na mesma posição mas com FUNÇÕES DIFERENTES.

Nesse losango que o Corinthians de Fernando Lázaro utiliza, o Seedorf é o Renato Augusto, que joga um pouco aberto pela esquerda. E na mesma altura do campo, a frente do 5 pelo lado direito, temos nossos Gattuso's: Roni/Du Queiroz/ Maycon, que são volantes mistos, podem ser tanto o 'Trinco' quanto o médio área-a-área. Essa espécie de volante tem como principal função recuperar bolas na faixa central do campo – também podemos chamar esses volantes de 'médio recuperador de bolas'. Mas não somente, subir para o ataque como elemento surpresa (como o Paulinho fazia muito bem em seu auge e torço muito para que ele se recuperar e voltar com tudo!).

Obs: Qualquer semelhança do Gattuso muito louco dando carrinho e batendo em todo mundo, com nosso Roni El Tranquilo inventando um novo golpe de capoeira (a rasteira de cabeça), é mera coincidência.

Na terra do Spaghetti a figura do cabeça-de-área, 'sumiu', para dar lugar a esse 8 moderno, e o 5 na terra da Pizza era comumente um 'regista', apesar de ter sua origem na década de 80 com os times do Arrigho Sacchi, também por conta de um dos seus discípulos – o Ancellotti –  essa função ficou muito popular ao longo dos anos na figura do Pirlo.

E esse 5? O que Fausto Vera tem a ver com isso no futebol atual?

O Fausto Vera pode fazer bem uma função que hoje é bastante moderna. Que são camisas 5 que tanto podem ser esses 'destruidores' quanto podem ser 'construtores'. Fausto Vera é um exemplo perfeito de como a posição de 5 evoluiu!

Quando Pirlo surgiu assustou o mundo com sua qualidade de passe e inversões longas – O regista –, começou a ser uma função muito difundida no futebol moderno.

Um meio termo entre o regista (atualmente temos a figura do Jorginho por exemplo), e o cabeça de área (o Casimiro é um exemplo muito bom desse 5), é o que resultou em volantes  como Fausto Vera. Que tanto tem imposição física (vulgo raça) para roubar bolas, quanto tem qualidade técnica para construir o jogo desde trás. Olhem só, ele bate, mas também joga de terno!

Na prática, o que aprendemos com o Ancelotti e Fernando Lázaro, é que funções de construção podem ser feitas tanto pelo primeiro (5), segundo (8) ou terceiro homem do meio campo (10). Assim como, o surgimento do meia misto (que ataca e defende com intensidade) deu características a outro tipo de volante incomum na década de 70.

Adson vs Kaká: Posições iguais, funções MUITO diferentes!

A figura do 10 no Milan de Ancelotti era um 'enganche', o Kaká. Um meia com chegada na área, velocidade, dribles rápidos, um meia-atacante raro, que impunha intensidade nas transições. Ele fazia seus marcadores baterem cabeça (Literalmente)!

Essa ponta (de lança) de cima do losango, quem está fazendo é o Adson. Um meia-atacante, mas não numa função de 10 clássico, e sim como o que chamam na Itália assemelha-se a 'mezzala' (ou médio-ala, traduzindo).

Adson: Um mezzala 'invertido'? Ou carrillero 'fora de posição'?

Além de ser pai do São Paulo, Adson é um meia-atacante (meia-atacante! E não ponta, entendeu Pardal?) que ataca por dentro e defende pelo lado, o exato inverso do mezzala (que defende se posiona no centro e ataca pelo lado). Isso me faz lembrar de jogadores que defendem pelo lado para cobrir o espaço de um lateral ofensivo quando está atacando. Ficou confuso?

Nos países hispanohablantes denomina-se esse meia que defende pelo lado de 'carrillero', mas é mais comum ver volantes fazendo essa função do que propriamente meias, pela distância percorrida ser menor. O nosso menino harmonizado está fazendo um papel dobrado (atenção Duilio, aumenta o salário dele).

Mas, mezzala ou carrillero? Não sei, não faço a mínima ideal, é melhor vocês perguntarem ao Fernando Lázaro como o Adson consegue correr tanto e na prática, consegue ao mesmo tempo ser um meia-atacante quando o time ataca, e um 'servente de lateral' (carrillero) quando o time defende. Isso é um absurdo, literalmente o Lázaro deve ter inventado uma função nova no futebol. Imaginem o Kaká cobrindo o corredor indo atrás de lateral adversário como Adson faz, isso seria no mínimo inovador!

As semelhanças do Milan de Ancelotti com o Corinthians de Fernando Lázaro não param por aí:

Lateral-direito ataca, lateral-esquerdo defende!

Cafú era muito ofensivo, agudo, quase um ponta pode-se dizer. E qual lateral voltou a atacar muito depois que o Pardal saiu? Ele mesmo, o Fagner.

...Quem dera ser o Fagner, para a linha de fundo atacar, fazer cruzamentos a área chegar. E Yuri Alberto cabecear, e depois deslizar...

Fagner melhorou assustadoramente nessa função, pode-se dizer que o Lázaro recuperou o auge do Fagner. Ponto positivo para o irmão Lázaro, ele é de Jesus.

Fábio Santos, um lateral interior/base e o Maldini:

Um dos melhores defensores de todos os tempos, campeão mundial e continental, vulgo nosso careca Tio Chico, também faz funções parecidas com o Maldini, porém com um acréscimo. O Maldini ficava na base defensiva ao lado dos zagueiros (lateral base), o Fábio Santos também, mas não apenas isso, também pode se juntar aos meias para construir o jogo com uma boa qualidade de passe (lateral interior). Por ser zagueiro de origem, o Maldini tinha como maior característica os desarmes e interceptações, diferente do Fábio Santos, que sua maior característica é a habilidade de passes e cruzamentos. Mas assim como Maldini, de vez em quando chega na área pra dar umas cabeçadas para o fundo do gol.

Questões capilares também pode ter semelhança, eles tinham o Crespo, nós temos o Calvo. E o Shevchenko, quem é mais bonito, ele ou o Yuri Alberto? Em questões de lindeza, com certeza o Cássio. Aliás, temos um ucraniano no Corinthians também, o Júnior Moraes.

Quem ainda tem dúvidas que o time comandando um dos melhores amigos do Tite –o Ancellotti–, tem semelhanças com o discípulo de Tite – o Lázaro? Olha só, outra coincidência!

E para completar porque o texto ficou muuuuito longo, o Dida e o Cássio são ídolos eternos e campeões mundiais pelo mesmo time.

Vai Corinthians!

Toca o hino do Corinthians Cascããããão!