Venha fazer parte da KTO
x
A esperança Araos
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

ver detalhes

A esperança Araos

Coluna do Victor Farinelli

Opinião de Victor Farinelli

5.6 mil visualizações 49 comentários Comunicar erro

A esperança Araos

Ángelo Araos no último treino do Corinthians antes do jogo contra o Mirassol

Foto: Rodrigo Coca / Agência Corinthians

Este jogo contra o Coritiba foi um dos mais especiais pra mim como corinthiano, e também a derrota contra o Atlético na semana passada, mesmo sendo uma derrota. E pra poder explicar a razão disso eu tenho que começar dizendo que vivo fora do Brasil e como isso tem um peso decisivo pra que eu sinta o que sinto.

Moro no Chile há cerca de 15 anos, e, como muitos corinthianos que vivem fora, sempre imaginei que seria demais ver um jogador do país onde eu moro vestindo a camisa do Coringão.

Ao estar em um país sul-americano, isso fica bem mais fácil, mas no caso do Chile, essa facilidade nunca se transformou em algo real. Digo “no caso do Chile” porque quando saí do Brasil eu comecei morando na Argentina, na mesma época em que Tévez e Mascherano estavam no Parque São Jorge, e aí era bom demais, já que todo mundo conhecia o Corinthians, tanto os torcedores do Boca quanto os do River, e os de outros clubes por tabela.

No Chile, foi mais difícil. Os chilenos que passaram pelo clube nestes 15 anos: Johnny Herrera, Claudio Maldonado e Cristian Suárez, ou tiveram performances sofríveis ou sequer são lembrados.

Quando o Ángelo Araos chegou, após algumas expulsões em jogos decisivos – nos quais o jovem claramente foi traído por seu excesso de vontade de demonstrar raça pra torcida –, parecia que ele estava destinado a ser outro fracasso.

Vale destacar, porém, que em seus primeiros meses no clube, na maioria dos jogos ele foi escalado como volante, que claramente não é a posição na que ele pode render mais, como vemos agora.

Após um 2019 com poucas chances, Araos voltou ao clube em 2020 com outra perspectiva, porque sua atuação no Pré-Olímpico havia sido muito boa, sendo líder ofensivo do Chile sub-23 – que ficou em quinto lugar, não se classificou, mas teve um excelente desempenho, pra um país que, apesar dos títulos e bom futebol de sua seleção principal, vinha passando vexame em quase todos os torneios juvenis nos últimos anos.

Como faço com todo técnico, procuro ser equilibrado entre as críticas e méritos que reconheço no trabalho do Tiago Nunes, e um dos méritos mais importantes, ao meu ver, é que ele está dando chance ao Araos de jogar na posição que ele gosta, como meia ofensivo, que apoia o ataque.

É nessa posição que ele vem se destacando nos jogos que entra, especialmente nos dois em que foi escalado como titular, contra o Atlético-MG e o Coritiba, nos quais fez gol e deu assistências. Jogando como homem ofensivo, o chileno não só mostrou que tem um enorme potencial criativo, como também é o que melhor se entendeu com Jô neste ano, iniciando uma dupla que, até agora, tem sido a maior esperança de gols do time.

Aos poucos, o chileno se aproxima da lenda de outro latino, de nome parecido, que deu certo no Coringão, depois de anos sendo preterido: Ángel Romero, que tardou mas acabou sendo ídolo da torcida, e hoje desperta saudades em muitos torcedores.

Araos tem tudo pra ser o novo Romero, mas confesso que aqui se acabam meus comentários objetivos e parto pra subjetividade.

A subjetividade de um pai corinthiano que achava que a partida contra o Galo era uma como qualquer outra, até que o Araos pegou uma bola que dava sopa na área e fez seu primeiro gol com a nossa camisa. Meu filho, que sonha em vê-lo tornar-se o primeiro chileno ídolo do Corinthians, pulou em cima de mim, me abraçou e gritou com uma força, com os punhos cerrados, como não vi fazendo em nenhuma final, nem do Coringão, nem nas Copas Américas vencidas pelo seu Chile.

Pra ele, foi meio que o gol daquele menino que abriu um sorriso gigantesco quando soube que um chileno iria jogar no time dele. Que conta pros amigos da escola que o Araos vai crescer no Corinthians e depois despontar até ser o novo Alexis Sánchez. Que, em algum momento, chegou a ter raiva de ser corinthiano e chileno, porque achava que o clube não dava a chance que ele merecia. E que, agora, voltou a sonhar em ver um compatriota brilhando com as cores do Coringão.

Neste jogo contra o Coritiba, o Araos jogou ainda melhor que no Mineirão, e foi eleito o melhor em campo. Desta vez, meu filho estava na casa da mãe dele, mas ficou me mandando notícias pelo chat a cada meio minuto, porque “Araos tá dando todas as assistências”, e “provocou a expulsão do adversário”, e “deu a assistência pro gol do Jô”, e “é o motor do time”, e “é melhor que o Luan”, e por aí vai. Perguntou se eu ia votar no Araos em todas as pesquisas de todos os sites, sobre quem foi o melhor em campo, e é claro que eu fiz isso.

Quando a gente comemorou títulos do Corinthians ele também festejou muito, mas desta vez foi diferente, e o time nem ganhou nada ainda, mas acho que ele se sente mais parte disso, porque tem alguém ali que é como ele, chileno como ele, e por isso é mais legal ver e viver este momento, pra ele, e pra mim também.

Sou desses torcedores que nunca torce por jogadores específicos, e sim pelo time como um todo, mas já assumi que tenho que fazer uma exceção desta vez. Vou torcer muito pro Araos continuar crescendo e se destacando no time. Que ganhe de vez a posição de titular. Que entrose ainda mais a dupla com o Jô. Que seja a esperança de uma aliança cada vez maior entre a chilenidade e a corinthianidade.

Prometi que, da próxima vez que formos ao Brasil, vamos tentar conseguir um autógrafo do Araos na camiseta dele. Isso vai ser mais difícil, mas não custa sonhar. Assim como não custa sonhar que este despertar do chileno seja o ponto de partida de mais um grupo corinthiano que começa desacreditado e depois começa a ganhar tudo.

Veja mais em: Ángelo Araos e Romero.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Avalie esta coluna
Coluna do Victor Farinelli

Por Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

O que você achou do post do Victor Farinelli?