Pela primeira vez em pelo menos 80 anos o Corinthians vai ter um presidente exercendo o cargo de maneira inédita e sem uma experiência anterior no comando do futebol, principal esporte do clube do Parque São Jorge. Isso vai acontecer caso ganhe Augusto Melo, candidato da oposição, e também caso ganhe André Luiz Oliveira, nome da situação.

Venho conversando com vários amigos sobre a eleição e, ainda que a maioria aponte preferência por Melo, todos concordam que essa eleição se apresenta diferente das outras. Muitos citaram uma decepção com o debate de domingo, na TV Gazeta, e viram pobreza de ideias. Eu vou mais para o lado histórico: ambos candidatos são "desconhecidos" no geral para o torcedor.

Ainda que tenha sido assessor das categorias de base, Melo nunca teve um cargo de comando central no Corinthians. O mesmo pode se dizer de André, vice-presidente na gestão Roberto de Andrade, mas que sempre foi voltado mais para o social do que para o lado externo. São raríssimos os torcedores que sabem, por exemplo, quem são os vice-presidentes de Duilio Monteiro Alves.

Essa é uma diferença clara de André para os outros membros da Renovação & Transparência, aliás. A chapa, é claro, representa a continuidade da administração atual, mas é a primeira vez que o seu rosto na eleição é alguém que a torcida - ou até mesmo os jogadores - não têm grande familiaridade.

Rodrigo Vessoni/ Meu Timão

A R&T sempre gostou de colocar nomes para o futuro em evidência durante as suas gestões, assim como acontece na política tradicional, para que os quadros ficassem cada vez mais conhecidos pela torcida. André, porém, nunca deu uma entrevista coletiva em nome do Corinthians, por exemplo, mesmo sendo um dos nomes mais influentes do grupo.

Sem terem sido presidentes nem exercido cargos de comando no futebol, departamento que mais dá entrevistas e aparece na imprensa, Augusto Melo e André Luiz se apresentam como um tiro no "escuro" que o Corinthians não dá há muito tempo nas suas eleições.

É a primeira vez na era moderna do clube desde a ascensão de Alfredo Ignacio Trindade, em 1943, que ambos os candidatos apresentam essa "inexperiência". Não há registro, desde a década de 40, de um pleito que não tivesse ao menos um ex-presidente e/ou um ex-diretor de futebol concorrendo - veja a lista abaixo.

Após a primeira década do Corinthians, quando o diálogo apontava pelo representante, o modelo de votação em Conselho se estabeleceu ao final dos anos 20, com variação para pleitos populares durante os anos.

Reprodução/Folha de S. Paulo

A passagem pela diretoria de futebol, aliás, era vista como um estágio para a presidência desde antigamente. Diferentemente do modelo da situação atual, porém, os diretores de futebol costumavam virar oposição dos presidentes após um tempo. Foi assim com Vicente Matheus, Wadih Helu, Alberto Dualib e o próprio Andrés Sanchez.

Isso, é claro, não denota qualquer previsão sobre o futuro do clube ganhe quem ganhar. O Corinthians já teve bons presidentes inexperientes e desconhecidos, assim como teve mandatos ruins de presidentes experientes e conhecidos. Chama a atenção, porém, que não haja essa opção atualmente.

Dono de uma história cíclica, como todo o resto do mundo, o Timão parece atingir um momento de ruptura nessa eleição depois de 16 anos da chapa Renovação & Transparência, mesmo com uma possível vitória do André Luiz.

Vários quadros conhecidos de ambos os lados saíram fora da disputa em um momento no qual o clube encara a trincheira de se manter relevante em campo e saudável financeiramente. Um salto no "escuro" em busca da luz da esperança.

Eleições Corinthians - linha do tempo

• 1948 - Alfredo Ignacio Trindade, vencedor, tinha sido presidente entre 1943 e 1946
• 1948-59 - Alfredo Ignacio Trindade reeleito seguidas vezes
• 1959 - 61 - Vicente Matheus, vencedor, havia sido diretor de futebol na gestão de Trindade
• 1961 - Vicente Matheus concorreu de novo e foi derrotado por Wadih Helu
• 1961-71 - Wadih Helu reeleito em uma série de ocasiões
• 1971-72 - Wadih Helu foi derrotado por Miguel Martinez, vencedor, que havia sido diretor de futebol do clube entre 1954 e 1957
• 1972-81 - Vicente Matheus de novo no cargo
• 1981 - Isidoro Matheus, derrotado por Waldemar Pires na eleição, havia sido vice-presidente de futebol entre 1977 e 79
• 1981-85 - Valdemar Pires reeleito
• 1985-87 - Adilson Monteiro Alves foi derrotado por Roberto Pasqua, ambos haviam sido diretores de futebol em gestões anteriores
• 1987-91 - Vicente Matheus, presidente nas décadas de 50, 60 e 70, de novo no cargo
• 1991 - Antoine Gebran, segundo colocado na eleição, havia sido diretor de futebol na gestão Roberto Pasqua (85-87)
• 1993 - Vicente Matheus, presidente nas décadas de 50, 60, 70 e 80, foi derrotado por Alberto Dualib, seu ex-vice-presidente de futebol
• 1993-2007 - Dualib reeleito em uma série de ocasiões
• 2007-11 - Andrés Sanchez, vencedor, havia sido vice-presidente de futebol (hoje o cargo se chama diretor de futebol) do Corinthians na gestão Dualib
• 2012 - Mário Gobbi, vencedor, foi diretor de futebol do clube no primeiro mandato de Andrés
• 2015 - Roberto de Andrade, vencedor, era o então diretor de futebol e foi presidente quando Andrés saiu para a CBF
• 2018 - Andrés Sanchez, vencedor, de volta ao cargo
• 2020 - Duilio Monteiro Alves, vencedor, era o então diretor de futebol
• 2023 - Candidatos nunca exerceram cargo de presidente ou de comando no futebol no clube

Veja mais em: Eleições no Corinthians, Duílio Monteiro Alves e Diretoria do Corinthians.

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