As Coisas Precisam Mudar
Opinião de Rafael Castilho
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O Corinthians já viveu momentos tristes em sua história. O sentimento de tristeza nos acompanhou em grandes derrotas, no jejum de mais de duas décadas sem títulos, no rebaixamento. Não por acaso recebemos a alcunha de sofredores. E assim nos assumimos. O corinthiano aprendeu a viver com o sofrimento.
O sofrimento, inclusive, se tornou parte elementar de nossa identidade. No período em que nossa torcida mais cresceu, outros clubes rivais venciam, tinham grandes façanhas, grandes craques. Mas os milhões de refugiados, retirantes, desterrados e impertinentes de toda ordem, queriam um clube pra chamar de seu. Queriam um time que jogasse o jogo como eles viviam suas vidas. Desta forma, o sofrimento se configurou como um elemento de conexão entre o Corinthians e a realidade das pessoas.
Também, o sofrimento nos tornou mais fortes, concientes. O êxtase tem muito pouco a ensinar. O sofrimento, por pior que seja, tem a capacidade de nos transformar.
Pois bem, viver com o sofrimento nunca foi algo distante em nossa realidade como corinthianos.
Mas, arrisco dizer, nesse especial momento em que vivemos, o sentimento é outro. O fiel torcedor não está exatamente triste pela derrota, por perder a chance de ser campeão, por ver seus rivais felizes enquanto estamos numa draga. Não estamos nos penalizando por caminharmos para cinco anos sem gritar “é campeão”.
O corinthiano está decepcionado. Triste. Broxado. Deprimido.
Nunca vi a torcida do Corinthians assim.
A verdade é que fomos talhados para suportar qualquer derrota dentro do campo. Mas o que não suportamos é ver um Corinthians que não seja heroico, que não enfrenta o bom combate. Um Corinthians que não seja virtuoso. Que não persiga a superação. Um coringão que não seja o reflexo daquilo que a gente gosta de ser na nossa vida.
Já tivemos muitos times ruins. Alguns repletos de pernas de pau. Mas que a gente gostava de torcer. O Corinthians é um dos únicos clubes do mundo que tem como ídolos jogadores que não são craques, os quais temos carinho, não pela habilidade, mas pela virtude.
O time que temos visto dentro de campo é o reflexo do que existe fora dele. É um time superado. Desculpe dizer isso. Sei que existem jogadores no elenco que já fizeram muito pelo Corinthians, mas acontece que não dá mais. E não adianta trocar de técnico pra ver se o time joga, não adianta oferecer prêmio, não adianta nenhum exercício de motivação. É menos sobre a cabeça e mais sobre as pernas.
Não preciso citar nomes, primeiro porque é desnecessário. Segundo porque isso diz menos sobre as pessoas e muito mais sobre como funciona o Corinthians. Quem acompanha o clube por mais tempo sabe: no Corinthians quase todo mundo cria raiz. Vira dono.
Isso serve para os jogadores. Mas, como eu disse, é um mero reflexo de um problema mais amplo. Se boa parte dos jogadores (pelo menos os mais influentes) são os mesmos em praticamente uma década, os dirigentes também são os mesmos em quase duas décadas.
O continuísmo acaba por ser um grande problema não apenas no futebol, mas em diferentes corporações e instituições. Onde prevalece o continuísmo não sobra espaço para a inovação, para novas práticas, novas tecnologias, para a formação de novas lideranças, para novos conhecimentos.
Aquela letargia que a gente vê dentro do campo, diferente de outros times que jogam com mais rapidez e com mais força, também existe fora das quatro linhas. Nós não estamos jogando o jogo que outros clubes estão jogando. Não nos adaptamos ao ritmo do jogo, queremos que o jogo se adapte ao nosso ritmo.
Para ser competitivo dentro do campo é também necessário ser competitivo fora dele. Mas quando não existe renovação prevalece o chamado compadrio. Tudo se resume a um conjunto e uma conformação de conveniências e interesses de diferentes ordens. E, ao invés de adotarmos novas práticas, criamos um sistema onde tudo se resume em alimentar o próprio sistema.
Estamos amarrados em uma teia. Isso se revela na nossa incapacidade de planejar nosso futuro. É como naquela canção do Paulinho da Viola chamada “Desilusão”: “quando penso no futuro não esqueço do passado”.
O que vivemos hoje é o resultado direto de muitos erros que cometemos ao longo dos anos. De escolhas erradas.
Se em outros períodos trágicos de nossa história habitou intrinsecamente uma boa dose de romantismo, o que ocorre hoje não tem nada de romântico. A Fiel está consternada. Grandiosamente preocupada com nosso futuro.
E, o pior de tudo, muita gente olha o que ocorre dentro do Corinthians e não vê muita esperança. Isso é devastador.
Deixar um corinthiano sem esperança é como lhe tirar o coração. Porque o Corinthians surgiu justamente para nos dar a esperança. Para fazer o nosso povo convergir, gritar, sorrir. O Corinthians nasceu para dar ao seu povo alguma perspectiva de vitória. O Corinthians é o produto material da imaginação de sua gente. O Corinthians é o resultado do nosso sonho.
O que fizeram com o nosso Corinthians?
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.