Minha privada, a venda de Jô e o Corinthians
Opinião de Lucas Faraldo
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Passei uns bons dias em busca de um específico assento de vaso sanitário. Ontem enfim achei por R$ 105,90 o modelo que procurava. Também achei por R$ 115,90 um idêntico, porém com uma cor que melhor se adequaria ao meu banheiro. Dei de ombros e escolhi a peça mais barata. Nas atuais circunstâncias, R$ 10 fazem uma boa diferença no fim do mês.
Gostaria que aqueles que mandam no Corinthians pensassem de forma similar. Diante da notícia do colunista Juca Kfouri de que os 10 milhões de euros da venda de Jô inicialmente informados pelo clube eram na verdade 10 milhões de dólares (cuja parcela de 3 milhões de dólares teria sido repassada a empresários como "comissão"), tive certeza de que as privadas do Parque São Jorge têm assentos bem mais caros que a minha.
Primeiro convido os leitores a acompanharem o diálogo do presidente Roberto de Andrade com o repórter Diego Salgado, que já trabalhou no Meu Timão e hoje está no Uol. A conversa data de 5 de janeiro, em entrevista coletiva concedida no CT Joaquim Grava.
Repórter: Queria que você confirmasse, por favor, o valor da venda do Jô, se gira em torno de 10 e 11 milhões de euros, como o Corinthians vai receber esse dinheiro e qual será o destino dele.
Roberto de Andrade: Só isso que você quer saber? É mais ou menos isso valor. O destino é o clube. Não tem outro destino. O destino é a conta corrente do clube.
Repórter: O Corinthians vai usar para pagar dívidas?
Roberto de Andrade: Não sou eu que vou pagar. O que muda para você se eu pagar a dívida ou trazer jogador? Não muda nada. É o dinheiro do clube.
Repórter: É uma informação importante.
Roberto de Andrade: Não vejo tanta importância assim não. Isso é uma coisa interna, o que vamos fazer com o dinheiro compete à diretoria do clube resolver.
Antes de mais nada, deixemos claro que os R$ 39,5 milhões divulgados inicialmente como dinheiro a ser recebido pelo clube são na verdade algo próximo de R$ 22 milhões, como pode ser conferido aqui. Frente aos R$ 10 de economia na compra do meu assento, acho tais valores um tanto quanto distintos. Enfim...
Não é de hoje que o presidente do Corinthians, em sua reta final do mandato, ironiza a imprensa. E consequentemente os torcedores corinthianos. Afinal somos nós jornalistas a ponte entre a diretoria e a torcida. Ou então alguém faça o favor de me explicar outra razão para uma entrevista coletiva ser convocada com o principal cartola do clube sentado em frente a dezenas de câmeras, microfones e gravadores.
No mês passado, o Meu Timão já havia listado algumas das falas de Roberto de Andrade que não batiam muito bem com a realidade. As informações sobre a venda de Jô foram apenas mais do mesmo para quem já se acostumou às recentes "declarações oficiais".
E esse "mais do mesmo" é na verdade a tal falta de transparência que inúmeros torcedores questionam há anos - inclusive por meio de postagens no fórum aqui do Meu Timão. Ao prometer renovação e transparência e entregar declarações vagas e números imprecisos (a gestão de Roberto de Andrade acabou com a publicação anual de relatórios de sustentabilidade, por exemplo), a diretoria do Corinthians abre margem para a torcida levantar mil e uma teorias da conspiração sobre o verdadeiro destino do dinheiro da venda de Jô - e de tantos e tantos outros "dinheiros" ao longo dos últimos anos. Não seria mais fácil se espelhar em casos como o do Racing (ARG), e explicar tudo certinho à Fiel? É. Não sei...
Em suma, para quem leu este texto do começo ao fim: ao contrário de mim, que enfim tenho onde fazer minhas necessidades fisiológicas, há quem esteja cagando e andando onde não deveria. E quem se suja nessa história é o Sport Club Corinthians Paulista.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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