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Cinco motivos pelos quais as contas do Corinthians deveriam ser reprovadas na terça-feira
Rafael Castilho

Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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Cinco motivos pelos quais as contas do Corinthians deveriam ser reprovadas na terça-feira

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Cinco motivos pelos quais as contas do Corinthians deveriam ser reprovadas na terça-feira

Votação das contas acontece nesta terça-feira no Parque São Jorge

Foto: Danilo Fernandes / Meu Timão

O Corinthians vive uma das mais perigosas crises de sua história.

Desde seu surgimento o Corinthians vive numa luta constante com suas finanças. Ao estudarmos as mais antigas atas de reuniões de diretoria do SCCP, vemos que esse processo tem sido constante, fruto de um dilema interno que vivemos entre modernização, competição com os grandes clubes concorrentes e a tentativa de manutenção das nossas tradições.

Se até algum tempo era tradicional ouvir os gritos da torcida de “queremos jogador”, hoje o fiel torcedor pensa muitas vezes antes de pedir novas contratações. Se houvesse torcida nos estádios, talvez hoje o grito seria de “queremos explicação”, ou “queremos transparência”.

A camisa do Corinthians tem caráter. O Corinthians não aceita desaforo. Quando existe um abismo de confiança entre diretoria e torcedor, normalmente as coisas não funcionam. O corinthiano conhece seu time. É parte de sua vida. Ele sente quando as coisas estão erradas. Como vivemos de energia e comunhão, numa conexão cósmica entre torcida e o time, quando se corta os laços de solidariedade e confiança, normalmente o resultado é muito ruim para o Corinthians. Em suma, a torcida sabe sim torcer e apoiar times inferiores tecnicamente, mas sente quando as coisas estão erradas.

Poucos eventos foram tão danosos para a economia e a sociedade como a crise do Covid-19. Mas mesmo diante dessa crise que o mundo inteiro sabia ser desastrosa, tivemos um dos elencos mais caros do Brasil com jogadores visivelmente sem capacidade técnica para estarem a altura de seus custos com contratação e salário e também a altura das exigências da nossa torcida. Foram várias as contratações que não fizeram menor sentido e a terrível sensação de ver o endividamento aumentando, negócios sem sentido e baixo resultado esportivo.

O presidente Duílio Monteiro Alves, aparentemente tem se esforçado para reequilibrar as contas do Corinthians. Porém, o que será votado no próximo dia 27 de abril, não é um plebiscito a favor ou contra a atual gestão. Essa questão não deveria ser politizada.

Já estamos no segundo trimestre de 2021 e iremos votar só agora as contas de 2019. Felizmente, o atual presidente do Conselho do SCCP se sensibilizou e decidiu por fazer as reuniões de forma remota. O Brasil inteiro foi obrigado a se adaptar há tempos pelas reuniões em vídeo conferência, setor privado, governamental, judiciário, todos seguiram suas atividades por meio remoto. Demoramos exageradamente para essa tomada de decisão, mas enfim teremos a tão importante votação.

Não quero aborrecer o leitor com um texto técnico, mas vou tentar traduzir em cinco pontos o porquê as contas deveriam, a meu ver, serem reprovadas pelo Conselho Deliberativo do Sport Club Corinthians Paulista. Em conversa com o ex-diretor e ex-candidato a presidente do SCCP, Felipe Ezabella, chegamos a esses pontos principais.

  1. Tanto as contas de 2019 como as contas de 2020 desrespeitaram o orçamento proposto pela administração que foi aprovado pelo Conselho do SCCP.
  2. Foi descumprido o estatuto do clube, além das leis esportivas, que obrigam a publicação de balancetes com a prestação de contas.
  3. O Corinthians aderiu ao Profut - Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, criado em 2015. O programa oferece vantagens na flexibilização de impostos e tributos, porém exige uma série de comprometimento dos clubes participantes. Recentemente, o Cruzeiro foi excluído do Profut por descumprimento de suas obrigações assumidas. Consequentemente, os impostos que teriam um prazo bem maior para seus vencimentos, devem ser cobrados de maneira imediata, inclusive com o bloqueio de receitas. O Profut estabelece condições como publicar as contas, manter os pagamentos em dia (FGTS, IR, Salários) e em seu Artigo 4º estabelece um limite de déficit 5% da receita bruta do ano anterior. A administração do SCCP descumpriu esses itens acordados.
  4. Caso o conselho rejeite as contas, não estará dando o aval da instituição Corinthians para os atos administrativos. Aprovar, significa dizer que o clube está de acordo com todas as ações realizadas e a instituição poderá ser punida.
  5. Em 2019, tanto o CORI como o Conselho Fiscal já haviam rejeitado as contas de 2019, considerando “gestão temerária”. Já as contas de 2020, sob o mandato dos novos conselheiros, o CORI aprovou as contas de 2020. Em 2019, as contas do Corinthians tiveram um déficit de 195,4 milhões de reais. Já em 2020, o déficit publicado foi de 123,3 milhos. Ao todo, o endividamento do Corinthians (fora o estádio) beira o 1 bilhão de reais.

