Qual futuro você quer para o Corinthians?
Opinião de Roberto Piccelli
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O Projeto por uma Administração mais Responsável (PA+R) tem sido recebido com muito mais entusiasmo do que o esperado. Manifesto desde já meu agradecimento por todo o apoio. É a prova definitiva de que a torcida do Corinthians não é nada imediatista e está, sim, preocupada com a saúde financeira do clube. Já recebemos inúmeras sugestões no e-mail [email protected], mas ainda há tempo de contribuir. Ainda vamos analisar o material e consolidar uma versão definitiva da proposta até o começo de 2020.
Apesar da recepção amplamente positiva do projeto a partir da matéria do Lucas Faraldo, um dos comentários chamou a atenção em particular, na entrevista feita para o canal do Meu Timão no YouTube. Disse o torcedor: “Torcedor preocupado com dívida do Corinthians. Tem rir! Sou Corinthiano, mais tô pouco lixando pra divida do Corinthians. Clube de futebol nunca quebra…”. O comentário foi imediatamente execrado por uma série de outros usuários - o que fala por si só sobre a consciência predominante da torcida - , mas eu acredito que valham aqui algumas linhas para expor as falhas desse raciocínio. Afinal, talvez esse torcedor não esteja sozinho, e não quero perder a oportunidade de convencer até quem hoje pensa dessa forma.
1. Clube de futebol nunca quebra?
Clube de futebol quebra, sim. É verdade que o amor do torcedor pelo time é muito mais tolerante do que o apego de um cliente a uma empresa, e também é verdade que o governo tem sido mais leniente com os clubes do que com os outros devedores do fisco. O problema é que essa margem de manobra adicional tem sido naturalizada por muitos dirigentes do futebol brasileiro, e o caso do Corinthians não é diferente. O limite pode ser mais largo, mas ele existe. O fato de não termos tocado ainda no fundo do poço não significa que possamos continuar achando que não vamos encontrá-lo.
O exemplo sombrio, lembrado por muitos dos comentários e mencionado também na conversa com o Faraldo, é o do Cruzeiro. O escândalo das comissões recebidas por integrantes da diretoria, revelado pelo Fantástico neste ano, foi o estopim para o caos, mas a verdade é que nada disso teria acontecido se o endividamento houvesse sido controlado a tempo, como mostra a reportagem de Fernanda Canofre. As novas regras de divisão das cotas de TV para os clubes rebaixados torna a situação mais dramática ainda, porque o clube terá que se adaptar a um orçamento extremamente restrito enquanto mantém contratos milionários com o atual elenco. E sabemos que a Justiça do Trabalho não costuma ser tão compassiva com os clubes como o governo. Os dirigentes mineiros terão a missão de trocar a roda enquanto o carro desce pela ladeira.
2. Prevenir é melhor do que remediar
O que se propõe não é um corte radical do orçamento do futebol. Um Corinthians sustentável também pressupõe uma equipe minimamente competitiva para manter aceso o interesse do torcedor em frequentar a Arena, assistir aos jogos na televisão e gastar em produtos oficiais. Até por isso, só poupar também pode ser muito contraproducente no longo prazo.
A ideia é simplesmente que se promova uma gestão equilibrada das receitas e das despesas. Quem hoje gasta mais do que arrecada hoje cria um problema ainda maior para amanhã. As normas de integridade nos contratos e a limitação de atletas com vínculo com o clube poderiam ajudar a reduzir o custo sem tanto prejuízo para o desempenho do time. A falta de transparência contribui atualmente para que empresas responsáveis evitem se aproximar do clube. Uma nova forma de administrar, então, seria importante, inclusive, na busca por novas fontes de receita.
3. Se o torcedor não se preocupa, de quem é o problema?
O objetivo mais fundamental do PA+R é ampliar os mecanismos de controle da torcida sobre o Corinthians. A ideia de um órgão de representação do Fiel Torcedor viria justamente para atender a esse propósito-chave. O ponto mais importante a ser combatido do comentário, então, é o argumento de que a torcida não precisa se preocupar com as finanças do clube. Já se falou sobre por que as finanças são importante; resta lembrar o papel do torcedor.
O torcedor é o mais afetado por tudo o que acontece no Corinthians. Se a situação se deteriora a tal ponto que o clube não consegue manter um nível mínimo de competitividade é ele quem sofre diretamente. É também o corintiano quem mantém direta ou indiretamente o Corinthians. Se ele lava as mãos para o que se passa fora das quatro linhas, contribui justamente para uma postura irresponsável na administração.
Infelizmente, a rede de apoio à estrutura que rege o funcionamento dos clubes no Brasil é muito mais extensa do que se supõe. A inércia dos órgãos internos e o silêncio de setores da imprensa e até de algumas autoridades dão uma pista do tamanho do desafio de mudar alguma coisa. Se a própria torcida se conforma, não resta nenhuma esperança, e basta esperar pelo próximo desastre para ver se o vento muda de direção.
É por essa razão que faço questão de apresentar o projeto para a torcida em primeiro lugar. A cobrança de novas práticas é a única saída possível. Fico muito otimista com a recepção inicial ao projeto, porque percebo que o corintiano vê muito além do agora e reivindica o seu protagonismo. Se o cruzeirense tivesse adotado a mesma postura a tempo, certamente não correria o risco de se acostumar com o seu time longe da elite do futebol brasileiro.
Quando o projeto estiver completo, façamos nossa parte: vale gritar na arquibancada, vale chamar a atenção dos dirigentes e dos jornalistas, vale tópico no Fórum do Meu Timão, vale campanha no Twitter. Por ora, contribua com as suas ideias. O nosso futuro está na pauta.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.