Roberto de Andrade faz mal ao Corinthians: que atitude tomar?
Opinião de Walter Falceta
5.8 mil visualizações 182 comentários Comunicar erro
Se você conhece a história do nosso amado Timão, sabe que tivemos formidáveis presidentes, como Miguel Battaglia, Alexandre Magnani, Guido Giacominelli, Alfredo Schürig, Alfredo Ignácio Trindade, Vicente Matheus e Waldemar Pires.
Como seres humanos, não eram perfeitos. Erraram, mas sempre se comportaram de maneira digna, colocando o interesse do Corinthians acima do interesse particular.
Todos esses nos honraram, agindo com respeito e responsabilidade. Assim, contribuíram para transformar nossa agremiação na mais importante instituição popular brasileira.
Trabalhando dia e noite, buscando convergências, tornaram o Corinthians o lugar onde se encontram em saudável convergência o empresário de justo sucesso e o operário em luta por inclusão; o irmão d’África, o filho da Europa, o amigo semita, o confrade do sol nascente e os ingressantes, sejam da Bolívia, do Peru ou do Haiti. Generosa casa de todos!
Se assim somos, reduto da civilidade em construção, muito se deve a nossas lideranças, sempre na vanguarda. Não importa se o bom conselho veio de um alfaiate, de um dono de fábrica ou de um humilde condutor de tílburi.
No tempo presente, no entanto, o Corinthians vem sendo envergonhado por um presidente que desconhece nossa história e tradição.
No ano passado, em depoimento na CPI do Futebol, no Senado Federal, o cartola Roberto de Andrade simplesmente escarrou a história da Democracia Corinthiana.
Declarou: Aquilo (Democracia Corinthiana) pouco contribuiu ao clube. Foi um ato dos atletas, que não trouxe benefício algum. Chamou a atenção da mídia porque não tinha concentração e se ouvia dois, três jogadores, que mandavam no elenco. Ficou cravado como ato fora de série, mas não entendo assim. Ao clube, trouxe muito pouco benefício.
Ora, o nosso Timão é conhecido e cultuado no mundo inteiro, em documentários, reportagens e trabalhos acadêmicos justamente pelo espetacular laboratório democrático que foi a DC, construído de modo fraterno por Sócrates, Wladimir e Casagrande, em parceria com figuras como Adílson Monteiro Alves, Juca Kfouri e Washington Olivetto.
A DC construiu consciências e compartilhou saberes. Ao mesmo tempo, reinventou a gestão do esporte, desintoxicando-a, desenhando uma relação de igualdade e fraternidade entre os profissionais do futebol.
Mais do que isso, o movimento despertou os brasileiros para o valor da democracia. E, assim, o Timão foi fundamental para encerrar aquele período de trevas de nossa história, marcado por atraso econômico, representação política viciada, autoritarismo, prisões ilegais, torturas e assassinatos.
A DC, ao mesmo tempo, edificou um sonho de bom futebol. Quem viu ainda se lembra da fibra de Wladimir, da categoria de Sócrates, da precisão de Zenon, da irreverência de Casão e dos memoráveis títulos na época em que o Paulistão gozava de prestígio e boa reputação.
Não se sabe por onde andava Roberto de Andrade na época, porque aparentemente desconhece essa narrativa. E, pior, repete a versão caluniosa sobre a DC, aquela dos adversários, que teima em apontar apenas três jogadores como controladores do movimento.
Se estudasse melhor o fenômeno, descobriria que o papel das lideranças, naquele momento, era justamente incentivar a participação dos demais, criar mecanismos de decisão coletiva e compartilhar o saber.
Roberto, com todo o respeito: vai estudar!
Depois da péssima repercussão, como sempre, Andrade tentou se desculpar. Declarou na Fox Sports: "como eu estava com a cabeça voltada para a área financeira, o que veio a cabeça foi se aquilo tinha contribuído aos cofres do Corinthians, se o Corinthians tinha crescido financeiramente".
Colou? Obviamente, não!
Quem acompanhou o Brasileirão de 2015 sabe valorizar o trabalho de mestre Tite e também de nossos atletas, mesmo diante dos erros cometidos pela cartolagem.
Depois da vitória maiúscula sobre o São Paulo Futebol Clube, os torcedores esperavam que a taça de campeão fosse erguida pelo grande Ralf, atleta raçudo, que bem representa o espírito corinthianista.
Eis que surge, no entanto, um penetra aparecido para roubar do aguerrido volante esta honra. E quem é: ninguém mais que Roberto de Andrade, que não fez uma defesa, não recuperou uma bola no meio de campo e que não anotou gol algum pelo esquadrão mosqueteiro.
Então, enveredamos por 2016. Roberto de Andrade transformou o Corinthians em um verdadeiro balcão de negócios, em que os tubarões intermediários mandam e desmandam.
Nesta festa de agiotagem no templo, folgam os empresários que comercializam jogadores e que usam o Timão como vitrine para seus produtos.
Assim, perdemos quase todo o time campeão de 2015, sem que esses negócios pudessem abastecer de forma adequada os cofres do clube.
Trata-se de um modelo de submissão ao interesse financeiro dos mercadores. Eles enriquecem, enquanto o clube se afunda no rio caudaloso das dívidas e compromissos.
Pouco se sabe da natureza dessas transações, ironicamente sem nenhuma transparência, termo que completa o nome do grupo que há anos controla o Corinthians.
Assim como até agora ninguém explicou com exatidão como foi realizada a engenharia financeira para a construção do caríssimo estádio em Itaquera. E tampouco sabemos se vamos ter condições de pagá-lo, pois o processo viciado de terceirização de gestão come boa parte das receitas do clube.
Em tempo recentíssimo, veio comandar o time o profissional Cristóvão Borges. Pode-se apontar pouca glória em seu currículo. Também é possível acusar erros na formação do time. No entanto, é certo que se trata de cidadão sério, honesto, assíduo, funcionário exemplar.
Avança o campeonato e, sem qualquer respeito pelo técnico e pela torcida, Roberto de Andrade continua a movimentar seu feirão. Quase de uma vez, desaparecem do elenco quatro atletas.
Evidentemente, o resultado desse desgoverno é o fracasso em campo. A coroação do desastre foi mais uma derrota para o rival Palmeiras, clube que nunca vencemos na gestão Andrade, com quatro derrotas e dois empates, um deles seguido de desclassificação nos pênaltis, em casa.
Tornou-se, assim, o clube palestrino o maior algoz do nosso Corinthians em Itaquera.
Para livrar-se da cobrança depois de nova derrota para os verdes, Andrade resolveu demitir o técnico ainda no vestiário, descartando-o de forma autoritária. Com frieza o fez boi para as piranhas.
Antes disso, ouviu a justa reclamação de milhares de corinthianos, trabalhadores, que suam todos os dias para sustentar o clube. E como reagiu?
Foi com a educação de Battaglia? Com a altivez de Schürig? Com o humor amoroso de Matheus? Não, foi com a arrogância agressiva do atleta Fininho em 2005, copiando dele o gesto fatal: erguer o dedo do meio para a Nação corinthiana.
Cabe ao conselho corinthiano e a seus 30 milhões de torcedores tomar urgente atitude quanto ao comportamento sempre inadequado, raso, grosseiro e irresponsável do atual presidente.
O que já sabemos é que Andrade faz mal ao Corinthians. O que não sabemos é como reparar esse grave dano à agremiação. O que fazer?
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.