Caso o Conselho Deliberativo não se manifeste retumbantemente pela reprovação das contas, o Corinthians viverá dias muito difíceis e correrá grande perigo.

Nos corredores do Parque São Jorge circula um argumento da situação de que a reprovação das contas minaria a credibilidade do Corinthians para futuras operações.

Ora, é justamente o contrário. Um conselho atuante e vigilante é garantia de que o clube está equilibrado e que os atos de uma administração são fiscalizados e reprovados quando necessário, protegendo o clube enquanto instituição.

Porém se o Conselho é anuente com um poço sem fundo de negligência e irresponsabilidade, o Corinthians como um todo perde credibilidade e sofrerá as consequências. No mais, não custa avisar que nossa credibilidade já tem sido excessivamente arranhada nos últimos anos.

O corinthiano vive a vida do Corinthians a cada segundo. Não há alambrado que separe as nossas vidas, do dia a dia do nosso Coringão. Quando o Corinthians vence, a gente vence junto. Mesmo quando estamos perdendo no cotidiano difícil das nossas vidas, a vitória do Corinthians nos dá um acréscimo de esperança no futuro. Quando o Corinthians perde, a gente perde junto. Mesmo que na vida pessoal esteja andando tudo bem. Quando o Corinthians vai mal, não há realização plena. Fica sempre aquela ponta de tristeza. Quando o Corinthians deve, quando o futuro do Corinthians está ameaçado, quando o Corinthians vira motivo de piadas, chacotas e reforça o preconceito social de que foi vítima, desde sempre, é como se a gente tivesse devendo também. É como se nós estivéssemos com o nome sujo. A sensação é de que nós todos estamos endividados.

Para nós, o Corinthians não é uma abstração. O Corinthians é real. Nossa torcida tem um time, lembram? O Corinthians é coisa nossa. Nós nos sentimos responsáveis por seu futuro.

Pra quem não sabe, nos primeiros dias e anos de Corinthians, os jogadores e apoiadores desse movimento chamado Corinthians, batiam de porta em porta nos bairros operários com uma sacolinha, pedindo qualquer ajuda para manter o time do povo. As pessoas ajudavam como podiam e, no fim de semana, iam até o campo para acompanhar o Corinthians.

Quase nenhum clube do mundo foi formado sem patronos. Quem acompanha a história do futebol se dá conta de outros clubes operários, mas quase todos tinham seus bem feitores.

O Corinthians já nasce desse esforço coletivo. As finanças do clube sempre foram de responsabilidade coletiva. As cores do nosso uniforme são o branco e o preto pois eram as cores dos tecidos mais em conta. O bege dos primeiros dias foi substituído já por uma decisão financeira.

Os conselheiros que irão votar na próxima terça-feira deveriam olhar para essa história. Deveriam puxar pela memória os dias lindos que viveram com o Corinthians. Quem os ensinou a torcer por esse time. Devem ser efetivamente fieis ao Corinthians e colocar o nosso clube em primeiro lugar.

Mesmo aqueles que são conselheiros de situação. Vejam, essa não é uma decisão de quem é oposição ou situação. É uma decisão que envolve nosso futuro. Está em jogo uma questão simbólica. Caso o Conselho aprove esse desastre fiscal estará abrindo um terrível precedente. Estará dando carta branca para futuras administrações, sejam elas de quaisquer correntes políticas, para desequilibrarem as contas do clube.

Agora é hora de se levantarem os corinthianos de boa vontade. De mostrar como cuidamos do nosso amado clube. De como carregamos ele pelos braços. De como cuidamos de seu futuro. De mostrar que não pode haver coisa mais linda e importante na vida da gente do que o Sport Club Corinthians Paulista. Nossa vida. Nossa história. Nosso amor. É um gesto de cuidado e gratidão para quem proporcionou os dias mais felizes da vida da gente!

Nota: Como Conselheiro Trienal eleito, declaro meu voto pela rejeição das contas dos anos fiscais 2019 e 2020. Falo também pela chapa que fui eleito, 82 – Reconstruir. O Movimento Corinthians Grande também se declarou pela rejeição das contas.

Veja mais em: Dívida do Corinthians e Diretoria do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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