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As coisas precisam mudar
Rafael Castilho

Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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As Coisas Precisam Mudar

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As Coisas Precisam Mudar

Fil lamentando a derrota e a eliminação na Sul-Americana

Foto: Jhony Inácio/Meu Timão

O Corinthians já viveu momentos tristes em sua história. O sentimento de tristeza nos acompanhou em grandes derrotas, no jejum de mais de duas décadas sem títulos, no rebaixamento. Não por acaso recebemos a alcunha de sofredores. E assim nos assumimos. O corinthiano aprendeu a viver com o sofrimento.

O sofrimento, inclusive, se tornou parte elementar de nossa identidade. No período em que nossa torcida mais cresceu, outros clubes rivais venciam, tinham grandes façanhas, grandes craques. Mas os milhões de refugiados, retirantes, desterrados e impertinentes de toda ordem, queriam um clube pra chamar de seu. Queriam um time que jogasse o jogo como eles viviam suas vidas. Desta forma, o sofrimento se configurou como um elemento de conexão entre o Corinthians e a realidade das pessoas.

Também, o sofrimento nos tornou mais fortes, concientes. O êxtase tem muito pouco a ensinar. O sofrimento, por pior que seja, tem a capacidade de nos transformar.

Pois bem, viver com o sofrimento nunca foi algo distante em nossa realidade como corinthianos.

Mas, arrisco dizer, nesse especial momento em que vivemos, o sentimento é outro. O fiel torcedor não está exatamente triste pela derrota, por perder a chance de ser campeão, por ver seus rivais felizes enquanto estamos numa draga. Não estamos nos penalizando por caminharmos para cinco anos sem gritar “é campeão”.

O corinthiano está decepcionado. Triste. Broxado. Deprimido.

Nunca vi a torcida do Corinthians assim.

A verdade é que fomos talhados para suportar qualquer derrota dentro do campo. Mas o que não suportamos é ver um Corinthians que não seja heroico, que não enfrenta o bom combate. Um Corinthians que não seja virtuoso. Que não persiga a superação. Um coringão que não seja o reflexo daquilo que a gente gosta de ser na nossa vida.

Já tivemos muitos times ruins. Alguns repletos de pernas de pau. Mas que a gente gostava de torcer. O Corinthians é um dos únicos clubes do mundo que tem como ídolos jogadores que não são craques, os quais temos carinho, não pela habilidade, mas pela virtude.

O time que temos visto dentro de campo é o reflexo do que existe fora dele. É um time superado. Desculpe dizer isso. Sei que existem jogadores no elenco que já fizeram muito pelo Corinthians, mas acontece que não dá mais. E não adianta trocar de técnico pra ver se o time joga, não adianta oferecer prêmio, não adianta nenhum exercício de motivação. É menos sobre a cabeça e mais sobre as pernas.

Não preciso citar nomes, primeiro porque é desnecessário. Segundo porque isso diz menos sobre as pessoas e muito mais sobre como funciona o Corinthians. Quem acompanha o clube por mais tempo sabe: no Corinthians quase todo mundo cria raiz. Vira dono.

Isso serve para os jogadores. Mas, como eu disse, é um mero reflexo de um problema mais amplo. Se boa parte dos jogadores (pelo menos os mais influentes) são os mesmos em praticamente uma década, os dirigentes também são os mesmos em quase duas décadas.

O continuísmo acaba por ser um grande problema não apenas no futebol, mas em diferentes corporações e instituições. Onde prevalece o continuísmo não sobra espaço para a inovação, para novas práticas, novas tecnologias, para a formação de novas lideranças, para novos conhecimentos.

Aquela letargia que a gente vê dentro do campo, diferente de outros times que jogam com mais rapidez e com mais força, também existe fora das quatro linhas. Nós não estamos jogando o jogo que outros clubes estão jogando. Não nos adaptamos ao ritmo do jogo, queremos que o jogo se adapte ao nosso ritmo.

Para ser competitivo dentro do campo é também necessário ser competitivo fora dele. Mas quando não existe renovação prevalece o chamado compadrio. Tudo se resume a um conjunto e uma conformação de conveniências e interesses de diferentes ordens. E, ao invés de adotarmos novas práticas, criamos um sistema onde tudo se resume em alimentar o próprio sistema.

Estamos amarrados em uma teia. Isso se revela na nossa incapacidade de planejar nosso futuro. É como naquela canção do Paulinho da Viola chamada “Desilusão”: “quando penso no futuro não esqueço do passado”.

