Só o dinheiro não faz história
Opinião de Victor Farinelli
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O debate que surgiu esta semana no Corinthians é se vale a pena vender o Pedrinho e montar um supertime com a sua suposta venda, ou é melhor deixar ele aqui e fazê-lo liderar uma equipe, como estandarte do time deste ano. Sou a favor da segunda opção.
Nas discussões que tenho acompanhado sobre futebol nos últimos tempos, consigo identificar dois tipos diferentes de ideários.
O primeiro deles é os do que acham que o futebol virou só negócio, “bízniz” como diria Mario Gobbi, a ideia de que vale tudo por dinheiro, e que o dinheiro ganha tudo. Por exemplo, um amigo chegou a dizer que o Bragantino é um dos favoritos pro Paulistão, porque seu nível de investimento é enorme, e não lembro disso pra criticá-lo, porque muita gente pensa como ele. Não o critico, mas sinceramente, não creio que, especialmente no futebol, só a vantagem financeira ganhe títulos, já que abundam exemplos nacionais e mundiais de clubes que perderam tudo gastando muito, e também há os que gastam pouco e ganham seus trofeuzinhos.
Em seu passado recente, o Corinthians pode ser exemplo das duas máximas acima. O clube já teve mega investimentos do Banco Econômico, no final dos Anos 90, e da HMTF no começo dos 2000. Ambos trouxeram títulos, mas também deixaram dívidas enormes para o clube, e terminaram, principalmente, em frustração. Nos dois casos, o Corinthians buscou financiamento para sustentar times capazes de conquistar o título-fetiche da Copa Libertadores, e ele não chegou. E, no caso do HMTF, a situação financeira deixada após a saída dos investidores foi um dos problemas que nos levou à Segunda Divisão, pouco tempo depois.
Porém, também tivemos vários exemplos, nas últimas décadas, de times que conquistaram muito sem tanto investimento. E aí chegamos ao outro ideário que temos em nossos debates futebolísticos, de que o dinheiro não é tudo, e pelo qual eu estou mais inclinado.
Se pegarmos os momentos mais gloriosos do Corinthians neste século atual, a maioria aconteceu em períodos não tão favoráveis economicamente. Por exemplo, os títulos do Paulistão de 2001 e 2003, o Rio São-Paulo e a Copa do Brasil de 2002, tudo isso foi conquistado com os resquícios do acordo do Econômico – cujo financiamento sim nos rendeu 2 Brasileiros, 1 Mundial e o Paulistão das embaixadinhas – e antes da chegada do HMTF – que só nos trouxe o Brasileirão do Tévez, em 2005.
Quando esteve sem tanto dinheiro, o Corinthians parece que soube se virar melhor. Ao menos depois do desastre de 2007.
O time de 2009, por exemplo, tinha pouco investimento, e decidiu fazer um só, jogou todas as fichas no retorno do Ronaldo, como único reforço de uma equipe que acabava de subir pra Primeira Divisão, mas a aposta deu certo. Três anos depois, e ainda sem muitos investimentos, ganhamos finalmente a Copa Libertadores, com um time que começou a temporada, modesto e desacreditado, longe do otimismo de times anteriores, mais caros, mas que terminaram perdendo no final.
Com aquele título e os prêmios que recebemos, voltamos a gastar com mais ousadia. Trouxemos Guerrero, que nos deu o bi mundial, e Renato Augusto, que só daria certo dois anos depois. Mas onde gastamos forte mesmo foi com Alexandre Pato, uma lagoa de dinheiro jogada fora em um sujeito que é mais modelinho de passarela que jogador de futebol.
O supertime de 2015 parece ser um esquadrão, mas quem lembra como começou aquele trabalho recordará que ele era o resquício de um pequeno desmanche ocorrido em maio de 2015 – do qual saíram Guerrero e Émerson Sheik, entre outros.
Em 2017, outro ano de vacas magras, chegamos a ser chamados de “quarta força”, e a razão desse apelido era justamente a incapacidade de trazer reforços de peso.
E finalmente chegamos em 2020. Se compararmos a relação valores e expectativas criadas em janeiro, o time deste ano está melhor que, por exemplo, os de 2009 e 2012, sem falar no de 2017. O problema é que aqueles não tinham uma disparidade tão grande quanto os elencos mais caros do país, como são hoje Flamengo e Palmeiras, que contratam jogadores a preço de ouro para serem reservas. E, claro, isso causa preocupação.
O começo de Tiago Nunes no Corinthians está sendo interessante, mas é evidente que faltam peças para que essa engrenagem funcione como deveria. E acho que, ao menos nos setores de criação e ataque, essa peça é o Pedrinho. Queria muito ver um meio campo com Cantillo, Luan e Pedrinho, unindo precisão nos passes, dribles, velocidade e criatividade. Um time com maior poder letal, aquilo que não tivemos nos últimos três anos, que só seria possível, creio eu, se tivermos essas três peças no time titular.
Vender o Pedrinho agora significa não ter um Pedrinho pra completar essa equipe, e não dá pra se iludir achando que “é só comprar outro no mercado”, não tem outro Pedrinho no mercado.
O Corinthians não vai ficar pra sempre com o Pedrinho. Se ele não sair este ano, sairá no ano que vem. A questão é se ele vai ficar no clube tempo suficiente pra fazer história, e se fizer história, sairá por muito mais grana que essa oferecida pelo Benfica e pelo Borussia Dortmund, o que será muito melhor pra ele mesmo, e pro clube.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.