BRL, Odebrecht, etc: desvendando quem é que manda na Arena.
Opinião de Roberto Piccelli
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Não é fácil obter informações precisas sobre a Arena. Operações jurídicas com nomes estranhos, cláusulas de confidencialidade, dados desencontrados, empresas desconhecidas do público comum, etc. Aqui vai um guia básico para saber o que de fato acontece e os próximos problemas que devemos enfrentar.
O fundo dono da arena e a BRL Trust
Do ponto de vista formal, o estádio pertence a um fundo imobiliário (chamado Arena Fundo de Investimento Imobiliário - FII), que tem três cotistas, ou seja, três sócios. O Corinthians é apenas um deles. Os outros dois são a Odebrecht e uma terceira empresa, designada Arena Itaquera S.A. - AIS, da qual são acionistas a própria Odebrecht e uma outra empresa, a BRL Trust.
Não se assuste: a BRL é só uma empresa de gestão profissional de fundos imobiliários. Trabalha não só com a Arena mas com muitos outros negócios, como o próprio site indica. Na verdade, não é bem uma sócia do negócio, como propagam alguns desentendidos. Sua participação no patrimônio é simbólica. Foi indicada como gestora do fundo e recebe por essa tarefa cerca de R$ 75 mil por mês, conforme o regulamento do "Arena FII". Se algum dia for decidido que a BRL deve ser substituída por uma nova gestora, nada impede que essa alteração seja imediatamente concretizada.
Ninguém divulgou publicamente a porcentagem havida por cada sócio no "Arena FII", o real dono do estádio hoje. Muito provavelmente, o Corinthians detém uma participação inferior à da Odebrecht enquanto a obra não for quitada pelo clube. O principal indício nesse sentido é que a gestora do fundo é indicada pela construtora.
Espera aí, mas o Corinthians não é dono da Arena? Não, não é. O dono é o fundo. O Corinthians é sócio do fundo, e provavelmente não tem a maior parte das cotas. Por outro lado, é o clube, sim, que toma as decisões referentes à administração do estádio, pelo menos até aqui, por força de um contrato de operação que o Corinthians firmou com o "Arena FII".
O contrato de operação, as metas e as parcelas
Esse contrato garante ao clube a operação exclusiva da Arena a troco do atingimento de metas de arrecadação para quitar o empréstimo conseguido no BNDES pela "AIS" via Caixa. Pensem em algo parecido com um arrendamento de um imóvel para exploração comercial.
A existência do contrato de operação também é evidência de que o Corinthians, hoje, não é sócio majoritário do "Arena FII", já que pode simplesmente perder o poder de explorar o estádio com exclusividade se, por três anos, não conseguir chegar aos números mínimos previstos no contrato.
Infelizmente, o Corinthians não conseguiu no primeiro ano cumprir a meta de arrecadação contratual. Pelo andar da carruagem, também não deverá atingi-la neste, em que as bilheterias têm despencado. Depois, se passar mais um ano sem batê-la, pelas condições contratuais vigentes, deve perder o direito de operar e, portanto, de tomar as decisões referentes ao estádio.
Caso ocorra essa situação, a Odebrecht, por meio da BRL, decide o que fazer com a arena. Seria difícil que uma ou outra assumissem diretamente a operação do estádio, já que essa não é a expertise de nenhuma das duas. Provavelmente, indicariam uma administradora especializada ou até criariam uma empresa com esse objetivo específico, como acontece no Maracanã. Lá quem opera é a Consórcio Maracanã S.A., da qual a Odebrecht é a sócia majoritária.
O problema é que, se isso acontece, essa nova operadora do nosso estádio teria por objetivo apenas encontrar a solução mais lucrativa para a arena. Poderia mudar a política de preços de ingresso, as cores das arquibancadas, e até mudar a destinação do estádio. Poderia virar um heliponto, se fosse dar mais receita. A única prioridade seria gerar dinheiro suficiente pagar a dívida deixada pela obra.
Renegociação em curso
Por isso mesmo, a diretoria hoje corre contra o tempo para renegociar as condições do contrato de operação, para que passe a prever metas mais sóbrias. Essa renegociação, por sua vez, depende naturalmente de outra, bastante difícil, com a Caixa e o BNDES, para que que as parcelas do financiamento sejam diferidas. Enquanto essa negociação está em curso, o Corinthians não tem pagado as parcelas desde março.
Sem o diferimento e sem algum milagre, há um outro risco sério no horizonte. O Corinthians estará obrigado a completar as diferenças entre a arrecadação do estádio e as parcelas - que aumentam com o tempo. As contas do clube devem sofrer ainda mais.
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