O que vivemos hoje é o resultado direto de muitos erros que cometemos ao longo dos anos. De escolhas erradas.

Se em outros períodos trágicos de nossa história habitou intrinsecamente uma boa dose de romantismo, o que ocorre hoje não tem nada de romântico. A Fiel está consternada. Grandiosamente preocupada com nosso futuro.

E, o pior de tudo, muita gente olha o que ocorre dentro do Corinthians e não vê muita esperança. Isso é devastador.

Deixar um corinthiano sem esperança é como lhe tirar o coração. Porque o Corinthians surgiu justamente para nos dar a esperança. Para fazer o nosso povo convergir, gritar, sorrir. O Corinthians nasceu para dar ao seu povo alguma perspectiva de vitória. O Corinthians é o produto material da imaginação de sua gente. O Corinthians é o resultado do nosso sonho.

O que fizeram com o nosso Corinthians?

Veja mais em: Copa Sul-Americana e Diretoria do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Rafael Castilho

Rafael Castilho é sociólogo, especializado em Política e Relações Internacionais e coordenador do NECO - Núcleo de Estudos do Corinthians. Ele está no Twitter como @Rafael_Castilho.

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    @pablo17 em

    O Corinthians em si acabou no momento em que o imperador Andrés aprovou a 'não reeleição', que, com a falácia da 'alternância' no poder, perpetuou seu grupo no poder, onde todos sabemos ser ele a dar as cartas. Alternância no poder no Corinthians não existe desde 2008. Antes tivesse reeleição, ao menos ficaria explícito(como se está hoje), que não são capazes de levar esse clube ao topo sem roubar do clube.

    Corinthians mirou em um Florentino Pérez, e acerto Andrés Sanchez...
    Será que o problema também não seria os conselheiros que compactuam com tudo isso, e(porque não deixar no ar), lucram com isso.

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    @rogerio.prieto em

    O Corinthians era um time temido pra ganharem da gente tinham que suar sangue mas daí caíram no conto do vigário dizendo da pra jogar igual o Barcelona o City e foi nessa que perdemos o DNA já vi muitos times ruins do Corinthians que nunca abaixaram a cabeça corriam muito olha o time de 90 e fomos campeões agora isso quetemos um catado amedrontado que perderiam de qualquer time de várzea ontem o mano errou vendo o que estava acontecendo tinha que entrar com 3 volantes pra ajudar a travar as laterais por que Fagner e Fábio perde na corrida e no um contra um até para os fraldinhas e tentava uma bola mas já foi basta torcer pra não ser rebaixado mas era o que essa diretoria merecia parece que falta sangue todos ali são de imã anemia incrível...é o torcedor continua a ir no estádio gastar o que não tem pra ver isso

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    55º. @vinicius.de.gaspe1 em

    É muita roubalheira, desordem e jogo político de interesses.

    Acabaram com o nosso Corinthians...

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    54º. @gilberto.dias5 em

    Infelizmente, com essa corja que se apoderou do Corinthians, em uma hora de necesdidade, pois estávamos rebaixados e precisavamos de um novo rumo, e até conseguimos, mas se aproveitaram e destruiram a instituição, podiamos ser hoje os maiores e tínhamos toda chance, o caminho parecia ser o certo, mas não, fomos enganados, roubados e aniquilados a o que somos hoje, sem direção e dominados por uma quadrilha, disposta a enriquecer as custas do Corinthians e todo o dinheiro farurado ao longo desses anos, evaporaram como se nunca tivessem existidos e as dividas explodiram como se nunca tivessem sido pagas, só cobranças e mais cobranças, pois assim é fácil, o dinheiro não é seu mesmo...imagina com administram suas próprias empresas!

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    53º. @renato.cipulla.rodr1 em

    Esse texto representa todo meu sentimento hoje pelo Corinthians.
    Parabéns, infelizmente você tem razão em tudo que escreveu.
    Essa tal Renovação e Transparência está acabando com nosso Corinthians. Nem sei de onde eles tiraram esse nome, até porque não vimos nada de Renovação ou inovação e muito menos Transparência, principalmente nas negociações de jogadores da nossa base.
    Triste realidade.

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    52º. @conras em

    Me dá mais desesperança quando penso, André Negão tem grandes chances de ganhar

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    51º. @jackson.luiz.silva.d em

    Muito bom o texto e a reflexão...oportuna! Realista!
    Eu queria muito que acabassem com o clube social e os mais de 200 conselheiros, que não fazem nada, além de brigar por poder dentro da instituição...a mudança de estatuto seria primordial! Uma reforma estatutária!