Venha fazer parte da KTO
x
A década do Corinthians
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

ver detalhes

A década do Corinthians

Coluna do Victor Farinelli

Opinião de Victor Farinelli

5.6 mil visualizações 23 comentários Comunicar erro

A década do Corinthians

Corinthians viveu uma década de hegemonia nacional

Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

Em outros tempos, as décadas e séculos terminavam no ano 0 – o que faria com que a década fosse entre 2011 e 2020, por exemplo. Mas hoje em dia parece haver novos parâmetros, que a estabelecem entre 2010 e 2019. Vejo muitas retrospectivas da década feitas por alguns, enquanto outros parecem ainda seguir o padrão antigo. Seja como for, decidi aceitar o novo, de dizer que termina nesta terça-feira, a década mais gloriosa da história do Corinthians – e se estiver errado, faço outro texto no final do ano que vem, e pronto.

Uma década que, por essa regra, começou com o ano do nosso centenário, marcado pela festa belíssima feita pela nossa torcida no centro de São Paulo, mas também pela frustração de um título que não veio, com os rivais entregando seus jogos para impedir a nossa conquista.

No ano seguinte, a eliminação pro Tolima na pré-Libertadores deu aos anticorinthianos a última alegria das suas vidas. Daí por diante, o Coringão virou a chave e começou a mudar os seus rumos. O primeiro passo foi vencer um Campeonato Brasileiro, aos trancos e barrancos, mais na raça que na bola, sofrido, do jeito que a Fiel gosta.

No dia daquele título, perdemos o Doutor Sócrates, para muitos (como eu, por exemplo), o maior ídolo da história do clube, e levantamos a taça na cara do rivale, sem vitória, mas com direito a chute no vácuo e Valdivia perdendo a linha em campo.

Contudo, naquelas turbulências de 2011 estava sendo gestado algo muito maior. Aquele título, que talvez seja o menos recordado desta década tão gloriosa, foi a encubadora de um time que chegou em 2012 pronto pra alcançar o inimaginável.

Nome por nome, certamente não foi o melhor time que o Coringão montou pra uma Libertadores. Mas foi, indiscutivelmente, o que melhor a jogou. Tinha raça, tinha talento, uma disciplina tática ortodoxa, e os jogadores certos, no momento mais iluminados de suas carreiras, como Alessandro, Castán, Ralf, Paulinho, Danilo, entre outros.

Quando precisou de um goleiro pra consolidar esse time, apareceu o Cássio, pra se tornar carrasco do Diego Souza, ídolo da torcida e maior colecionador de títulos da história do clube. Quando parecia que o final seria triste como, em tantas outras edições, e precisou de um talismã pra garantir que desta vez o final seria diferente, apareceu Romarinho, com um gol que ninguém esperava, e depois ainda virou pesadelo dos porcos. Quando precisou mostrar poder de decisão e espírito campeão, pra não deixar nenhuma dúvida de que aquele título era nosso, apareceu Émerson Sheik, fazendo gols e mordendo os argentinos pelotudos.

E, uma vez libertados da maldição sul-americana, quando tivemos que provar novamente nossa grandeza a nível mundial. Conquistamos várias glórias de uma só vez. Primeiro, com a maior festa de despedida da história, que transformou o aeroporto de Cumbica no Pacaembu. Depois, com mais de 30 mil em Yokohama, do outro lado do mundo – sorry mulambada, vocês não fizeram nem metade, em distância muito menor, e ainda perderam o jogo –, fizemos daquele estádio japonês a nossa primeira Arena Corinthians. Fomos o único não europeu a vencer o torneio nesta década, com duas goleadas estilo Tite, que ainda levantou o inesquecível cartaz The Favela is Here. Ambas as vitórias com gols do Guerrero, que poderia ter sido ídolo eterno do clube, mas depois preferiu ser mercenário, e abandonar o clube no meio de um campeonato.

Azar o dele, não só porque não ganhou nada por onde passou depois – tem gente que ainda duvida que mandinga de corinthiano pega – como também porque aquele time que ele abandonou em 2015, ao ser novamente comandado pelo Tite, se transformou num dos maiores campeões brasileiros de todos os tempos. Já com Fagner na lateral, Gil e Felipe na zaga, Elias, Renato Augusto e Jadson no meio, Malcom e Vágner Love no ataque. Melhor ataque, melhor defesa, massacrando os rivais, mesmo jogando com o time reserva. Que o diga o freguês do Morumbi, que levou seis na cabeça de um time comandado por Lucca e Romero, no primeiro jogo inesquecível da nossa nova Arena.

Aliás, a nossa Arena também é uma das grandes notícias desta década, sendo um dos fatores decisivos pras conquistas obtidas na segunda metade desse período. Agora de casa própria, o Coringão conseguiu mostrar ainda mais a força da sua torcida. É verdade que, como muitas coisas que acontecem no clube, ela poderia ser melhor administrada, para ser menos gourmetizada, mais popular, com ampliação da capacidade e preços mais acessíveis, e esses serão alguns dos desafios que teremos como instituição para os próximos dez anos. Mas nem por isso devemos diminuir os lindos momentos que vivemos em Itaquera, tanto no futebol masculino quanto no feminino.

Quase deixei passar os títulos de 2013: um Paulistão conquistado em plena Vila Belmiro, e uma Recopa Sul-Americana sapecando mais uma vez o freguês preferencial, ganhando na ida e na volta. Talvez porque aquele ano era pra ser o do bi da Libertadores, e acabou manchado pela roubalheira do Amarilla, e pela esquecível passagem daquele jogadorzinho de apartamento que me recuso a mencionar, vocês sabem quem é, e que custou tão caro, pra fazer tanto ridículo, que dá raiva só de lembrar.

