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Qual futuro você quer para o Corinthians?
Roberto Piccelli

Roberto Piccelli é advogado atuante em direito público e escreve sobre temas jurídicos e institucionais relacionados ao Corinthians.

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Qual futuro você quer para o Corinthians?

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Opinião de Roberto Piccelli

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Qual futuro você quer para o Corinthians?

Levantamento feito por Danilo Augusto mostra que a dívida tem crescido assustadoramente

Foto: Danilo Augusto | Meu Timão

O Projeto por uma Administração mais Responsável (PA+R) tem sido recebido com muito mais entusiasmo do que o esperado. Manifesto desde já meu agradecimento por todo o apoio. É a prova definitiva de que a torcida do Corinthians não é nada imediatista e está, sim, preocupada com a saúde financeira do clube. Já recebemos inúmeras sugestões no e-mail [email protected], mas ainda há tempo de contribuir. Ainda vamos analisar o material e consolidar uma versão definitiva da proposta até o começo de 2020.

Apesar da recepção amplamente positiva do projeto a partir da matéria do Lucas Faraldo, um dos comentários chamou a atenção em particular, na entrevista feita para o canal do Meu Timão no YouTube. Disse o torcedor: “Torcedor preocupado com dívida do Corinthians. Tem rir! Sou Corinthiano, mais tô pouco lixando pra divida do Corinthians. Clube de futebol nunca quebra…”. O comentário foi imediatamente execrado por uma série de outros usuários - o que fala por si só sobre a consciência predominante da torcida - , mas eu acredito que valham aqui algumas linhas para expor as falhas desse raciocínio. Afinal, talvez esse torcedor não esteja sozinho, e não quero perder a oportunidade de convencer até quem hoje pensa dessa forma.

1. Clube de futebol nunca quebra?

Clube de futebol quebra, sim. É verdade que o amor do torcedor pelo time é muito mais tolerante do que o apego de um cliente a uma empresa, e também é verdade que o governo tem sido mais leniente com os clubes do que com os outros devedores do fisco. O problema é que essa margem de manobra adicional tem sido naturalizada por muitos dirigentes do futebol brasileiro, e o caso do Corinthians não é diferente. O limite pode ser mais largo, mas ele existe. O fato de não termos tocado ainda no fundo do poço não significa que possamos continuar achando que não vamos encontrá-lo.

O exemplo sombrio, lembrado por muitos dos comentários e mencionado também na conversa com o Faraldo, é o do Cruzeiro. O escândalo das comissões recebidas por integrantes da diretoria, revelado pelo Fantástico neste ano, foi o estopim para o caos, mas a verdade é que nada disso teria acontecido se o endividamento houvesse sido controlado a tempo, como mostra a reportagem de Fernanda Canofre. As novas regras de divisão das cotas de TV para os clubes rebaixados torna a situação mais dramática ainda, porque o clube terá que se adaptar a um orçamento extremamente restrito enquanto mantém contratos milionários com o atual elenco. E sabemos que a Justiça do Trabalho não costuma ser tão compassiva com os clubes como o governo. Os dirigentes mineiros terão a missão de trocar a roda enquanto o carro desce pela ladeira.

2. Prevenir é melhor do que remediar

O que se propõe não é um corte radical do orçamento do futebol. Um Corinthians sustentável também pressupõe uma equipe minimamente competitiva para manter aceso o interesse do torcedor em frequentar a Arena, assistir aos jogos na televisão e gastar em produtos oficiais. Até por isso, só poupar também pode ser muito contraproducente no longo prazo.

A ideia é simplesmente que se promova uma gestão equilibrada das receitas e das despesas. Quem hoje gasta mais do que arrecada hoje cria um problema ainda maior para amanhã. As normas de integridade nos contratos e a limitação de atletas com vínculo com o clube poderiam ajudar a reduzir o custo sem tanto prejuízo para o desempenho do time. A falta de transparência contribui atualmente para que empresas responsáveis evitem se aproximar do clube. Uma nova forma de administrar, então, seria importante, inclusive, na busca por novas fontes de receita.

