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Saudade do Corinthians? E daí?
Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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Saudade do Corinthians? E daí?

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Opinião de Victor Farinelli

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Saudade do Corinthians? E daí?

Corinthians não atua desde o dia 15 de março de 2020

Foto: Meu Timão

Vejo muitos amigos reclamando que já estamos há mais de 40 dias sem o Coringão nas nossas vidas. Muitos dizem isso só com a ausência do futebol masculino, mas agora não tem nada mesmo: nem futebol feminino, futsal, basquete, esportes aquáticos, nada. As reprises de partidas gloriosas do passado são um alívio interessante, mas não é a mesma coisa.

Me identifico muito com esse anseio pela volta do Corinthians ao meu, ao nosso cotidiano, e quando o faço, minha primeira reflexão é sobre o que falta para que isso aconteça realmente. O que precisa acontecer para que tenhamos novamente o futebol e os demais esportes, como eram comum até meados de março?

Essa resposta deveria ser menos difícil, mas não é, em um Brasil onde a polarização política é tão forte, que até a morte consegue ser motivo de divisão. Em outros tempos, poderia haver divergências sobre as medidas, mas pelo menos haveria consenso na necessidade de se tomar as medidas que preservam a vida das pessoas até o fim da pandemia.

Mas não é assim no Brasil do “e daí”, e aqui estamos, discutindo se o vírus é mesmo tão poderoso assim, mesmo com quase 500 mortes diárias, que deveriam ser argumento suficiente para acabar com esta “polêmica”.

De onde surgiu o “e daí” também veio a ideia de que o futebol deveria ser retomado, porque “os atletas não correm riscos”. Talvez seja verdade, embora existam casos, como o do argentino Paulo Dybala, atleta da Juventus, jovem, que está com o vírus há mais de 40 dias e seu corpo ainda não foi capaz de se livrar dele.

Ademais, além dos atletas, um evento esportivo reúne muito mais gente. Mesmo que sejam jogos sem público, também há técnicos, equipes técnicas, pessoal que trabalha nos estádios ou centros esportivos, e muitas dessas pessoas podem ser maiores de 60 anos ou portadoras de doenças crônicas que as colocam no grupo de risco.

Eu adoraria ver o Coringão de volta, mas me sentiria uma merda se alguma dessas pessoas se contagiasse ou perdesse a vida em nome dessa minha vontade. Mas talvez estejam certos os que, mesmo diante desse risco, preferem dizer: e daí?

E daí que o Corongão não é um vírus qualquer. Se espalha com muita facilidade, e causa muitíssimo mais estragos que o de uma gripe comum. Além disso, sua rápida propagação faz com que o pior cenário não seja só o do contágio em si, mas sim o de não poder tratar todo mundo. Tem muita gente que está morrendo que poderia ser salva se tivesse tratamento, mas a estrutura de saúde não dá conta de tratar todo mundo.

Até para esse retorno condicionado que eu, você e qualquer corinthiano fanático gostaria que acontecesse colabora para uma maior propagação que leva a essa saturação que é o principal perigo relacionado ao Corongão – e não somente para os pacientes do próprio vírus, pois o colapso dos hospitais também afeta quem sofre de outras doenças, ou acidentes diversos, e que também não terão tratamento se o vírus ocupa quase toda a capacidade hospitalar.

Sou leigo em epidemiologia, por isso leio os que não são, que me dizem que o mundo como conhecíamos já não voltará mais. Mas ainda acho que algumas coisas poderão sim ser retomadas, mas de forma adaptada à nova realidade. Quando superarmos o Corongão, os eventos esportivos certamente voltarão, cedo ou tarde, incluindo os jogos do Coringão, em todos os esportes. Mas será preciso impor novos protocolos de segurança, pelo menos por um tempo, enquanto não houver uma vacina ou uma cura efetivas para vírus.

Para mim, o Corinthians é um prazer que não inclui somente a minha própria paixão pelo clube, mas sim a experiência coletiva. Os títulos que mais comemorei na vida foram o de 1990, porque foi o primeiro que lembro de ter comemorado junto com meu pai, e o de 2017, o primeiro que comemorei junto com meu filho. Também há jogos inesquecíveis com os amigos, sentir a vibração da torcida, da multidão, ser parte de uma massa enlouquecida. Tudo isso espero que possa ser realidade de novo, um dia.

Mas, por enquanto, o melhor que se pode fazer por esse saudosismo é pensar em outra experiência coletiva: a de cuidarmos de todos aqueles que amamos, de pensar nos demais, sejam eles Coringão ou não, e torcer para que essa volta ao cotidiano do esporte possa acontecer o quanto antes, o que só será possível se entendermos, como país, que não adianta forçar uma normalidade que não tem condição de ser.

Fique em casa, o máximo possível. Cuide muito das pessoas que você ama, e de você mesmo. Seja rigoroso com as medidas de higiene e precaução. E, o mais importante, não alimente discursos que não colocam a vida das pessoas como prioridade.

Só então, e depois que todo o país for capaz de aplicar essas regras, poderemos dizer: volta Corinthians!

Veja mais em: Pandemia do coronavírus.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Por Victor Farinelli

Victor Farinelli é um jornalista brasileiro e corinthiano residente no Chile, colabora como correspondente de meios brasileiros como Opera Mundi, Carta Capital, Revista Fórum e Carta Maior.

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