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Uma expulsão épica. E um texto para quem espalmou uma bola e gritou 'Ronaaaaldo!'
Memória Fiel

Nostalgia alvinegra que vai além dos jogos, gols e súmulas. Aqui reviramos os arquivos para reencontrar as várias pequenas histórias e detalhes que formam a gigantesca história do Corinthians.

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Uma expulsão épica. E um texto para quem espalmou uma bola e gritou 'Ronaaaaldo!'

Coluna do Juliano Barreto

Opinião de Memória Fiel

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Figurinha do figura: Ronaldo no auge da popularidade, em 1993

Figurinha do figura: Ronaldo no auge da popularidade, em 1993

Juliano Barreto/Arquivo Pessoal

Já tinha publicado esse texto no saudoso Morfina.com.br, em 2008, e achei por bem tirar a poeira dele, adicionar essa introduçãozinha, e republicá-lo em homenagem aos 30 anos da conquista do Brasileirão de 1990.

Óbvio que o Neto foi a estrela daquela campanha, mas Ronaldo também merece todos os créditos. Ele não era apenas extraordinário tecnicamente, era também o herói da molecada. Meio maluco, tinha seu ritual para benzer as traves, do nada saia jogando com os pés, se adiantava para desarmar adversários com carrinhos nas laterais, dava esculachos memoráveis nos zagueiros, fazia cera em câmera lenta sem vergonha nenhuma...

Em resumo, fazia de tudo para o Corinthians não perder um jogo sequer. Mais do que atleta empenhado, Ronaldo foi um corinthiano apaixonado --e impaciente-- que representou como poucos a torcida em campo.

Não à toa, no recreio de qualquer escola você poderia ouvir um moleque narrando sua própria defesa com uma imitação do José Silvério berrando: “Ronaaaaaaaaaaaaaaaldo!”. Dedico esse post a quem viveu essa época, e principalmente, a quem só conhece o comentarista/humorista da Bandeirantes.

***

O goleiro do Corinthians é o Ronaldo. Para sempre. Ele foi o mais f*da de todos os tempos e ninguém vai superar isso. Não digo isso por causa dos títulos, das defesas e muito menos por causa do cover do Elvis que ele fez. Para mim, o cara é genial simplesmente por causa de uma expulsão numa derrota para o Botafogo em 22 de setembro de 1996.

Naquela tarde, Ronaldo conseguiu manter a dignidade, mesmo quando entrou no gramado do Morumbi (mal) acompanhado por Rodrigo, Gino, André Santos, Sylvinho, Bernardo, Marcelinho Paulista, Jorginho, Marcelinho Carioca, Joel, Ricardo Mendes e Tiba.

O Botafogo era um time decente, com jogadores experientes e defendia o título de campeão Brasileiro. Na Libertadores de 1996, o Corinthians atropelou os caras. Mas isso era o primeiro semestre. Depois de mais uma eliminação traumática, Edmundo foi embora, mas Alexandre Lopes e outras criaturas das trevas ficaram. A situação era muito preocupante.

Nem era preciso jogar para saber o resultado. O Corinthians ia perder. Sem criatividade, sem marcação, o time era uma bagunça e o Botafogo se aproveitou para abrir o placar. Fez 1 a 0 com algum Sérgio Manoel da vida. Depois do gol. a coisa não melhorou em nada para o Timão. Empurrado pela meia dúzia de torcedores que estavam no Morumbi (que passava por reformas na época) o time foi para cima, deixando muito espaço para contra-ataques.

E foi em um desses contra-golpes do Botafogo que o Ronaldo fez seu melhor lance de todos os tempos (na minha opinião). Dois ou três Sérgios Manoéis saíram tabelando desde o meio de campo. Sim, todo jogador do Botafogo parecia o Sérgio Manoel quando você assistia a um jogo nas distantes arquibancadas do Morumbi com o sol na sua cara. Mas, enfim, os Sérgios Manoéis estavam fragilmente marcados e não tiveram dificuldades para ficar frente a frente com o gol. Todo mundo já sabia o que iria acontecer. Um Sérgio Manoel ia tocar para lado e o outro só teria o trabalho de empurrar para o gol. Daí seria 2 a 0 e fim de jogo.

Mas o Ronaldo é f*da. Ele não quis tomar gol. Mais que isso: ele não quis ver o Corinthians tomando um gol. Enquanto os Sérgios Manoeis vinham tabelando, o primeiro e único goleiro-roqueiro saiu correndo. Deu um pique animal, parecia que ia desferir um carrinho criminoso para desmontar o Sérgio Manoel para sempre. Mas não. O meia carioca foi dar de cobertura, e com toda naturalidade do mundo o Ronaldo se esticou e pegou a bola com as duas mãos, como naquele movimento do arqueiro pegando um escanteio mal-batido.

A impávida defesa foi feita fora da área. Foi quase no círculo central para falar a verdade. Então Ronaldo fez outro movimento clássico, aquele da reposição de bola. Mas o chute foi endereçado para as arquibancadas inferiores. Foi um chute com raiva. Foi como dizer foda-se com os pés. Depois de dar a bica, ele se virou de costas, tirou as luvas e caminhou com passos decididos para fora de campo enquanto o juiz mostrava protocolarmente o cartão vermelho.

Na minha cabeça consegui escutar o barulho do velcro da luva descolando. Mesmo com toda a torcida gritando Ronaldo! Ronaldo!Ronaldo!Ronaldo! por muitos minutos seguidos.

Veja mais em: Ronaldo Giovanelli e Campeonato Brasileiro.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.

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Coluna do Juliano Barreto

Por Juliano Barreto

Jornalista, biógrafo, maloqueiro e sofredor. Desde 1993 recorta jornais, revistas e guarda tudo relacionado ao Coringão. Neste blog, vamos tirar a poeira desses arquivos e matar as saudades.

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