O efeito que uma publicação tem sobre o Corinthians e a sociedade
Opinião de Giovana Duarte
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Eu poderia iniciar esse texto pedindo para você, que não vê nenhum problema no episódio que envolveu uma resposta de cunho homofóbico na página oficial do Corinthians, não seguir a leitura. Mas pelo contrário, deixo o convite para continuar.
Para efeito de contextualização, na última terça-feira, o Corinthians movimentou sua página no Twitter para interagir com os torcedores. Normal, já fez isso diversas vezes. Até que o responsável pela página respondeu o tweet "Freguês em Itaquera e também no..." com o gif de um panetone.
Sim, nos anos 90, os rivais do São Paulo começaram a chamar o Morumbi de panetone, subentendendo que o estádio seria grande, redondo e cheio de "frutinhas", fazendo uma referência pejorativa aos homossexuais. Entendo que isso era uma "piada" aceita. Mas faz 30 anos. O clube se desculpou e tomou as medidas que considerou cabíveis ao acontecimento. E, em outras oportunidades, já se posicionou contra a homofobia. Mas meu ponto é outro.
Eu sei que, para muitos, é "só uma brincadeira". Essa, inclusive, não foi a primeira vez no ano. Lembra do caso Duílio quando Cantillo pediu a camisa 24? Mas a gente precisa entender o problema em repetirmos preconceitos do passado. Mesmo que pareçam pequenas, essas atitudes cotidianas perpetuam diversos preconceitos - homofobia, racismo, machismo...
Muitas equipes têm manchas em suas histórias. A Lazio, por exemplo, é constantemente associada ao fascismo. Alguns torcedores da equipe italiana reproduzem, até hoje, símbolos e gestos do regime. No Corinthians, assim como em diversos outros clubes, a homofobia acontece naturalmente, por contextos históricos, culturais, ideológicos... E ontem o perfil oficial do Timão validou essa mentalidade com a publicação em questão.
É preciso olhar para frente. A história, o legado, as atitudes de um clube da magnitude do Corinthians serão sempre lembrados. Se hoje o debate existe, imagina em alguns anos. Imagina o quão triste seria ter clube e torcida, que já protagonizaram tantas atitudes bonitas, associados a preconceitos.
Essas coisas são um reflexo do que aprendemos desde pequenos. Está enraizado e, por vezes, nem conseguimos parar para pensar o quão nociva essas atitudes podem ser. O quanto antes isso for travado, será melhor para nós, como torcedores e sociedade.
Não estou aqui para apontar dedos para a torcida. Até porque, sejamos sinceros, a torcida é o que tem mantido o futebol vivo ultimamente. E poucas coisas são tão fortes quanto a paixão de torcedores para despertar a sociedade. Deixo aqui um lembrete: o Corinthians esteve à frente do seu tempo com a Democracia Corinthiana, um movimento que até hoje é lembrado e inspira dentro e fora de campo. Imagina ser mais um exemplo positivo.
Quero ressaltar que também não achei certa a resposta do São Paulo. Não é uma competição. Ao meu ver, foi uma publicação para "sair por cima", que não complementa o debate, não ajuda na luta contra o preconceito e nem impede que o lado de lá reproduza falas como essas.
Por fim, também entendo que o corinthiano é, constantemente, taxado de termos como "favelado", "analfabeto", e outras expressões classicistas. Mas é aquela famosa história: um preconceito não pode ser justificativa para outro.
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Timão.
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