A saída de Vagner Mancini e de onde deveria vir o novo treinador
Opinião de Jorge Freitas
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O Corinthians perdeu sete meses de sua vida com Vagner Mancini. Contratado para evitar o rebaixamento do clube que mais gastou com salários na CLT em 2020, o treinador chegou de uma maneira inesperada, devido tanto a um bom e curto trabalho pelo Atlético-GO quanto pela falta de conhecimento de Andrés Sanchez em temas relacionados diretamente a bola e campo.
Quando Sanchez o trouxe, deu uma entrevista dizendo que o treinador seria uma boa aposta, pois não apresentava um futebol nem ofensivo nem defensivo, deixando claro que nada entendia de bola e que trazia Mancini apenas no desespero em evitar o rebaixamento em seu último ano de mandato no clube.
Mancini chegou, pegou um time destruído e cumpriu seu objetivo ao manter o clube na Série A do Brasileirão. Perfeito? É claro que não. O treinador jamais apresentou qualquer marca que o gabaritasse a treinar uma das maiores equipes da América Latina, mas mesmo assim foi contratado e, sinceramente, durou até mais que o esperado inicialmente.
Na conclusão dos fatos, Mancini sai com goleadas e eliminações, comprovando que jamais deveria ter treinado o Corinthians, que perdeu uma oportunidade de ouro de buscar um treinador no exterior para terminar a temporada anterior e preparar o clube para o que viesse a partir de agora.
É curioso a incapacidade que dirigentes possuem de entender a importância de se investir fortemente em um treinador de qualidade. Está comprovado que contratar treinador barato é uma conta que não fecha, pois paga-se menos para o comandante, mas se pratica um futebol limitado, que impede o recebimento de premiações em campeonatos e a venda de jogadores valorizados. Ou seja, paga-se menos, mas também se recebe menos, com ônus desportivo de ser eliminado com frequência e passar a temporada sem títulos.
Mas agora Mancini é passado e já se faz necessário uma nova busca de treinador para antes de o Brasileirão começar. A boa notícia é que Dyego Coelho já não está mais no clube, o que nos livra de uma boa dose de estresse pelos próximos dias.
Então, quem deve assumir o clube a partir de agora?
Renato Gaúcho, dentre os brasileiros, seria o nome certo em outros tempos, mas é possível que ele não aceite treinar o Corinthians, haja vista as suas constantes reclamações acerca da falta de investimento do Grêmio no elenco principal.
Carille? Chutado por Jorge Jesus, o treinador conhece bem o clube, mas talvez seja cedo demais para desistir de um futebol bonito, com DNA ofensivo, que esperávamos tanto ver desde que Tiago Nunes foi contratado e, infelizmente, não correspondeu.
Então por que não buscar um treinador com passagens pela Europa, fórmula que tem feito sucesso aqui no Brasil? Fala-se tanto de treinadores brasileiros, como se estes fossem os únicos disponíveis para trabalhar, mas há uma infinidade de possibilidades quando tratamos do próximo técnico do Timão.
Uma das possibilidades é olhar para mercados alternativos. Os dois últimos campeões da Libertadores da América estavam na Arábia e na Grécia antes de assumirem Flamengo e Palmeiras, respectivamente. Chegaram sem tanta pompa, muitas vezes com forte lobby ufanista agindo contrariamente a seus sucessos, mas em pouco tempo (menos do que teve Mancini), entregaram um resultado gigante que trouxe não só ganhos financeiros, mas históricos a seus clubes.
Infelizmente, o presidente anterior do Corinthians deu uma declaração retrógrada ao dizer que jamais contraria um estrangeiro para comandar o Timão. Coincidentemente ou não, enquanto o clube se prende ao mercado nacional, apanha de treinadores com passagens pela Europa, como os quatro gols que levou do Flamengo de Jesus, os três jogos sem vencer o Palmeiras de Abel, os dois sem vencer Jorge Sampaoli pelo Galo ou a eliminação para o Del Valle de Miguel Angel Ramirez na Sul-Americana de 2019.
Aliás, até mesmo a Inglaterra só deslanchou seu futebol de alta qualidade quando abriu mão do patriotismo e buscou treinadores de outros locais da Europa. Resultado? A liga mais competitiva do mundo e segunda final caseira da Champions League em três anos, com dois alemães, um português e um espanhol no comando.
Mas aqui parece haver um bloqueio que impede o clube de buscar alguém de fora, que chegue com ideias modernas, coloque a bola no chão, jogue e impeça o adversário de jogar. Enquanto apostarmos no mercado nacional de treinadores, é impossível até mesmo garantir que nossos jogadores não sejam de fato ruins para vestir a camisa do clube.
Ou você acha coincidência que Marinho, Rony, Gabriel, Bruno Henrique e Arrascaeta só começaram a decidir jogos para seus times após serem treinados por estrangeiros? Também acha coincidência o São Paulo apresentar um futebol tão interessante em pouco tempo desde que Crespo (que não treinou na Europa, mas jogou e teve contato com ótimos treinadores durante sua carreira) assumiu o clube?
Para finalizar, o que é mais caro: um treinador que recebe 800 mil, leva o time a decisões e vende jogadores da base por valores milionários ou um que ganha 200, é eliminado com frequência (perde premiações) e não vende ninguém?
Questões importantes para refletir antes de pressionar por um novo treinador.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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