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O que Arana no Corinthians e Fagner na Seleção têm a ver com Sylvinho
Tomás Rosolino

Tomás Rosolino é jornalista faz um tempo. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, ex-Agora SP e Gazeta Esportiva. Hoje no Meu Timão. Vejo muito esporte, todo dia, o dia todo.

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O que Arana no Corinthians e Fagner na Seleção têm a ver com o novo técnico Sylvinho

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O que Arana no Corinthians e Fagner na Seleção têm a ver com o novo técnico Sylvinho

Sylvinho como auxiliar teve papel fundamental no desenvolvimento de alguns dos melhores laterais dos últimos anos no clube

Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians

Sylvinho chega ao Corinthians nesta semana para iniciar o seu segundo trabalho como treinador profissional - talvez o primeiro com uma amostragem relevante para se fazer uma avaliação sobre o seu estilo de jogo. Ao Timão, porém, já deixou alguns frutos da sua capacidade de treinamento individual de atletas.

Comecei a ser setorista do Corinthians ainda recém-formado na faculdade, em 2013, quando acompanhei de perto o estrelado elenco daquele time jogar a bola necessária para ir ao menos a mais uma final de Libertadores da América - Carlos Amarilla e, talvez, a Conmebol não quiseram que isso acontecesse.

Já no fim daquele ano, Sylvinho começou a trabalhar como auxiliar no clube, pouco tempo depois de encerrar a vitoriosa carreira como jogador de futebol. Era um rosto conhecido e, para um repórter curioso, uma máquina de entretenimento nos longos treinamentos vespertinos que o futebol produz.

"Isso, isso. Ativa, ativa. Não, assim, não". Eu poderia fazer um parágrafo inteiro sobre as repetições que ele costumava fazer no treino individual para atletas que queriam aprimorar aspectos do jogo, um balde cheio para aqueles registros que você, leitor, acostumou-se a ver como "rapidinhas" ou "direto do CT" nos grandes veículos de comunicação.

Sylvinho em uma das várias conversas com Mano Menezes em 2014

Sylvinho em uma das várias conversas com Mano Menezes em 2014

Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians

Ele só virou um personagem mais claro para mim, porém, em 2014, quando uma reformulação promovida por Mano Menezes fez com que vários jovens, da base ou contratados, chegassem para dar novo fôlego ao elenco. Foi aí que ele transformou bons jogadores em atletas de alto nível ao lado do outro auxiliar, um tal Fábio Carille.

Falando do que ainda está no clube, Sylvinho e Carille viram Fagner, aos 24 anos, chegar após mais uma passagem frustrada pela Europa - e um rebaixamento com o Vasco. No começo, o bom apoio do jogador era ofuscado pela frágil capacidade defensiva, por vezes até exposta por Mano em entrevistas coletivas.

Começou, então, um incessante trabalho de treinamento individual com o atleta para que ele entendesse a importância de mudar a sua postura na hora de marcar, acertar o movimento corporal e antecipar ações para prevenir os ataques pela direita. Em uma época na qual não controlavam tanto nossa movimentação no CT, fiquei várias horas observando as orientações para que ele não repetisse erros cometidos nos jogos anteriores.

Uma fala da dupla ao atleta ao final de um trabalho é muito clara até hoje na minha mente. "Você não precisa roubar a bola na intermediária toda vez. O mais importante é fazer com que a jogada não avance quando chegar no ponta". Ou seja, não era necessário vencer vários duelos e sobrepujar o adversário. Coletivamente, era interessante que Fagner fechasse os espaços para que o esquema resolvesse no fim.

E foi assim que o jogador, à época cogitado como possível reserva de Ferrugem - e certo reserva de Edilson, contratado ao final da temporada, despontou para ser um dos melhores jogadores da sua posição na história alvinegra, hoje já com 400 jogos para a sua conta e uma Copa do Mundo no currículo.

Sylvinho observa treinamento de perto no Corinthians

Sylvinho observa treinamento de perto no Corinthians

Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians

Depois do título paulista de 2019, aliás, foi até exaltado por Carille pela capacidade de aprendizado. "Abriu a cabeça para aprender a marcar em trabalhos feitos comigo e com o Sylvinho. Tenho certeza que, se tivesse ido para a Europa já com esse treinamento, não teria voltado, não", assegurou o então treinador.

Essencial na moldagem de um dos melhores jogadores do Corinthians na sua posição, mas pela direita, Sylvinho também foi fundamental na evolução da hoje realidade Guilherme Arana, titular e um dos destaques do Atlético-MG. E, por experiência pessoal, posso dizer que nesse caso Carille reconheceu que Sylvinho era o mais indicado para ensinar.

Depois de uma Copa São Paulo segura, mas sem grande destaque, Arana subiu para o profissional para ser a terceira opção no setor, atrás de Uendel e Fábio Santos. Muito amigo de Malcom, ele por vezes fazia o companheiro esperar um pouco mais na beira do gramado enquanto ouvia as orientações de Sylvinho. E, garanto, eram inúmeras.

"Arana, essa bola não passa". "Arana, diminui essa base para marcar". "Arana, fecha mais a linha". Arana era tranquilamente o nome mais falado por Sylvinho nos treinamentos em 2014, talvez pela similaridade na trajetória - ambos saídos da base - talvez por enxergar nele o potencial de ser um grande na sua posição.

Lembro perfeitamente de um trabalho no qual Sylvinho pediu para Arana repetir um cruzamento rasteiro, sem defensores, em sete oportunidades. Depois de seis bolas tachadas como "no jogo, não passa", Sylvinho bradou ao ver um cruzamento rasteiro, forte e com leve curva atravessar a área. "Essa é a bola!", exclamou. Lembra alguns lances do Arana pra você?

Consolidado como grande passador na sequência da carreira, Arana "explodiu após o 2014 ao lado de Sylvinho. Foi titular durante boa parte do Brasileiro de 2015, atingiu a Seleção Brasileira sub-20 pela primeira vez na carreira e, em 2017, foi um dos melhores jogadores da equipe no heptacampeonato nacional.

Hoje, se aquele garoto bem mais magro, mas com o mesmo olhar atento e desconfiado, sonha em ser convocado por Tite para a Seleção principal mais vezes, Sylvinho tem clara participação nisso. Eu sou testemunha.

Veja mais em: Sylvinho, Técnicos do Corinthians e Fagner.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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