3. Se o torcedor não se preocupa, de quem é o problema?

O objetivo mais fundamental do PA+R é ampliar os mecanismos de controle da torcida sobre o Corinthians. A ideia de um órgão de representação do Fiel Torcedor viria justamente para atender a esse propósito-chave. O ponto mais importante a ser combatido do comentário, então, é o argumento de que a torcida não precisa se preocupar com as finanças do clube. Já se falou sobre por que as finanças são importante; resta lembrar o papel do torcedor.

O torcedor é o mais afetado por tudo o que acontece no Corinthians. Se a situação se deteriora a tal ponto que o clube não consegue manter um nível mínimo de competitividade é ele quem sofre diretamente. É também o corintiano quem mantém direta ou indiretamente o Corinthians. Se ele lava as mãos para o que se passa fora das quatro linhas, contribui justamente para uma postura irresponsável na administração.

Infelizmente, a rede de apoio à estrutura que rege o funcionamento dos clubes no Brasil é muito mais extensa do que se supõe. A inércia dos órgãos internos e o silêncio de setores da imprensa e até de algumas autoridades dão uma pista do tamanho do desafio de mudar alguma coisa. Se a própria torcida se conforma, não resta nenhuma esperança, e basta esperar pelo próximo desastre para ver se o vento muda de direção.

É por essa razão que faço questão de apresentar o projeto para a torcida em primeiro lugar. A cobrança de novas práticas é a única saída possível. Fico muito otimista com a recepção inicial ao projeto, porque percebo que o corintiano vê muito além do agora e reivindica o seu protagonismo. Se o cruzeirense tivesse adotado a mesma postura a tempo, certamente não correria o risco de se acostumar com o seu time longe da elite do futebol brasileiro.

Quando o projeto estiver completo, façamos nossa parte: vale gritar na arquibancada, vale chamar a atenção dos dirigentes e dos jornalistas, vale tópico no Fórum do Meu Timão, vale campanha no Twitter. Por ora, contribua com as suas ideias. O nosso futuro está na pauta.

Veja mais em: Diretoria do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Roberto Piccelli

Roberto Piccelli é advogado atuante em direito público e escreve sobre temas jurídicos e institucionais relacionados ao Corinthians.

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  • Comentários mais curtidos

    Foto do perfil de Milton

    Milton 98 comentários

    @miltaoleite em

    Sonho com uma diretoria honesta, com profissionais capacitados e que amem o clube!

    No momento, infelizmente, o que temos é o oposto...

  • Foto do perfil de Claudio

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    Claudio 2662 comentários

    @migo.pr em

    Cara, fantástico!

    Pode ser o início da nossa salvação!

    Vamos apoiar essas causa e lutar antes que esse bando que está aí destrua de vez o nosso Corinthians.

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    Jose 525 comentários

    46º. @dino.plenpop em

    Clube empresa ou seja, transformar o Timão numa S&A, mas totalmente fiscalizado por organização formada por conselheiros e torcida, sanear o clube, renegociar a Arena, aposto que o Botafogo do Rio será um dos cinco maiores clubes daqui a dez anos, eles começam da estaca menos zero, o Timão começaria numa situação bem melhor além de ter oito (8) vezes mais torcedores.

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    Newton 469 comentários

    45º. @newton Apoiador em

    Concordo em todos os níveis com você Roberto! Cara, fico absurdamente feliz ao ver um tópico como este. Parabéns não só pela análise e trabalho, mas principalmente pela maneira calama e estruturada que explicou e expôs os pontos. Isso, é na minha opinião, o que mais falta no diálogo de tudo que temos no país hoje.
    Salvei seu post para usar como referência. Espero realmente que cresçamos nessa direção!
    Abraços e vai Corinthians!

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    Luiz 78157 comentários

    44º. @luiz.fernando.balest em

    Disputar um título da Libertadores e Mundial!

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    Sergio 395 comentários

    43º. @sergio.santos23 em

    O melhor possível

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    Welington 4497 comentários

    42º. @welington.andrade1 Apoiador em

    Li o documento e me parece bem interessante, lógico, não sou administrador e nem jurista, então minha visão é rasa, mas qualquer ação no sentido de se conter gestão irresponsável é bem vinda.

    Só achei a figura do representante do fiel torcedor meio fraca. O ideal é o sócio torcedor eleger o presidente, nada vai funcionar corretamente enquanto alguns gatos pingados elegerem o representante de milhões. Opinião pessoal.