Por que esses três clubes da Série A podem ajudar Corinthians
Análise de Lucas Faraldo
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Hoje existem na Séria A do Campeonato Brasileiro três times cujas torcidas têm participação democrática no dia a dia do clube. Segue um resumo de como funciona a participação de torcedores tricolores e colorados nas eleições de Bahia, Grêmio e Internacional (e depois uma explicação sobre onde o Corinthians e o Fiel Torcedor podem entrar nessa história).
No Bahia, o torcedor:
- vota para presidente, conselho deliberativo e em todas as assembleias gerais;
- precisa ser sócio-torcedor há no mínimo um ano;
- precisa estar em dia com as mensalidades.
No Grêmio e no Internacional, o torcedor:
- vota para presidente e conselho deliberativo;
- precisa ser sócio-torcedor há no mínimo um ano no Internacional e dois anos no Grêmio;
- precisa estar em dia com as mensalidades.
Para se inspirar nesses clubes e tirar algum proveito de modelos já existentes, é claro que o Corinthians tem de considerar suas particularidades. Algumas dificultam a implementação desse sistema de eleição nos moldes do trio citado; outras, entretanto, exigem que a discussão séria entre dirigentes e conselheiros ocorra já nesta próxima gestão.
Por que é difícil imaginar o Corinthians nos mesmos moldes de Bahia, Internacional e Grêmio?
- O Corinthians tem um clube social. Ou seja, um espaço para confraternização e prática de esportes amadores para associados (geralmente moradores da região), com restaurantes, piscinas, eventos particulares, etc.
- O Corinthians disputa outras modalidade profissionais além do futebol. Ativos atualmente, os times de futsal, basquete e natação, por exemplo, lutam por títulos e medalhas não só hoje mas historicamente no cenário nacional, fazendo jus ao nome, do inglês, "Clube Esportivo" Corinthians Paulista.
Praticamente nada disso existe na dupla gaúcha ou no Tricolor Baiano. O Grêmio até tinha piscinas no antigo estádio Olímpico, mas simplesmente deu de ombros pra isso quando trocou pra Arena. O Internacional até tem o Parque Gigante, uma área de lazer com piscinas, quadras e quiosques, mas exige associação independente do clube de futebol. E o Bahia promove eventos para seus sócios-torcedores, antes dos jogos, em espaços públicos.
O tema no Corinthians, portanto, é mais espinhoso e a discussão pode passar até pela separação ou não do futebol do resto do clube - e assim vamos, enfim, para a particularidade corinthiana que aumenta a exigência por uma revolução estatutária no que tange às eleições.
Por que a exigência pela democratização das eleições não pode mais esperar?
O Corinthians se tornou uma marca bilionária com a Neo Química Arena. E mesmo sem ela já era uma marca de centenas de milhões de reais. Quem diz isso é a Forbes, que apontou o Timão como segundo time mais valioso das Américas. E tudo isso graças à torcida.
Até a década de 80, a principal forma de receita dos clubes era a bilheteria. Quando surgem os patrocínios e os direitos de transmissão de TV, clubes como Corinthians e Flamengo seguem levando óbvia vantagem em potencial de faturamento por terem mais público-alvo para as marcas e emissoras.
Se hoje o Corinthians é o que é nos cenários nacional e internacional, é por causa do Corinthians de Itaquera. E até outro dia do Pacaembu. Antes, do Morumbi; etc. São as casas do Timão. É onde a torcida se encontra. É onde está o clube de potencial bilionário.
O Corinthians do Parque São Jorge, infelizmente, é hoje o Corinthians que deu prejuízo de mais de R$ 100 milhões se somados os déficits de 2018 e 2019; e até setembro de 2020 fechava o atual exercício em mais R$ 42,6 milhões negativos. Onde vai parar?
Pergunta retórica. Até porque não sei onde vai parar. Mas é esse Corinthians do Parque São Jorge, hoje claramente desgovernado, que decide o presidente "dos Corinthians". Inclusive o de Itaquera. Já era absurdo antes da Neo Química Arena. Agora é inimaginável.
Juntos, os menos de 3 mil sócios que decidiram o futuro do Corinthians no último sábado não ocupariam sequer um terço do setor Norte da Arena. É muito pequeno.
O estatuto precisa se atualizar. Porque o Corinthians é muito grande.
Por fim: o ponto de partida pra essa mudança jamais partirá de quem já está no poder, seja como presidente ou conselheiro. Cabe ao torcedor (comum ou organizado) levar incansavelmente essa pauta à frente com bandeiras, gritos, protestos, campanhas, hashtags... Vale tudo pra colocar o Corinthians em rumos mais democráticos.
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