Em 2016 nasceu o time feminino, em parceria com o Audax. Jogou bem todos os torneios que disputou. Era um trabalho ainda no início, mas já foi o suficiente para faturar um título, de campeãs da Copa do Brasil, ganhando vaga na Libertadores de 2017, que seria justamente o segundo time das nossas meninas.

Naquele mesmo 2017, o time masculino foi assumido por Fábio Carille. Começou o ano mais ou menos como terminou este, empatando muito e perdendo uns pontos que não dava pra acreditar. Até que, no clássico do centenário, outra partida inesquecível da Arena Corinthians, com um jogador a menos durante mais da metade do jogo por uma expulsão injusta, conseguimos uma vitória épica, quase no último minuto, com um Jô que iniciou ali sua fama de rei dos clássicos.

Para que aquele time de 2017 pudesse ser campeão do Paulista e do Brasileiro, foi preciso ter novos craques. Rodriguinho e Romero, refugo dos times de anos anteriores, se tornaram craques, ídolos, imprescindíveis. Guilherme Arana, Maycon e Pedrinho queimaram a língua dos que duvidavam do valor dos valores do Terrão. Gabriel, Pablo e o sargentão Balbuena completavam o time garantiam a segurança defensiva.

Carille foi um treinador vencedor, não só pelos títulos que conquistou como por sua efetividade nos clássicos. É verdade que sua capacidade foi minguando no segundo semestre deste ano, mas não se pode negar seu mérito no tricampeonato paulista, com o qual reivindicamos nossa ampla hegemonia estadual, e de quebra chegamos às três dezenas de títulos, deixando oito troféus de diferença aos fregueses mais próximos.

Independente do treinador do momento, e como sempre, o fator decisivo para as conquistas foi a participação da torcida. Nesta década, ela foi primordial em muitíssimos momentos, mas é impossível não destacar os treinos abertos, em que mostramos, a cada nova demonstração de amor, que a Fiel é a maior, mais bonita e mais guerreira torcida deste redondo planeta.

De quebra, ainda ganhamos nossos quatro Paulistões da década ganhando dos três rivais, e também da Ponte Preta, adversário especial em 2017, para comemorar mais adequadamente os 40 anos do histórico gol do Basílio.

Enquanto isso, o time feminino deixou a parceria com o Audax e, em 2018, passou a ser puro sangue corinthiano. Em seu primeiro ano, ganhou o Campeonato Brasileiro, e neste 2019, chegou a todas as finais, ganhando o Paulista e o bi da Libertadores, e só perdeu o Brasileirão nos pênaltis. Ademais, alcançou o impressionante recorde mundial de 34 vitórias consecutivas, e ainda hoje mantém uma série invicta de 47, nos 48 jogos disputados na temporada – sim, elas só perderam na estreia. Uma temporada que ainda por cima terminou com o recorde de público da história do futebol feminino brasileiro, em mais uma partida inesquecível da Arena Corinthians.

No futebol, juvenil, ganhamos 3 Copinhas, e alcançamos o 10º título no torneio – tem time, da mesma cidade, que não ganhou nenhuma. Também fomos campeões paulistas sub 20 em 2014 e 2015, e campeões brasileiros de 2014.

O basquete masculino faturou a Liga Ouro de 2018, com o armador Gustavinho levantando a taça com a histórica camiseta pedindo justiça para Marielle Franco. No basquete feminino, o Corinthians/Americana ganhou títulos de campeã brasileira em 2017, campeã paulista em 2015, e campeã sul-americana, também em 2015. Já no vôlei masculino, o Corinthians/Guarulhos marcou o retorno do clube à modalidade, mas não durou mais que uma temporada.

Por sua vez, o futsal colecionou uma penca de títulos importantes: 5 Paulistas (2013, 2015, 2016, 2018 e 2019), 1 Liga Nacional (2016), 2 Copas do Brasil (2018 e 2019), 1 Supercopa do Brasil (2019), 2 Taças Brasil (2010 e 2014), 1 Supercopa Paulista (2019) e um Campeonato Metropolitano (2010), mostrando ser claramente um dos mais fortes do país na modalidade.

E termino este resumo com as minhas seleções da década. Minha seleção titular do melhor Coringão destes 10 anos é: Cássio; Fagner, Gil, Balbuena e Guilherme Arana; Ralf, Paulinho, Renato Augusto e Danilo; Émerson Sheik e Jô. Também fiz uma seleção reserva, com: Walter; Alessandro, Chicão, Felipe e Fábio Santos; Gabriel, Elias e Rodriguinho; Romero, Romarinho e Vagner Love.

Enfim, estamos terminando uma década em que fomos felizes como nunca, mesmo sem abandonar a sofrência que nos caracteriza, e marcamos uma hegemonia a nível nacional, e destaque a nível mundial – essa palavrinha que dói na alma do pessoal lá pros lados da Barra Funda. O encerramento óbvio seria dizer que espero que a década que está por começar seja ainda melhor. Mas esta que acaba agora foi tão boa que, se ela só for igual, eu já me dou por satisfeito.

E vai, Corinthians!

Veja mais em: História do Corinthians.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

Avalie esta coluna
Coluna do Victor Farinelli

Por Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

O que você achou do post do Victor Farinelli?